Brasil prepara ‘contramedidas econômicas’ caso Trump retalie possível condenação de Bolsonaro
Fonte diz que eventuais sanções econômicas serão respondidas com base na lei da reciprocidade e consultas com setor produtivo; secretário do MDIC, Uallace Moreira reitera abertura à negociação ‘sem abrir mão da soberania’
A preparação do Brasil contra possíveis novos ataques do presidente norte-americano Donald Trump “já estava em curso” antes mesmo do início do julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, que tem nesta quarta-feira (10/09) mais uma jornada de audiências, para que os ministros da primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF) apresentem seus votos.
Segundo uma fonte do governo consultada por Opera Mundi, em meio ao fracasso do diálogo com os Estados Unidos, a articulação da “lei da reciprocidade” foi passo inicial.
“Nós estávamos fazendo um processo institucional por intermédio da lei da reciprocidade para eventualmente ter ferramentas e, se necessário, utilizá-las. As contramedidas econômicas. Se necessário, utilizá-las depois de consultas, inclusive com o setor produtivo”, disse o funcionário.
A fonte acrescentou que “a lei da reciprocidade vai permitir, caso haja ou a continuação ou a intensificação de sanções econômicas, que o Brasil aplique contramedidas”.
Embora no âmbito econômico, haja uma disposição brasileira de “sentar para negociar” com Washington, o funcionário reiterou à reportagem que em hipótese alguma o governo de Luiz Inácio Lula da Silva deixará que a soberania seja negociada: “isso está fora da mesa de negociação”.
“A ideia efetivamente do Trump, como ele já disse, para que o julgamento do ex-presidente [Jair Bolsonaro] seja interrompido imediatamente, não ocorreu, e não vai ocorrer, inclusive o julgamento está se encaminhando para o seu final”, destacou, acrescentando, desse modo, que a Presidência e a equipe econômica estão “sempre dispostos” à negociação econômica.
Os ministérios das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) brasileiros não se manifestam sobre cenários hipotéticos. O julgamento do núcleo crucial da trama golpista ainda segue em curso e um ataque adicional de Trump a depender do resultado do processo é ainda incerto, mesmo que na terça-feira (09/09) a Casa Branca tenha cogitado o uso do “poderio econômico e militar” contra o Brasil.

Governo do Brasil ressalta que soberania não será negociada
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Alternativas comerciais
O secretário do ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Uallace Moreira, relatou a Opera Mundi que a pasta “acompanha com atenção todos os movimentos da política norte-americana, ouvindo permanentemente o setor produtivo, realizando estudos e propondo soluções a partir de situações concretas”.
No caso de um arrefecimento nas relações com os Estados Unidos, o secretário destacou, entre os setores mais vulneráveis, os de máquinas, equipamentos, autopeças e insumos industriais, uma vez que estes destinam mais de 20% de sua produção ao país norte-americano, tendo especificações que só atendem ao mercado de lá.
Contudo, Moreira mencionou alternativas como a China, que tem uma participação muito relevante na balança comercial nacional, chegando a se consolidar como o maior parceiro do Brasil nessa categoria. Há, além disso, outros parceiros “igualmente importantes”, como a União Europeia, a Índia, a Argentina, o México e o Canadá, entre outros.
“Como tem repetido o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin, o Brasil não é problema para os Estados Unidos. Por parte do atual governo norte-americano, há uma questão de natureza política interferindo nas relações comerciais e uma tentativa indevida de interferência em nossa democracia e em nossas instituições. Da parte do Brasil, o vice-presidente tem reiterado nossa disposição em negociar questões comerciais, porém, sem abrir mão de nossa soberania”, concluiu.























