Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O jornal norte-americano The New York Times apontou, nesta quinta-feira (25/09), que a candidatura do político muçulmano Zohran Mamdani à Prefeitura de Nova York está levando a comunidade sul-asiática da cidade a emergir como “uma força política”.

Segundo o periódico, a “campanha promissora” do candidato do Partido Democrata, que nasceu em em Kampala, na Uganda, e migrou para os EUA com sete anos de idade, tem “inspirado” o grupo, crescente na cidade, a ser mais ativo na política.

Nova York abriga 450 mil imigrantes muçulmanos, sikhs e hindus, correspondendo a 5% da população da cidade. Vindas de diversas partes da Ásia, famílias constroem suas vidas, comércios, restaurantes e templos nos bairros de Jamaica e Richmond Hill, no distrito do Queens.

O alto fluxo migratório levou a região a ser reconhecida como com uma Pequena Punjab — termo utilizado para referir-se a áreas com grande concentração da comunidade do estado indiano de Punjab.

Apesar de fazer parte da sociedade novaiorquina, a maioria da comunidade sul-asiática não estava envolvida na política regional, em especial porque muitos de seus cidadãos não atingiam a idade mínima de 18 anos para votar.

Essa realidade fazia com que, geralmente, a comunidade sul-asiática fosse a menor parcela de eleitores em disputas políticas em comparação com outros grupos étnicos. Contudo, muita coisa mudou até a candidatura de Mamdani, que é deputado estadual pelo Queens, “começar a pegar fogo”.

Mamdani, que é definido pelo NYT como “um socialista democrata, que continua a abraçar visões de esquerda que se tornaram menos populares entre os eleitores de Nova Iorque”, venceu o primeiro turno das primárias democratas para a Prefeitura de Nova York em junho passado entre 11 candidatos.

Segundo o jornal norte-americano, o resultado foi impulsionado justamente pela participação da comunidade sul-asiática nas primárias. De acordo com uma análise do NYT, a participação dos eleitores do sul da Ásia aumentou 40% em comparação com as primárias de 2021.

A participação foi possível porque milhares desses eleitores se registraram pela primeira vez justamente neste ciclo eleitoral, resultado do trabalho de organizações e da própria campanha que contataram mais de um terço da comunidade antes das primárias de junho.

“O Sr. Mamdani tem sido visto em alguns círculos como um candidato cujo caminho para a vitória dependeu em grande parte de uma base eleitoral jovem e branca. Mas seu apoio entre os sul-asiáticos ressalta como o alcance de sua campanha junto às bases e os relacionamentos de longa data nessas comunidades lhe permitiram expandir drasticamente o eleitorado”, analisou o periódico.

O jornal afirmou que “sempre pareceu implausível que um candidato pudesse unir as vastas comunidades sul-asiáticas da cidade”, lembrando da diversidade de países, idiomas e religiões que compõem a comunidade.

Em entrevista ao NYT, Sonny Singh, músico do Brooklyn cuja família é de Pune, na Índia, declarou que “nunca viu tanta energia em torno de um candidato a prefeito”.

“Grupos que historicamente eram menos propensos a se envolver eleitoralmente estão se mobilizando”, declarou o também voluntário na campanha de Mamdani.

Se eleito em 4 de novembro, Mamdani “será o primeiro prefeito sul-asiático e muçulmano de Nova York”.
Zohran Kwame Mamdani/X

Já Ramesh Kilawan, de família indo-caribenha, que é um democrata registrado e sempre vota nos candidatos do partido, relatou que “estava preparado” para votar no ex-governador de Nova York Andrew M. Cuomo nas primárias democratas, mas mudou de ideia após conversar com um representante da campanha de Mamdani.

Segundo o funcionário que trabalha há mais de 30 anos na Autoridade de Transporte Metropolitano (MTA, na sigla em inglês), as propostas do político em relação à creche e transporte público gratuito chamaram sua atenção.

Para o NYT, a simpatia dos eleitores sul-asiáticos a Mamdani ocorrem em um momento em que a comunidade, “como quase todos os outros grupos demográficos”, estava mostrando “sinais de uma guinada para a direita”.

De acordo com uma pesquisa da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, em 2024, mais indianos-americanos apontaram seus votos para republicanos do que em 2020. Cenário similar se repetiu nas eleições presidenciais de 2024, na qual o então candidato republicano Donald Trump obteve vitória em bairros predominantemente asiáticos no Queens.

Causa palestina

Mamdani também é conhecido por posições pró-Palestina e contrárias ao genocídio perpetrado pelo governo israelense de Benjamin Netanyahu contra a Faixa de Gaza.

Na análise do NYT, suas “críticas insistentes à conduta de Israel em Gaza têm sido mais uma força galvanizadora neste eleitorado, num momento em que a maioria dos eleitores do Partido Democrata afirma simpatizar mais com os palestinos do que com os israelenses”.

Grande parte da comunidade sul-asiática diz “discordar veementemente do uso de dinheiro público para financiar armas para Israel”.

“É um quadro bastante claro. O dinheiro dos impostos está indo para Israel na forma de armas para bombardear e matar crianças”, disse Aadit Siwakoti, organizador nepalês da organização DRUM – Desis Rising Up & Moving.
Nem todos foram conquistados

Apesar da influência de Mamdani na comunidade sul-asiática em Nova York, nem todos foram conquistados. O NYT apontou os eventos de comemoração da independência da Índia e do Paquistão, realizados nos últimos dias, como prova.

No mesmo final de semana em que Mamdani referiu-se ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, como “criminoso de guerra”, o que o jornal identificou como “um delicado ato de equilíbrio”, comemorou com indianos no Queens e com paquistaneses no Brooklyn.

Por outro lado, não compareceu à Parada do Dia da Índia em Manhattan, o maior evento do Dia da Independência. Já o atual prefeito de Nova York, Eric Adams, esteve presente na parada.

Mousume Sarker, uma mulher de 54 anos, rejeita as propostas de Mamdani e suas críticas a Modi. Segundo ela, os comentários são motivados por sentimentos anti-hindus. Já o deputado defendeu seu posicionamento de acordo com sua “crença nos direitos humanos universais”.

De todo modo, a maior parte da comunidade hindu em Nova York não apoia Mamdani para as eleições da Prefeitura.

Contudo, o NYT concluiu que Mamdani “impulsionou uma narrativa política diferente na cidade de Nova York, que se concentra em uma luta coletiva contra questões de acessibilidade e desigualdade”, tornando-se favorito na corrida pela Prefeitura. Se eleito em 4 de novembro, “será o primeiro prefeito sul-asiático e muçulmano de Nova York”.

Apoio de Kamala Harris

A ex-vice-presidente e candidata presidencial pelo Partido Democrata em 2024, Kamala Harris, disse “estar animada” com a campanha de Mamdani justamente porque sua candidatura “estava unindo as pessoas”.

Na última quarta-feira (24/09), os políticos mantiveram uma conversa telefônica por cerca de 10 minutos. “Fiquei animado quando a [ex] vice-presidente me procurou para uma conversa na qual reiterou seu apoio à minha candidatura, e compartilhei minha gratidão”, disse o candidato, segundo o NYT.

“Você está atraindo pessoas e mostrando que há vozes que querem ser ouvidas, que se sentiram excluídas e agora fazem parte do que você está fazendo”, disse Harris, que é filha de mãe indiana e pai jamaicano, a Mamdani.

Mamdani relatou terem discutido sua agenda de propostas e que Harris lhe ofereceu apoio tanto na campanha quanto durante seu possível governo, caso ganhe o pleito.

“Ela mencionou a maneira como nossa candidatura fez com que mais nova-iorquinos se reconhecessem em nossa política”, disse o candidato, segundo o jornal norte-americano.

Já o ex-governador de Nova York e atual candidato à Prefeitura também pelo Partido Democrata, Andrew Cuomo, disse que “apoios não são importantes na disputa” ao comentar as declarações de Harris.