Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Atualização às 11h

A população da Bolívia vai às urnas neste domingo (17/08) para eleger um novo presidente, senadores e deputados. Com as seções eleitorais abertas às 8h (9h no horário de Brasília), a jornalista Claudia Espinoza afirma que “o panorama é muito complexo”. 

“Em La Paz, a poucos dias da eleição, ainda há falta de combustível e alimentos. A inflação sobe constantemente e as pessoas não conseguem levar comida para seus lares. É uma situação que afeta muito as pessoas, em especial as famílias mais pobres. Assim chegamos nessa eleição que funciona como uma salvação para o governo do presidente Luis Arce, para que não haja uma explosão social”, relata. 

Segundo Espinoza, “esse é o reflexo de uma crise multidimensional: política, econômica, social, jurídica e cultural, de diversos fatores que atuaram nos últimos anos”. 

Racha entre Arce e Morales no MAS

Falando sobre a divisão no Movimento ao Socialismo (MAS), entre Arce e o ex-presidente Evo Morales (2006-2019), que levou ao impedimento de uma candidatura do líder indígena e ao partido não ter um candidato de destaque, Espinoza afirma que a crise não é de agora, mas é consequência de “um manuseio muito forte do Sistema Judiciário nos últimos anos”. 

“Esse é o principal fator que levou o MAS até essa crise, e partiu do governo Arce — que aos poucos, mas de maneira muito escalonada, impediu Morales de participar dessas eleições. Foram abertos 14 processos judiciais contra ele, e nenhum foi esclarecido até agora. Todos os órgãos judiciais estavam nas mãos do Poder Executivo. A rede de corrupção do governo em todos os níveis do Judiciário foi o que realmente impediu Morales de participar desse pleito”, explicou. 

Na análise da jornalista, a perseguição do governo Arce contra Morales e seus seguidores “foi levada aos extremos para encobrir a crise econômica” de sua administração. 

Possível vitória da direita

Ao comentar sobre as pesquisas eleitorais, que apontam o encerramento deste primeiro turno com dois candidatos da direita para disputar a segunda volta: o ex-presidente conservador Jorge “Tuto” Quiroga e o ex-empresário Samuel Doria Medina, Espinoza avalia que”o mais provável” é a derrota do MAS.

“O maior partido da história da Bolívia, acima de tudo em democracia, pode desaparecer deste cenário político”, analisou a jornalista. 

Além dos votos favoráveis à direita, Espinoza lembra que Morales tem incentivado sua base apoiadora ao voto nulo como forma de protesto contra seu impedimento de disputar o pleito. Também menciona uma certa parte de votos para o candidato independente da esquerda, o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, por sua possibilidade de representar uma “renovação no sistema político, a possibilidade de manter os benefícios sociais, a soberania do país sobre os recursos naturais, e todas as conquistas que foram obtidas durante os governos MAS”.

Por outro lado, Rodríguez “não teve a importância esperada porque os tempos políticos foram contra sua candidatura”, além do governo Arce ter o excluído da carreira eleitoral, e de seu perfil jovem que “não teve habilidades para impor uma nova liderança”. 

Em um balanço geral de todas as candidaturas, Espinoza afirma que o cenário é incerto porque “nenhum dos candidatos fez uma oferta com credibilidade” ou “levou a sério a carreira eleitoral”. 

Diante do cenário, Espinoza afirma que — independente do vencedor — “o principal perdedor é o atual presidente Luis Arce”. 

“Ele vai ser o principal perdedor porque teve mais de quatro anos para tomar medidas e evitar todas as crises que começaram em seu governo, e ele simplesmente não fez nada”, pontuou. 

Espinoza afirma que — independente do vencedor — “principal perdedor [dessa eleição] é atual presidente Luis Arce”. 
Casa de América/Flickr

Por outro lado, avalia que Morales “vai continuar fazendo política, porque é um direito”, mas que “certamente vai encontrar dificuldades na Justiça, que agora faz parte do esquema armado para tirá-lo da política nacional”. 

Espinoza menciona o mandato de prisão emitido contra Morales, e afirma que caso a direita vença as eleições “certamente aplicará” a ordem de apreensão. “Essa é a primeira oferta eleitoral da direita”. 

Já em relação à agenda política da direita, a jornalista declarou que “a história do neoliberalismo na América Latina já é conhecida”: proposta de diminuir o estado, eliminar áreas sociais, tirar direitos da maioria da população, mudar a Constituição Política da Bolívia — uma das mais avançadas em 200 anos de história, inciar privatizações dos recursos naturais, e a volta do esquema de coalizões “na qual todos os partidos de direita se juntam e tiram uma fatia das riquezas”. “É assim a história do nosso passado”, relata. 

Confira informações gerais sobre a eleição

Mais de 7,5 milhões de cidadãos bolivianos estão habilitados para eleger suas novas autoridades legislativas e presidenciais no primeiro turno deste domingo (17/08). O número inclui mais de 360 mil bolivianos residentes em 22 países, que exercerão seu direito ao voto de forma consular.

Apenas cinco países concentram 95% dos bolivianos que votarão no exterior. Em primeiro, a Argentina (162.531), seguido por Espanha (82.273), Brasil (47.623), Chile (44.801) e Estados Unidos (15.222).

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do país habilitou 3.733 locais eleitorais distribuídos em todo o território nacional para que os cidadãos escolham seu próximo presidente, vice-presidente, 36 senadores, 130 deputados e nove representantes parlamentares perante organismos supranacionais. As seções eleitorais serão abertas às 8h (9h no horário de Brasília) e devem funcionar durante oito horas ou até que o último eleitor em fila tenha efetuado seu voto.

A Bolívia tem oito estados, chamados de departamentos. Cada um elegerá quatro senadores. Já os deputados são proporcionais à população.

Assim sendo, Santa Cruz de La Sierra e La Paz, com mais de 2 milhões de eleitores registrados, terão 29 deputados cada. Cochabamba, que tem 1,4 milhões de bolivianos habilitados para votar, elegerá 14 deputados. Os demais estados são Potosí (13), Oruro (9), Tarija (9), Chuquisaca (9), Beni (8) e Pando (5).

Embora o TSE tenha inicialmente habilitado nove organizações políticas, a disputa presidencial se concentrou em sete forças principais:

Autonomia Para a Bolívia (APB-Súmate), com Manfred Reyes Villa

Aliança Liberdade e Progresso (ADN), com Jorge “Tuto” Quiroga

Aliança Popular, com Andrónico Rodríguez

Aliança Unidade, com Samuel Doria Medina

Partido Democrata Cristão (PDC), com Rodrigo Paz

Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), com Eduardo del Castillo

Aliança Força do Povo, com Jhonny Fernández

Diante do cenário eleitoral, é possível que pela primeira vez na história da Bolívia uma disputa presidencial chegue ao segundo turno. Uma segunda rodada de votos caso nenhum candidato consiga maioria absoluta ou mais de 10% de vantagem perante o segundo colocado foi instituída na Constituição de 2009 do país. Desde então, os candidatos do MAS sempre garantiram suas vitórias nos primeiros turnos.

Dois candidatos conservadores lideram as pesquisas para as eleições presidenciais na Bolívia. Segundo o último levantamento da AtlasIntel, o ex-presidente conservador Jorge “Tuto” Quiroga lidera as intenções de voto com 22,3%, seguido pelo postulante de centro-direita Samuel Doria Medina, com 18%.

O presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, candidato independente da esquerda, aparece com 11,4%, atrás dos votos brancos e nulos (14,6%). Já Eduardo Del Castillo, candidato apoiado por Arce, está com apenas 8,1%, atrás até dos indecisos (8,4%).

Como todos os candidatos estão longe de obter maioria absoluta ou a vantagem de 10% sobre o segundo colocado, espera-se um segundo turno em 19 de outubro.

(*) Com Ansa, Brasil de Fato e TeleSUR