Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

Após o governo de Burkina Faso recusar a proposta de Donald Trump de receber imigrantes deportados vindos dos Estados Unidos, Washington suspendeu a emissão de vistos para o país da África Ocidental.

A decisão foi anunciada pela embaixada dos Estados Unidos em Ouagadougou, na última quinta-feira (09/10), em seu site oficial. O ministro das Relações Exteriores do país do Sahel, Karamoko Jean-Marie Traoré, classificou o anúncio como uma forma de “chantagem”.

Um dia antes, o chanceler havia se reunido com os norte-americanos, onde recusou, por mais uma vez, segundo ele, a oferta para receber deportados.

Durante entrevista concedida à emissora estatal RTB, na noite de quinta-feira, o ministro Traoré declarou: “Isso é uma forma de nos pressionar? É chantagem? Seja o que for… Burkina Faso é um lugar de dignidade, um destino, não um local de expulsão”.

A suspensão temporária vale para a emissão de vistos de imigrante, turista, estudante e negócios. A partir de agora, os cidadãos do país deverão se deslocar até a capital do Togo, Lomé, para solicitar vistos norte-americanos.

O comunicado do Departamento de Estado dos EUA afirma que Burkina Faso não teria respeitado as regras de visto norte-americano e por isso foi incluído na lista de países com restrições de entrada ao país. 

De acordo com Washington, “os requerentes de visto afetados foram informados sobre o cancelamento das marcações”.

Jean-Marie Traoré explicou que a última investida de Trump para tentar enviar os imigrantes para Burkina Faso foi feita durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Ouagadougou, no entanto, manteve a recusa.

O ministro chamou a proposta de “indecente” e “contrária ao valor da dignidade” defendido pelo presidente do país, o capitão Ibrahim Traoré, um dos líderes da Aliança dos Estados do Sahel (AES). 

“Burkina Faso não pode ser um destino de deportação”, afirmou o ministro, acrescentando que a hospitalidade burkinabé com o africanos não pode ser “uma oportunidade para um país terceiro se livrar de populações que considera indesejáveis”.

Jean Marie Traoré, ministro das Relações Exteriores de Burkina Faso, durante uma reunião bilateral na 67ª Conferência Geral da AIEA
Dean Calma/IAEA

Deportação para países africanos

A busca por países africanos como destino para deportar imigrantes tem sido uma marca da  administração de Donald Trump. Nos últimos meses, vários países do continente, entre eles Essuatíni, Gana, Ruanda e Sudão do Sul, aceitaram receber pessoas de outros países deportadas dos Estados Unidos.

Na última segunda-feira (06/10), Essuatíni acolheu dez deportados, somando-se a outro grupo anterior de cinco pessoas que, de acordo com o governo norte-americano, eram “criminosos graves”. A Nigéria, por sua vez, declarou que não aceitará nenhum deportado vindo dos Estados Unidos.

“Sabemos que Essuatíni recebeu US$ 5 milhões e Ruanda US$ 7,5 milhões dos Estados Unidos para receber migrantes deportados pelo governo do presidente Trump. No entanto, aqui as coisas não funcionam da mesma forma e não aceitaremos dinheiro para receber pessoas acorrentadas e submetidas a condições desumanas. Não há muito mais a dizer sobre isso”, declarou o presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré.

Nos últimos anos, levantes militares com apoio popular em três países da região africana do Sahel — Burkina Faso, Níger e Mali — iniciaram um processo de ruptura com o Ocidente e principalmente com a antiga colonizadora da região, a França. Ao reacender a confiança no pan-africanismo de Thomas Sankara, Ibrahim Traoré é hoje um símbolo deste processo revolucionário.