Coreia do Sul: ex-presidente atacou Norte na espera de retaliação, aponta investigação
Promotores obtiveram áudios em que Yoon Suk Yeol ordenava militares a lançar drones contra Pyongyang para validar decreto de lei marcial
Promotores sul-coreanos, que investigam o ex-presidente Yoon Suk Yeol, obtiveram gravações de áudio secretas que revelaram que o então mandatário de extrema direita ordenou os militares a lançar drones contra a capital Pyongyang, na Coreia do Norte, dois meses antes da decretação da lei marcial.
Nesta quarta-feira (09/07), o político destituído do cargo presidencial por determinação unânime da Corte Constitucional, em abril, compareceu ao Tribunal Distrital de Seul para uma audiência que dá seguimento à análise de sua prisão por acusações sobre crimes de insurreição e abuso de poder durante a tentativa fracassada de golpe, em 3 de dezembro de 2024.
Em caso de emissão de mandado, se tratará da segunda vez que o ex-presidente será colocado sob custódia. A primeira vez foi em janeiro, quando ele ainda estava no cargo, ainda que afastado.
Em março, o mesmo tribunal havia revogado o mandado de prisão de Yoon. A equipe jurídica do ultradireitista argumentou que o indiciamento de seu cliente ocorreu em 26 de janeiro, ou seja, um dia após o término de seu período legal de detenção e que, portanto, sua continuidade deveria ser considerada inválida.
Em meio às recentes investigações, analistas ouvidos pela imprensa local avaliaram que as ordens presidenciais datadas em outubro de 2024 tinham a intenção de fomentar o conflito com o país vizinho, provocar uma reação bélica e, desta forma, servir de justificativa para validar a lei marcial. No entanto, o líder norte-coreano Kim Jong Un não teria reagido da forma esperada.
Em seu anúncio de dezembro, o ex-presidente sul-coreano associou a lei marcial à necessidade de proteger o país de “forças comunistas norte-coreanas” e “antiestatais”, contudo, sem detalhar quais ameaças eram estas. Nem mesmo a Coreia do Norte respondeu de imediato ao discurso de Yoon, que somente dias depois disse que o governo de extrema direita cometia uma “ditadura fascista”.

Ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol comparece à audiência no Ministério Público de Seul
Reprodução/Joint Press Corps
Sabotagem à imprensa internacional
Yoon também tentou enganar a imprensa internacional ao alegar que a decretação da lei marcial era legalizada pela Constituição sul-coreana. De acordo com um documento apresentado pelos investigadores, o fracasso da lei marcial, barrada pelos parlamentares em sessão emergencial, provocou uma repercussão global, obrigando o ex-mandatário a realizar uma ligação ao então secretário presidencial de Relações Públicas estrangeiras, Ha Tae Won.
Informa o texto que Yoon teria supostamente ordenado Ha a redigir e distribuir um relatório de orientação de cobertura aos meios de comunicação internacionais retratando a lei marcial na Coreia do Sul como constitucionalmente fundamentada e legalizada.
Os jornalistas da mídia estrangeira que cobriram o cenário político sul-coreano na ocasião, incluindo AP, AFP, ABC, CNN, The New York Times e Washington Post, confirmaram o recebimento do documento, conforme relatos obtidos pelo portal The Korea Times.
A estratégia de Yoon também acabou no fracasso, conforme a reportagem de Opera Mundi, que acompanhou os protestos diários que se seguiram no país contra a permanência do governo de extrema direita.























