Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A China revelou novas e amplas restrições às suas exportações de terras raras e outros materiais estratégicos, enquanto Pequim se movimenta para reforçar sua influência na guerra comercial antes de uma reunião de alto risco neste mês entre Donald Trump e Xi Jinping. As informações são da Bloomberg News.

Exportadores estrangeiros de produtos que utilizem traços de determinadas terras raras provenientes da China agora precisarão de uma licença de exportação, informou o Ministério do Comércio em comunicado divulgado na quinta-feira (09/10), citando motivos de segurança nacional. Certos equipamentos e tecnologias para o processamento de terras raras e a fabricação de ímãs também estarão sujeitos a controles adicionais, segundo uma nota separada.

Embora ainda não esteja claro como o governo chinês pretende aplicar as novas regras, elas representam uma escalada na estratégia de Pequim para exercer controle extraterritorial sobre seus produtos. As restrições refletem o próprio regime de exportação dos Estados Unidos, que impede empresas chinesas de acessar chips avançados e as ferramentas necessárias para produzi-los.

Posteriormente, o ministério anunciou planos para expandir os controles de exportação para uma série de outros itens, com vigência a partir de 8 de novembro. Entre os produtos recentemente incluídos estão cinco novas terras raras — hólmio, európio, itérbio, túlio e érbio — além de determinadas baterias de íons de lítio, ânodos de grafite, diamantes sintéticos e alguns equipamentos utilizados na fabricação desses materiais.

As medidas ocorrem em um momento em que os presidentes dos EUA e da China se preparam para uma cúpula na Coreia do Sul, destinada a selar um possível acordo comercial entre as maiores economias do planeta. Pequim estaria oferecendo um pacote expressivo de investimentos nas negociações, segundo fontes familiarizadas com o tema, além de demonstrar sua força comercial.

A China tem usado seu domínio sobre o setor de terras raras — responsável por cerca de 70% da oferta global — como instrumento de pressão nas conversas comerciais. Esses minerais possuem ampla aplicação e são essenciais para indústrias de alta tecnologia, como semicondutores e automóveis, bem como para o setor de defesa. O país também tem reduzido a importação de soja norte-americana nos últimos meses, buscando fortalecer sua posição.

“Isso visa aumentar as apostas e demonstrar que a China tem poder de influência e cartas na manga”, afirmou Dylan Loh, professor associado da Universidade Tecnológica de Nanyang. “O objetivo é colocá-los na posição mais forte possível nas negociações comerciais com os EUA.”

Exportadores estrangeiros precisarão de uma licença de exportação, e certos equipamentos e tecnologias para processamento de terras raras também estarão sujeitos a controles

Exportadores estrangeiros precisarão de uma licença de exportação, e certos equipamentos e tecnologias para processamento de terras raras também estarão sujeitos a controles
Official White House / Shealah Craighead

Caso sejam aplicadas, as novas restrições podem comprometer os esforços do governo Trump — e de administrações da Europa à Austrália — para reduzir a dependência de ímãs chineses por meio da construção de cadeias de suprimentos próprias, que ainda dependem fortemente das matérias-primas e do processamento realizados pela China.

A empresa australiana Lynas Rare Earths Ltd., que já possui plantas de processamento na Malásia e na Austrália, registrou alta de 6% em suas ações com a notícia e acumula valorização superior a 220% neste ano, à medida que investidores buscam lucrar com a instabilidade do mercado provocada pelo controle mais rigoroso de Pequim.

O governo chinês também parece mirar o setor de semicondutores norte-americano com suas recentes restrições, afirmando que alguns produtos de terras raras usados em pesquisas e no desenvolvimento de certos chips de computador passarão a ser analisados caso a caso. As exportações de elementos destinados a estudos de inteligência artificial com potencial uso militar também serão afetadas, conforme o Ministério do Comércio.

“A ameaça implícita é que Pequim poderia limitar as exportações de terras raras para fabricantes de chips, em retaliação aos controles estrangeiros sobre as vendas de semicondutores para a China”, observou Christopher Beddor, vice-diretor de pesquisa sobre o país na consultoria Gavekal Dragonomics.

A Nvidia Corp. preferiu não comentar o assunto. A Apple Inc. não respondeu imediatamente a um pedido de esclarecimento enviado por e-mail fora do horário comercial. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), principal fabricante de chips, também não respondeu até o momento.

Dias antes, Washington havia ampliado seus controles de sanções, atingindo um número maior de companhias chinesas e restringindo ainda mais o acesso do país à tecnologia norte-americana de ponta. Em resposta, Pequim adicionou 14 organizações estrangeiras — incluindo a BAE Systems — à sua lista de entidades não confiáveis, alegando razões de segurança nacional.

As exportações chinesas de produtos de terras raras, incluindo ímãs, haviam se recuperado nos últimos meses, após ameaças anteriores de Pequim de causar uma escassez global como forma de pressionar os EUA. No entanto, o Ministério do Comércio afirmou que algumas organizações estrangeiras continuaram permitindo o envio de remessas a empresas em áreas sensíveis, como defesa, contrariando o sistema de licenças criado para impedir essa prática. “Essas ações tiveram impacto negativo sobre a paz e a estabilidade internacionais”, destacou o órgão.

As novas regulamentações podem gerar insegurança entre empresas que haviam se recuperado dessas interrupções e lançar dúvidas sobre os próprios investimentos do governo norte-americano. O Departamento de Defesa dos EUA anunciou, neste ano, um aporte de US$ 400 milhões na MP Materials Corp. para financiar uma nova e importante fábrica de ímãs de terras raras.

“São as picaretas e pás que preocupam muitos”, afirmou Wade Senti, presidente da Advanced Magnet Lab Inc., empresa que produz ímãs nos Estados Unidos. “Quem compra equipamentos da China pode não recebê-los — o que já ocorreu antes — e, se possui tecnologia ou maquinário chineses, pode não ter suas solicitações de manutenção atendidas.”