'Bolsonaro não tinha preparo para governar o país', afirma general Santos Cruz
General da reserva ocupou cargo na gestão bolsonarista, mas avalia que o ex-presidente 'não tinha conhecimento para a função'; veja entrevista na íntegra
“O ex-presidente Bolsonaro, ele ganhou a eleição, mas, infelizmente, pela minha convivência, ele não estava preparado e não tinha conhecimento para para função”, disse o general Santos Cruz, que foi chefe da Secretaria de Governo entre janeiro e junho de 2019.
General da reserva, Santos Cruz disse durante o programa 20 MINUTOS desta quarta-feira (27/08) que a gestão de Jair Bolsonaro foi um “desperdício”.
“Ele é uma pessoa que se dedicou mais a coisas espetaculares, com declarações bombásticas, brigas e atritos com a imprensa. Não é assim que se governa. Ele não estava preparado e não tinha conhecimento para a função. Você tem que manter a tranquilidade social, a união do país e um bom ambiente de trabalho com empresariado. Você não pode ficar brigando com a imprensa. Mas essa coisa espetacular, ela cativa um bocado de gente e ele aproveitou essa oportunidade para governar”, explicou ao jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman.
O general foi afastado do cargo por Bolsonaro ao ser alvo da chamada ala ideológica do então governo direitista. Desde então, ele é crítico em relação à gestão, ao ex-presidente e até das Forças Armadas serem utilizadas para fins políticos.
Nesse sentido, afirmou que Bolsonaro deveria ter reconhecido a derrota em 2022 e liderar a oposição para se candidatar na próxima eleição e tentar ganhar. “Você não tinha planejamento mirabolante, acampamento na frente do quartel, você não tinha 8 de janeiro, você não tinha nada. Ele é o grande responsável, o presidente da República não pode tolerar a bagunça social”.
“Quando teve a reeleição, o Bolsonaro perdeu e perdeu mesmo. Isso é claro. Até a pessoa mais bolsonarista sabe que foi ele quem fez besteira e perdeu. Você não pode ter um presidente em que num momento de crise que morre um monte de gente dizer que ‘eu não sou coveiro’. É obrigação do presidente manter a paz social”, disse Santos Cruz.
Para ele, as falas do ex-presidente sobre fraude eleitoral não se sustenta, já que “não houve providência nenhuma, dessa forma, é preciso ter a prova ou responder o inquérito”.

Para o general da reserva, gestão de Jair Bolsonaro foi um ‘desperdício’
Miguel Ângelo/CNI
Artigo 142 da Constituição
Ao ser questionado sobre ser favorável ou não à reforma do Artigo 142 da Constituição brasileira, para deixar claro que o único papel das Forças Armadas é a defesa do país, o general disse ser contra, pois, para ele, “não tem problema nenhum do jeito que está”.
A Carta Magna estabelece: “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.
Questionado se o artigo permite a possibilidade das Forças Armadas intervirem na vida política do país, o general disse que não: “teve gente que chegou a dizer que era poder moderador. Da onde? Não é poder moderador coisa nenhuma, o artigo não tem problema nenhum, o problema são as interpretações”. Apesar da necessidade de mudança para evitar problemas de interpretação, Santos Cruz afirmou que “não é necessário”.
Em outro momento, ele também declarou que as Forças Armadas não devem pedir desculpas ao povo brasileiro por conta do golpe militar de 1964. “Eu acho que não. Eu acho que que existia um ambiente internacional, e foi normal naquela época um encanto de algumas pessoas por pelo movimento internacional. A ideia era de que através da luta você poderia tomar o poder e corrigir algumas coisas sociais. Então, houve conflito histórico. Esse negócio de pedir desculpa, eu acho que não é o caso que desculpa. Não acho impossível também”, conclui.
Política externa brasileira
Em relação à articulação do bolsonarismo com o governo republicano de Donald Trump, Santos Cruz considera “absurdo” a interferência da Casa Branca no judiciário brasileiro. “Você vai para outro país para conseguir alterar uma decisão judiciária. Se o juiz disser que tá certo ou que tá errado, vamos fazer a nossa briga por aqui, né? Faz o que bem entender, mas não solicita uma interferência dessas”.
E acrescentou: “o problema é você aceitar uma vinculação de problema tarifário com uma decisão pessoal. Isso aí não é da justiça, é um negócio inaceitável. Então, o que nós estamos assistindo é um absurdo, simplesmente absurdo”.























