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Atualizada às 10h11, 12 de setembro de 2025

Jornais de todo o mundo seguem repercutindo nesta sexta-feira (12/09) a condenação e o sentenciamento do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (2019-2023). No dia anterior, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o seu papel na liderança de uma tentativa de golpe de Estado, juntamente com outros sete aliados que tiveram cumplicidade no esquema criminoso. Foram quatro votos à favor da condenação, enquanto uma contrária – de Luiz Fux.

Nesta manhã, o canal de televisão chinês CGTN deu ênfase ao fato de que a condenação “pode enfurecer ainda mais o aliado próximo de Bolsonaro”, ou seja, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que, após a decisão tomada pelo Judiciário brasileiro, chamou o veredicto de “uma coisa terrível” em fala à imprensa. Além disso, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, assegurou em suas redes sociais que Washington “responderá em conformidade com a caça às bruxas”. O Brasil já é alvo de um tarifaço de 50% sob seus produtos e a maioria dos juízes da Corte estão sancionados.

Chamou a atenção também para o voto de absolvição do ministro Luiz Fux, o único da Primeira Turma do STF que quis livrar o ex-presidente de todas as acusações, questionando a jurisdição do tribunal.

“Esse único voto pode abrir caminho para contestações à decisão, o que pode aproximar a conclusão do julgamento da eleição presidencial de outubro de 2026. Bolsonaro disse repetidamente que será candidato nessa eleição, apesar de ter sido impedido de concorrer ao cargo”, escreveu o CGTN.

Nesta sexta-feira, o período argentino Página 12 destacou as próximas etapas a serem enfrentadas pela família Bolsonaro. Após a determinação da sentença, o veículo citou que o senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente condenado, “expressou indignação” e que se recusou a aceitar a decisão do STF. Alertou também que ele e seu irmão, Eduardo – que tem apoiado as sanções norte-americanas contra o Brasil –, começaram uma nova campanha em redes sociais para denunciar suposta perseguição judicial.

“A conspiração começou em junho de 2021, pouco mais de um ano antes das eleições e quando Lula começava a se afastar nas pesquisas. A trama foi desenvolvida em diferentes fases e começou com uma dura campanha de descrédito das instituições e do sistema eleitoral do país liderada pelo próprio Bolsonaro, segundo a acusação”, explicou o jornal argentino. “A conspiração passou das palavras aos atos após Lula vencer as eleições de outubro de 2022, com intensos protestos, ataques frustrados pela polícia e acampamentos nos portões do quartel em que milhares de bolsonaristas exigiram que o Exército impedisse a investidura de Lula”.

Ex-presidente Jair Bolsonaro é condenado a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado
Sergio Lima/Getty Images

“Um passo transcendental contra a impunidade”: foi assim que o jornal espanhol El País descreveu o feito brasileiro de quinta-feira, assim que os magistrados formaram maioria pela condenação de Bolsonaro e dos oficiais militares. Destacou que, em meio a tempos sombrios para a democracia global, o Brasil “envia uma mensagem poderosa ao resto do mundo com o veredicto: a justiça pode punir aqueles que minam a ordem constitucional e as instituições por dentro”.

O periódico deu ênfase que, apesar da “formidável pressão de Donald Trump”, que em meio às audiências tem ameaçado o uso de poder militar e econômico para atacar o Brasil, “o julgamento continuou”.

“Foi condenado por liderar um plano golpista para não entregar o poder a seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de perder as eleições em 2022”, escreveu.

O El País ainda destacou que sua condenação terá “enormes efeitos na corrida presidencial de 2026”, uma vez que a probabilidade é de que Bolsonaro decida quem será o candidato de extrema direita a disputar pela vaga do Executivo contra o atual presidente Lula.

“O risco de fuga e a violação de diversas medidas cautelares levaram o juiz Moraes a confinar Bolsonaro, confiscar seu passaporte e colocar uma tornozeleira eletrônica nele em julho e a retirar seu passaporte em 2024. O brasileiro cogitou pedir asilo na Argentina”, lembrou.

Em relação à reação norte-americana, o jornal avaliou que para Trump, o processo contra Bolsonaro “nada mais é do que uma perseguição política grosseira, uma caça às bruxas como a que ele acredita ter sofrido nos Estados Unidos”.

“E ele trabalhou duro para neutralizar o julgamento. Ele puniu o Brasil com tarifas e sancionou vários juízes. Especificamente, congelou os eventuais ativos de Moraes nos Estados Unidos e retirou os vistos de todos os membros da Suprema Corte, exceto três: os dois nomeados pelo chamado Trump dos trópicos e aquele que votou por sua absolvição”, disse.

O norte-americano The Washington Post chegou a mencionar “um complô que incluía planos para assassinar” o atual presidente Lula, em um caso que “abalou esta jovem democracia e prejudicou suas relações com o presidente Donald Trump”.

Por sua vez, o britânico The Guardian afirmou que o Judiciário brasileiro deixou o “populista de extrema direita enfrentando uma sentença de décadas por liderar a conspiração criminosa”. 

“A euforia progressiva com a queda de um presidente culpado pela destruição desenfreada do meio ambiente, centenas de milhares de mortes por Covid e ataques a minorias, foi temperada pela percepção de que seu movimento político permanece muito vivo”, escreve o jornal, acrescentando que há questionamentos em relação ao ministro Luiz Fux, que se opôs à condenação de Bolsonaro, sobre se o caso possa “abrir a porta para contestações legais e até mesmo a anulação do julgamento no futuro”.

Bolsonaro foi “acusado de supervisionar uma vasta conspiração”, segundo o jornal norte-americano The New York Times, que acrescentou que o esquema incluía “planos para anular a votação e assassinar o vencedor da eleição, Luiz Inácio Lula da Silva”, antes de assumir o Executivo.

De acordo com o periódico, a condenação desta quinta-feira marca “um momento crucial em um julgamento de um mês que testou a maior democracia da América Latina, dominou as manchetes no país e no exterior e lançou dúvidas sobre o futuro legal e político da figura de direita mais poderosa do Brasil”.

Ao noticiar os 27 anos e três meses de sentença, o jornal francês Le Monde, tratou o julgamento de quinta-feira como “histórico”. Em sua matéria, reproduziu uma declaração proferida pelo ex-presidente, em 2021: “Para o meu futuro, tenho três opções: prisão, morte ou vitória. Quero dizer aos canalhas que nunca serei preso”. O período destacou que, entretanto, a “história provou o contrário”.

O veículo russo RT destacou que as deliberações do STF têm sido motivo de protestos por parte dos apoiadores de Bolsonaro, associando esse comportamento à transmissão “praticamente ao vivo da mídia”.

“Se a sentença for apelada e sua tramitação for prolongada, o desfecho do caso poderá se aproximar das eleições presidenciais de 2026, nas quais Bolsonaro insiste que concorrerá como candidato”, acrescentou.