Boric anuncia reforma constitucional para mobilizar forças armadas
Sem aprovação do Congresso chileno, governo garante que a mudança incorpora novas ferramentas para o controle imigratório nas fronteiras
O presidente chileno, Gabriel Boric, anunciou a apresentação de um projeto de reforma constitucional que busca autorizar o poder executivo a enviar as Forças Armadas (FFAA) para a fronteira por decreto supremo, sem a necessidade de o Congresso renovar a autorização a cada três meses.
Especialistas apontam que a medida, anunciada em Tarapacá, busca neutralizar o discurso da direita sobre segurança, mas pode gerar atritos dentro da própria coalizão governista.
O anúncio foi feito pelo chefe de Estado durante uma visita à comuna de Colchane, na região norte de Tarapacá. Boric confirmou que o projeto de reforma constitucional visa “permitir, por decreto supremo e pelo tempo que for necessário, o envio de nossas Forças Armadas para a fronteira “, medida que atualmente requer aprovação expressa do Congresso Nacional.
Essa proposta foi interpretada por analistas como uma jogada política ousada do presidente para desafiar setores de direita no debate sobre segurança , uma questão que havia se tornado uma das principais preocupações dos cidadãos e ofuscava a atual agenda da campanha.
No entanto, essa estratégia acarreta riscos internos significativos para o partido no poder. O analista Marcelo Mella alertou que, embora o anúncio “possa neutralizar momentaneamente a direita “, também pode “erodir a coerência interna da coalizão governista “, apontando diretamente para o potencial desconforto que geraria em sua ala progressista, particularmente no Partido Comunista e em sua candidata, Jeannette Jara.

O presidente Gabriel Boric anunciou uma reforma constitucional para permitir o deslocamento militar na fronteira por decreto supremo
Ricardo Stuckert / PR
A analista de segurança Ana Vanessa Cárdenas acredita que a proposta do presidente Boric reflete sua intenção de “encerrar seu mandato com anúncios significativos” na área de segurança. Segundo Cárdenas, esta é uma questão que o presidente busca abordar de forma decisiva antes do fim de seu mandato.
A medida busca simplificar os mecanismos de presença militar em zonas de conflito, como a fronteira norte, onde a migração irregular é usada pela oposição para criticar a gestão do governo. O objetivo é garantir que a presença das Forças Armadas possa ser realizada de forma ágil, sem depender do cronograma do Poder Legislativo.
Essa ação ressalta a importância que o Executivo atribuiu à segurança na fase final de seu mandato, reconhecendo a necessidade de responder com clareza às demandas populares, mesmo ao custo de gerar tensões com setores historicamente críticos ao uso de forças militares em tarefas de segurança interna.
(*) com TeleSUR























