China retoma exportação de chips após negociação do governo Lula

A China informou as montadoras automotivas brasileiras que a importação de chips essenciais para a produção do setor será retomada. O anúncio ocorre após o diálogo do governo brasileiro com Pequim.

A intermediação de Brasília foi necessária após o governo holandês assumir o controle da fabricante de chips Nexperia, alegando preocupações com a propriedade intelectual. A empresa é sediada na Holanda, mas é controlada por um consórcio chinês. Após a decisão, a China passou a restringir a exportação de chips e semicondutores para diversos países.

“Na sexta-feira (7/11), as fabricantes de veículos começaram a ser avisadas pelos fornecedores de que a autorização para importação de chips está sendo retomada aos poucos”, informou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, ao jornal Metrópoles.

De acordo com a nota da associação, que está envolvida no diálogo entre Brasília e Pequim, o risco de paralisação das nossas fábricas diminuiu com o anúncio.

Na análise do representante, dois fatores contribuíram para a decisão chinesa: o fato de que há empresas que operam no Brasil e têm fábrica em solo chinês e uma licença especial concedida por Pequim às empresas brasileiras.

A concessão especial às empresas brasileiras foi concedida pelo governo chinês há cerca de uma semana, no âmbito das negociações entre os dois países, segundo a Folha de S. Paulo. No diálogo com a Embaixada da China, o vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin, pediu prioridade no fornecimento dos chips às empresas brasileiras.

Trata-se de uma excelente notícia”, comemorou Alckmin na ocasião. “A cadeia automotiva emprega 1,3 milhão de pessoas e tem impacto direto em outros setores, como siderúrgico, químico, plástico e borracha. Demos um passo importante para que a indústria automotiva brasileira continue crescendo e gerando empregos de qualidade”, acrescentou.

Por fim, Calvet sinalizou melhora na situação, mas alertou que ainda não foi normalizada e que a indústria não será afetada apenas caso não ocorram novas interrupções nas importações.

No Brasil, o setor automotivo corresponde a 20% da indústria de transformação, e sua paralisação pode impactar diretamente 130 mil empregos e indiretamente 1,3 milhão de empregos no país.

Brasil negociou com China para que impase geopolítico não prejudicasse indústria automotiva no Brasil 
Ricardo Stuckert / PR

Contexto

As negociações entre os dois países foram lideradas pelo vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin para evitar o desabastecimento de chips necessários à produção da indústria automotiva no Brasil.

O cenário é um reflexo das disputas internacionais em torno da fabricação de semicondutores, envolvendo China e EUA.

Em meio ao impasse, Alckmin ouviu as demandas do setor automotivo e, em seguida, contatou o embaixador chinês no Brasil e o embaixador brasileiro na China para excluir o país do embargo comercial de microchips.

Na ocasião, o secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços, Uallace Moreira afirmou que Brasília insistiu em abrir o diálogo com o governo chinês para “deixar claro que o Brasil está fora desse conflito de natureza geopolítica”.

“É importante ressaltar que a crise é de natureza geopolítica internacional, de uma interferência por parte do governo holandês em uma empresa chinesa operando na Holanda, e isso tem uma possibilidade de impactar na oferta de semicondutores para o setor automotivo. Essa empresa corresponde a 40% do mercado mundial desse tipo de semicondutores, desse tipo de chip, que é ofertado para carros flex”, completou.

Moreira justificou o diálogo com Pequim ao explicar sobre a dificuldade de substituição de fornecedores de semicondutores:

“Você não consegue substituir um fornecedor de um dia para o outro. E, dependendo do nanômetro, do tamanho desse chip, da função desse chip, nenhum outro país no mundo vai produzir isso num prazo extremamente curto para você resolver o problema de uma demanda de um país como o nosso”, acrescentou.

(*) Com Agência Brasil