Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O comandante das atividades militares dos Estados Unidos na América Latina, Alvin Holsey, deixará o cargo no fim deste ano, conforme anunciou o secretário de Defesa, Pete Hegseth, na quinta-feira (16/10), porém, sem explicar a razão. O almirante de quatro estrelas havia assumido as funções do Southcom (Comando Sul, em português) em julho de 2024. Tradicionalmente, o cargo expira em três anos.

Em um comunicado publicado na plataforma X, Holsey não explicou o motivo do afastamento, apenas garantiu que a equipe do Comando Sul continuará contribuindo para a defesa nacional.

A saída antecipada ocorre em meio à crise entre Washington e Caracas. De acordo com fontes consultadas pelo jornal norte-americano The New York Times, o principal chefe militar na região “levantou preocupações” sobre os recentes ataques do Pentágono a navios no Mar do Caribe que, segundo o órgão, tratavam-se de embarcações venezuelanas que supostamente carregavam drogas para os EUA. O veículo também ouviu outras autoridades da pasta de Defesa e do Capitólio, que afirmaram que a demissão escancara “tensões políticas reais em relação à Venezuela que o almirante e seu chefe civil estavam tentando encobrir”.

Na quarta-feira (15/10), o presidente dos EUA, Donald Trump, autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA, acrônimo em inglês) a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, visando a derrubada do governo de Nicolás Maduro. Sob a acusação infundada de que Caracas está ligada ao Tren de Aragua, um cartel de traficantes, a Casa Branca concedeu à CIA poder de atuar com autonomia em território venezuelano, em coordenação com operações militares de larga escala. O poder de declarar guerra, no entanto, é exclusivo do Congresso, o que requer apoio do Partido Democrata.

A medida do mandatário norte-americano foi rechaçada pelos governos regionais, incluindo o brasileiro. Lideranças da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, assim como o próprio Partido dos Trabalhadores (PT), manifestaram-se contra a violação da soberania da Venezuela.

Segundo o assessor presidencial Celso Amorim, é “inconcebível um ataque militar ou uma ação secreta para derrubar um governo”. Além disso, comentou que o “Brasil é contra o uso da força e de operações secretas”, garantindo que o país segue a política não intervencionista, em respeito ao direito internacional. Em nota, a Comissão Executiva Nacional do PT condenou veementemente a “iniciativa inaceitável e deplorável” de Trump, classificando-a como “uma afronta à soberania do país sul-americano e uma violação do Direito Internacional”.

Chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, Alvin Holsey, pede demissão antes de completar três anos no cargo
U.S. Southern Command

Quando iniciou seu segundo mandato na Casa Branca, Trump equiparou, em decreto, cartéis a grupos terroristas e, se esquivando da necessidade de autorizações congressuais, mobilizou uma força militar de larga escala no Caribe. Desde o início de setembro, os EUA mobilizaram cerca de 10 mil soldados na região, a maioria deles em bases em Porto Rico. Destacou também cerca de 2.2 mil fuzileiros navais, além de enviar um submarino com capacidade nuclear, caças F-35 e aeronaves com tecnologia de reconhecimento. Até o momento, as forças armadas norte-americanas atacaram pelo menos cinco barcos na costa venezuelana, matando 27 pessoas.

De acordo com The New York Times, o almirante Holsey, que é negro, torna-se “o mais recente de mais de uma dúzia de líderes militares, muitos deles pessoas de cor e mulheres, que deixaram seus empregos este ano”. Detalha, no entanto, que a maioria foi demitida por decisão de Hegseth, o que não se aplica no caso de Holsey.

Há duas semanas, o secretário de Defesa, que se alinha firmemente às políticas trumpistas, convocou uma reunião inédita na Base do Corpo de Fuzileiros Navais de Quantico, no norte da Virgínia, onde orientou todos os generais e almirantes nacionais a se enquadrarem às diretrizes da Casa Branca.