Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi preso preventivamente neste sábado (22/11) “sob suspeita de fuga”, poucos antes de iniciar sua sentençã de 27 anos por tentativa de golpe de Estado, escreveu o jornal britânico The Guardian.

O periódico detalhou que a medida, ordenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi executada “após temores de que o ex-presidente de extrema-direita estivesse prestes a buscar refúgio em uma embaixada estrangeira para evitar a prisão”.

Segundo o texto, o ministro Alexandre de Moraes exigiu a prisão preventiva de Bolsonaro porque o ex-presidente poderia “tentar se refugiar em um dos muitos complexos diplomáticos de Brasília para evitar punição pela tentativa fracassada de tomada de poder”.

Com base nas declarações de Moraes, a publicação afirmou que uma das opções de Bolsonaro poderia ser a embaixada dos Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, é “um de seus principais aliados internacionais”.

O Guardian ainda resgatou o histórico de Bolsonaro em relação a solicitações de ajuda a embaixadas. Em agosto passado, o político foi acusado de buscar asilo na Argentina, país presidido por Javier Milei, e em 2024 “passou misteriosamente duas noites na embaixada da Hungria”.

Outro argumento usado por Moraes e citado pelo jornal britânico foi a tentativa de Bolsonaro em romper a tornozeleira eletrônica que estava usando em prisão domiciliar na madrugada deste sábado, em meio a planos de uma vigília de apoiadores.

“Isso sugere que o condenado planejou romper a tornozeleira para garantir o sucesso de sua fuga, aproveitando-se da confusão causada pelo protesto convocado por seu filho”, escreveu o Guardian, mais uma vez citando Moraes.

A publicação mencionou também que a prisão preventiva em decorrência de temores de fuga ocorre “sobre a iminente prisão de Bolsonaro” na Papuda, complexo de detenção máxima em Brasília

Alto risco de fuga após condenação

Toda a imprensa internacional está repercutindo o ocorrido. Como o Guardian, o francês Le Monde afirmou que o ex-presidente do Brasil apresentava “um alto risco de fuga”.

Ao citar a decisão de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o jornal escreveu que a prisão preventiva foi determinada porque Bolsonaro “sabia há dias que enfrentaria prisão iminente para começar a cumprir sua pena”.

Com base nas declarações de Moraes, o periódico também lembrou que, apesar de estar em prisão domiciliar desde agosto, Bolsonaro “tentou romper a tornozeleira eletrônica que o monitorava, na esperança de escapar durante uma manifestação planejada por seus apoiadores perto de sua residência”.

A publicação não deixou de detalhar os motivos da condenação de Bolsonaro. “O ex-chefe de Estado de extrema-direita foi considerado culpado em setembro de liderar uma “organização criminosa” que conspirou para garantir sua “manutenção autoritária do poder” após a vitória de seu rival Lula”.

O texto ainda incluiu a intenção do plano em assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o juiz do STF Alexandre de Moraes.

Guardian afirmou que Bolsonaro poderia solicitar asilo em embaixada dos EUA
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Condenado por tentar minar a maior democracia da América Latina

Já o norte-americano Washington Post noticiou o caso afirmando que Bolsonaro, classificado como “populista de direita e alidado de Trump”, “foi preso em meio a temores de distúrbios públicos”.

Segundo o WP, citando a decisão do STF, a vigília de apoiadores na madrugada deste sábado “poderia “causar sérios danos à ordem pública”, potencialmente impedindo a prisão de Bolsonaro quando seus recursos forem esgotados, ou até mesmo possibilitando “a fuga do ex-presidente”.

Com base em declarações de um agente da Polícia Federal, o WP informou que Bolsonaro “foi levado para a sede da Polícia Federal em Brasília, onde ficará detido em uma cela especial preparada para ele — equipada com cama, mesa e banheiro privativo”.

O WP também lembrou que o plano de golpe de Estado, motivo pelo qual Bolsonaro foi inicialmente condenado, envolvia o assassinato do presidente Lula. Com a condenação, “se tornou o primeiro ex-presidente condenado por tentar minar a maior democracia da América Latina”.

Ao mencionar a investigação do STF contra Bolsonaro como motivo que levou Trump a promover tarifas contra produtos brasileiros exportados para os EUA, o WP lembrou de outras sanções usadas pelo norte-americano, como a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes.

Por fim, o jornal lembrou que Bolsonaro está inelegível até 2030 “por disseminar informações falsas para minar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro” e resgatou uma entrevista que o ex-presidente concedeu ao periódico em maio passado. Na ocasião, declarou que “ir para a prisão seria o fim de sua vida”.

Condenado por tumulto similar ao 6 de janeiro nos EUA

O jornal catari Al Jazeera noticiou que Bolsonaro foi preso “dias antes do início de sua sentença de 27 anos de prisão”. A notícia foi baseada no comunicado da Polícia Federal, que não mencionou Bolsonaro na operação de prisão preventiva.

Ao explicar o plano golpista de Bolsonaro, a Al Jazeera lembrou os ataques de seus apoiadores na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. “O movimento levou multidões de manifestantes a invadirem prédios do governo uma semana após a posse de Lula, evocando comparações com os tumultos de 6 de janeiro no Capitólio dos Estados Unidos, depois que seu aliado próximo, o presidente Donald Trump, perdeu a eleição de 2020 para Joe Biden”.

O periódico ainda trouxe declarações anteriores de Trump sobre as investigações contra Bolsonaro. O republicano chegou a definir o processo como “caça às bruxas” e motivação para o tarifaço dos EUA contra o Brasil.

Contudo, a publicação também lembrou que o presidente Lula e Trump se encontraram na cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Kuala Lumpur, Malásia, e passaram a negociar a questão tarifária.

Medida cautelar

A agência russa RT noticiou a prisão preventiva ao explicar que ainda “não se trata do cumprimento de uma sentença relacionada à tentativa de golpe, mas sim de uma medida cautelar”.

“O ex-presidente foi transferido para a sede da Polícia Federal, onde permanecerá em uma cela especial, espaço reservado para autoridades como presidentes da República e outras figuras públicas de alto escalão”, detalhou a publicação.

Comparação com Ramagem e Zambelli

O português Diário de Notícias também resgatou a decisão de Moraes sobre as possibilidades de fuga de Bolsonaro. O periódico mencionou o caso de Alexandre Ramagem, deputado federal (PL-RJ) e também condenado por golpe de Estado, que foi para Flórida, nos EUA, nesta última semana.

O texto ainda menciona o caso de Carla Zambelli (PL-SP), “deputada bolsonarista condenada em outro caso, que escapou para Itália”.

Jornais como o venezuelano TeleSUR, o argentino Pagina12 e o espanhol El País também repercutiram a decisão do STF contra Bolsonaro neste sábado.