Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Em entrevista ao Jornal Nacional na noite desta quinta-feira (10/07), o presidente Lula reagiu com firmeza às novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Lula alertou que, caso não haja acordo, o governo brasileiro aplicará tarifas equivalentes a partir de 1º de agosto, com base na Lei da Reciprocidade.

“Um governo não pode admitir a ingerência de um país na soberania de outro. E mais grave: a intromissão de um presidente de um país no Poder Judiciário do meu país”, afirmou. Ele contestou a justificativa econômica apresentada por Trump para a elevação das tarifas: “é inverossímil o fato pelo qual se aumentou a tarifa. O presidente Trump deve estar muito mal informado, porque nos últimos 15 anos o déficit para o Brasil é de R$ 410 bilhões entre comércio e tarifas”.

Lula garantiu que buscará solução através de canais multilaterais. “O Brasil utilizará a Lei da Reciprocidade quando necessário e o Brasil vai tentar, junto com a OMC e outros países, fazer com que a OMC tome uma posição para saber quem é que está certo ou que está errado”, disse.

“Se não houver solução, nós vamos entrar com a reciprocidade já a partir de 1º de agosto, quando ele começa a taxar o Brasil (…) Não queremos brigar com ninguém. Nós queremos negociar e que seja respeitada as decisões brasileiras”, reiterou, ao afirmar que se Trump ficar “brincando de taxação”, ela será infinita.

Em entrevista ao JN, presidente afirmou que irá pressionar posicionamento da OMC e conversar com empresariado brasileiro
Joédson Alves/Agência Brasil

O presidente garantiu que irá “reunir todos os empresários que têm exportação para os Estados Unidos, sobretudo aqueles que têm maior volume de exportação – suco de laranja, aço, a Embraer – para conversar para ver qual é a situação deles”. Ele disse esperar apoio dos empresários brasileiros.

“Se existe algum empresário que acha que o governo brasileiro tem que ceder e fazer tudo que o presidente do outro país quer, sinceramente, esse cidadão não tem nenhum orgulho de ser brasileiro”, afirmou.

BRICS

Lula refutou que suas declarações na Cúpula dos BRICS tenham motivado a ação de Trump. Ele destacou que o BRICS, um fórum que representa metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial, trabalha em prol do sul global. “Nós cansamos de ser subordinado ao norte. Nós queremos ter independência nas nossas políticas, queremos fazer comércio mais livre.”

Sobre as iniciativas de integração econômica entre os países do sul global, reiterou a possibilidade de ter uma moeda própria, “ou quem sabe com as moedas de cada país a gente fazer comércio sem precisar usar o dólar. Porque nós não temos a máquina de rodar dólar, só os Estados Unidos que têm.”

Lula também rebateu as críticas sobre a visita à ex-presidenta argentina Cristina Kirchner, alegando que teve autorização da Justiça argentina para vê-la. “Eu só fui lá porque a Justiça argentina decidiu que eu fosse visitar, atendendo um pedido da própria Cristina. Eu fui fazer uma visita humanitária”, explicou.

Respeito às leis

Lula afirmou que nunca se preocupou que Trump recebesse o ex-presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos. “É direito de cada presidente fazer o que quiser. O que não é direito é um presidente querer dar palpite na decisão de Justiça de um país. Aqui no Brasil, a nossa Justiça tem autonomia. O Poder Judiciário é um poder autônomo, como é o Legislativo. Aqui a gente obedece regras”, disse.

Ele reforçou a crítica à tentativa de Trump de influenciar no processo judicial de Bolsonaro. “O que o presidente Trump tem que saber é que se aqui no Brasil ele tivesse feito o que ele fez nos Estados Unidos com as eleições, ele também estaria sendo processado, estaria sendo julgado. E, se fosse culpado, ele seria preso”.

“É assim que funciona a lei para todo mundo. Ou seja, nós precisamos aprender a respeitar. Você nunca viu me meter em uma decisão de Justiça americana. Nunca viu. E o que eu espero é reciprocidade, que ele também não se meta nos problemas brasileiros”, disse.