Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

As eleições regionais no Iraque, realizadas no dia 31 de janeiro, revelaram possíveis tendências para os próximos quatro anos na política do país, deixando nos analistas a impressão de terem sido mais seculares que as de 2005. A influência religiosa parece ter sido menor.

Leia também:

Minorias votam nos partidos curdos

A síria Rime Allaf, especialista em Iraque do instituto Chatam House, de Londres, disse que muitos eleitores não basearam o voto em princípios religiosos. “Mais pessoas querem tomar medidas contra o que elas temem ser a volta de lideranças religiosas. As minorias pensam ‘nós tivemos Saddam por 40 anos, e agora nós temos os xiitas’ e querem se precaver. Forças políticas muito poderosas estão tomando forma no Iraque, muitas delas associadas ao primeiro ministro, e os partidos no poder parecem estar ganhando força. Creio que poderemos enxergar uma tendência a partir das eleições para o parlamento em dezembro”.

O norte-americano Joel Wing, pesquisador e editor do blog Musings on Iraq, acredita que as divisões políticas e étnicas estejam se tornando mais importantes do que as essencialmente religiosas.

“Sunitas votaram em partidos sunitas, xiitas em partidos xiitas e curdos em curdos. As divisões ainda existem, mas agora elas são políticas. No entanto, as campanhas que funcionaram não se focaram nisso, e sim nas necessidades do país. Agora que a segurança melhorou, as pessoas querem empregos, serviços, um governo melhor, desenvolvimento para o país, liderança. Não ter milícias e insurgentes lutando é ótimo, mas após alguns meses nem mesmo isso será bom se as pessoas não tiverem empregos, dinheiro, eletricidade etc”, explicou ao Opera Mundi.

Faltam limites

Apesar do otimismo com a secularidade das eleições, revelado em diversas reportagens e análises veiculadas pela imprensa no mundo todo, o processo democrático no Iraque ainda tem falhas graves, de acordo com Wing, que aponta dois problemas principais. Um deles é a falta de leis que equilibrem ou limitem o poder.

“O Parlamento e os Conselhos das Províncias não têm como parar o primeiro-ministro, e isso é um problema muito grave, porque pode levar o Iraque a se tornar cada vez mais autocrático. [Nouri al-] Maliki [o premiê] tomou várias decisões contra a vontade dos conselhos, como a formação de conselhos tribais e se livrar de inspetores gerais, e não há nada a ser feito. A única limitação real é o direito do Parlamento de remover o primeiro-ministro após lhe darem um voto de desconfiança”, explica o pesquisador.

A segunda falha, segundo ele, é o fato de um país estrangeiro, os Estados Unidos, terem um papel muito forte na decisão sobre quem será eleito. “Ele colocou no poder o primeiro governante depois da guerra, Iyad Allawi, e após a primeira rodada de votações em 2005, ajudou a tirar do poder o primeiro-ministro eleito, Ibrahim al-Jaafari, por acreditar que era muito sectário. Maliki enfrentou três votações do Parlamento para retirá-lo do cargo, mas permaneceu no poder porque os EUA fizeram um forte lobby”.

Nos Estados Unidos, exemplifica Joel Wing, toda vez que o Iraque vai às urnas, as pessoas elogiam. “Mas só o voto não faz uma democracia. O Egito, por exemplo, tem eleições, mas isso não afeta em nada a forma como o presidente [Hosni] Mubarak governa. Isso também poderia acontecer no Iraque”.

Vitória do governo

Os partidos ligados ao governo receberam um grande número de votos nas eleições. A Coalizão do Estado de Direito, do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, teria saído vitoriosa em nove de 14 províncias. O resultado, embora ainda não esteja na página da Comissão Eleitoral Independente do Iraque, já foi divulgado por alguns veículos de comunicação.

Confira os resultados parciais.

Cai influência da religião sobre eleitores iraquianos, dizem analistas

NULL

NULL

NULL