Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O Ministério Público da Coreia do Sul revelou neste sábado (28/12) que o presidente afastado Yoon Suk Yeol, do Partido do Poder Popular, de extrema direita, estava determinado a atentar contra a vida dos parlamentares que ingressaram na Assembleia Nacional, em Seul, para barrar a lei marcial, em 3 de dezembro.

“Custe o que custar, arrombem a porta [da Assembleia] e retirem [os legisladores], mesmo que seja atirando neles”, teria ordenado o mandatário ao ex-comandante da Defesa, Lee Jin Woo, que liderava as forças militares na ocasião, de acordo com um relatório divulgado pela promotoria. “Mesmo que [a lei marcial] seja barrada [por uma resolução no Parlamento], continuem realizando seus trabalhos porque eu posso declarar a lei marcial nem que seja por uma segunda ou terceira vez”, acrescentou.

À medida que as articulações do governo começam a ser reveladas, figuras próximas ao presidente afastado, incluindo generais militares e ministros, passam a ser investigadas e enviadas a julgamento.

Na última sexta-feira (27/12), a Sede de Investigação Especial sobre a Lei Marcial de Emergência do Ministério Público prendeu e indiciou o ex-ministro da Defesa Kim Yong Hyun, principal suspeito de ter sugerido a decretação da medida inconstitucional a Yoon. As acusações incluem a promoção de uma “guerra civil”, abuso de poder e obstrução ao exercício de direitos.

“O presidente vem discutindo a lei marcial com Kim Yong Hyun e outros há muito tempo”, disse o Ministério Público. A medida foi debatida “pelo menos desde março e, a partir do começo de novembro, ambos têm colocado as ideias em prática”.

O relatório revela que Yoon havia pedido conselhos a Kim, em sua residência presidencial, em Yongsan, Seul, em 1º de dezembro, sobre “como mobilizar as tropas” após a imposição da lei marcial. Em resposta, o ex-ministro da Defesa teria dito que “se apenas um pequeno número de pessoas for enviado, cerca de 3 mil a 5 mil forças especiais e de defesa, será possível [o golpe]”.

Gabinete da Presidência da Coreia do Sul
Presidente afastado da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, do Partido do Poder Popular, de extrema direita

Pontos-chave do relatório

Segundo a promotoria, Yoon teria ligado “várias vezes” ao ex-comandante responsável pela implementação da lei marcial, Park An Soo, ordenando-o a avisar “Cho Ji Ho sobre a decretação”, ou seja, visando aumentar a presença da polícia no Parlamento. Preso em 13 de dezembro, Cho Ji Ho era o comissário da Agência Nacional de Polícia que foi acusado de mobilizar as forças policiais para impedir a entrada dos membros da Assembleia no plenário durante a tentativa de golpe de Estado, na noite de 3 de dezembro.

“O presidente ligou várias vezes para o ex-comissário da Agência Nacional de Polícia, Cho, desde o momento em que o decreto foi emitido até a Assembleia Nacional aprovar a resolução solicitando o bloqueio da lei marcial e disse: ‘Comissário Cho, prenda todos os membros da Assembleia Nacional que estão tentando entrar na Assembleia Nacional. É ilegal. Todos os membros da Assembleia Nacional estão violando o decreto’”, disse o Ministério Público.

Em relação à entrada de militares no Parlamento, a promotoria disse que “o presidente ligou diretamente para o ex-comandante da Defesa, Lee Jin Woo, e instruiu: ‘Vá para o plenário logo e faça com que quatro [militares] carreguem uma pessoa de cada vez’, ‘Custe o que custar, arrombem a porta [da Assembleia] e retirem [os legisladores], mesmo que seja atirando neles’”.

De acordo com o relatório, às 01h03, quando o decreto já havia sido derrubado por decisão da Assembleia, Yoon ainda teria insistido em tentar impor uma segunda lei marcial, ferindo a constitucionalidade da decisão dos legisladores.

“O presidente ligou para o ex-comandante Lee e disse: ‘Mesmo que [a lei marcial] seja barrada [por uma resolução no Parlamento], continuem realizando as suas operações porque eu posso declarar a lei marcial nem que seja por uma segunda ou terceira vez’”, revelou a promotoria.

O presidente afastado também teria ordenado ao ex-chefe do Comando de Antiespionagem de Defesa, o general Kwak Jong Geun, para que “as tropas corressem rapidamente para a Assembleia Nacional” para “retirar tudo (legisladores) de dentro” antes da votação começar.