Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, defendeu o papel do BRICS como alicerce para uma nova ordem mundial multilateral. A fala ocorreu em entrevista concedida ao jornalista Breno Altman no programa 20 Minutos, na manhã desta sexta-feira (11/07).

O ex-chanceler destacou o potencial transformador do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul na construção de um sistema global mais equilibrado e representativo. “O BRICS é o novo nome do multilateralismo”, afirmou. Para Amorim, o grupo é essencial para contrabalançar o domínio do G7 e ampliar a representatividade de países do Sul Global.

Veja a entrevista na íntegra:

“O BRICS é o novo nome do multilateralismo. É o BRICS que faz com que a gente possa ter esperança de ter um mundo realmente multilateral. […] O grupo pode dar força ao G20. Mas é isso, se nós não fizermos isso eles ficam só com o G7 e aí eles convidam quem interessa no momento”, disse.

Segundo Amorim, o BRICS tem uma presença e força importantes nesse fortalecimento de uma nova ordem, de ser “mais equilibrado e representar no cenário internacional”.

Questionado se as ausências dos líderes chinês e russo, Xi Jinping e Vladimir Putin, respectivamente, deram prejuízo à 17ª Cúpula do grupo que aconteceu no Rio de Janeiro, Amorim disse que o governo Lula gostaria da presença de ambos, mas falou que o encontro foi “ladeado” por outros chefes de Estados presentes.

“Curiosamente, isso serviu para transmitir uma mensagem de que não se trata de um bloco dominado por Rússia ou China. A reunião foi um grande êxito”, destacou.

‘É difícil encontrar lógica ou raciocínio em Trump’

Amorim criticou a política internacional conduzida pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. Segundo ele, com o atual presidente norte-americano, é “muito difícil tentar encontrar qualquer lógica ou raciocínio que identifique causa e efeito de maneira clara”.

Para o diplomata, a decisão de sobretaxar os produtos brasileiros parece uma mistura de tentativa de reafirmar a hegemonia dos EUA no hemisfério com interesses econômicos mal articulados, inclusive com consequências negativas para o próprio mercado norte-americano, como no caso da Embraer, que importa componentes dos EUA.

celso amorim

Celso Amorim conversou com Breno Altman nesta sexta-feira
World Economic Forum / Annette Boutellier

O assessor defendeu que, caso a medida seja concretizada, o Brasil poderá acionar a Lei da Reciprocidade Comercial, inclusive atingindo setores sensíveis como propriedade intelectual e audiovisual. “Se tiver que retaliar, temos que atingir onde dói mais”, ponderou.

Romper relações com Israel

Durante entrevista ao Breno Altman, Amorim foi questionado sobre as relações do Brasil com o Estado de Israel diante do genocídio contra o povo palestino. O diplomata reconheceu a gravidade da situação, mas defendeu que a ruptura diplomática não seria o melhor caminho.

Segundo ele, a manutenção de canais formais é necessária inclusive para proteger cidadãos brasileiros que vivem em Israel, assim como para possibilitar ações diplomáticas que possam beneficiar também os palestinos. Amorim destacou que o governo brasileiro já adotou medidas relevantes em protesto à atuação israelense, como a retirada do embaixador do Brasil em Tel Aviv e a não concessão de agrément a um novo representante de Israel em Brasília.

“São passos politicamente importantes”, afirmou, lembrando ainda que o Brasil suspendeu a compra de obuseiros israelenses.

Ao ser perguntado se, fora do governo, apoiaria um boicote comercial total ao Estado de Israel, Amorim respondeu: “se eu não estivesse no governo, teria assinado aquele manifesto dos professores da USP [que defende o boicote].” Com tom crítico, mas pragmático, ele deixou claro que a posição brasileira é de firme oposição às ações do governo israelense contra os palestinos, mas sem abandonar a diplomacia.