Eleição na Bolívia entra em reta final: saiba quem são principais candidatos
Com Evo Morales impedido de concorrer por decisão da Justiça, direitistas derrotados por ele no passado lideram pesquisa
Faltam exatamente duas semanas para a realização do primeiro turno das eleições presidenciais da Bolívia, marcado para o próximo dia 17 de agosto.
As pesquisas indicam que o pleito pode gerar uma grande transformação no país, já que são muito grandes as chances de que algum dos diferentes setores de direita fique com a vitória, algo que não acontece desde a disputa eleitoral 2002.
Segundo as medições mais recentes, os três primeiros colocados são representantes da direita, e de posições variadas: um é mais conservador e populista, apesar de um passado na esquerda, um segundo é mais liberal, e um terceiro representa a extrema direita.
Outra curiosidade é que todas essas candidaturas são lideradas pelos três políticos que foram derrotados pelo ex-presidente Evo Morales (2006-2019) nas eleições de 2005, 2009 e 2014, e parecem ver na ausência do líder indígena da disputa a oportunidade de chegar ao poder.
Vale lembrar que Morales foi tornado inelegível por decisão do Tribunal Constitucional boliviano, que considerou haver um limite de mandatos presidenciais no país, e que Morales já cumpriu os três aos quais teria direito.
O melhor candidato da esquerda nessas medições aparece apenas em quarto lugar, enquanto o representante governista está na sétima posição.
Conheça abaixo quem são os principais candidatos à Presidência da Bolívia:
Samuel Doria Medina
O candidato que aparece liderando a maioria das pesquisas é Samuel Doria Medina, um dos empresários mais ricos do país, ligado aos ramos de comidas rápidas e da construção civil.
No caso das comidas rápidas, ele atua através da empresa Bolivian Foods, dona dos direitos de várias franquias norte-americanas que atuam em território boliviano. Já na construção civil, ele participa como proprietário de 51% das ações da Sociedade Boliviana de Cimento (SOBOCE).
Sempre administrou sua atuação na política em paralelo às atividades empresariais, e inicialmente foi colaborador de governos e candidaturas de centro-esquerda.
Sua estreia na política aconteceu em agosto de 1991, como ministro do Planejamento do então presidente social-democrata Jorge Paz Zamora (1989-1993), cargo que ocupou durante dois anos.
Em 1997, ele estreou nas urnas como candidato a vice-presidente em uma nova candidatura de Paz Zamora, que acabou em quarto lugar naquela eleição – o vencedor foi o militar de extrema direita Hugo Banzer que governou como ditador entre 1971 e 1978, e voltou ao poder eleito, para um mandato que durou entre 1997 e 2001.
Durante a última década do Século 20, Doria Medina atuou na política como militante do partido Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR, por sua sigla em espanhol), o qual, apesar do nome, servia como linha auxiliar da sigla social-democrata União Democrática e Popular (UDP).
A partir de 2003, o empresário passou a liderar a frente Unidade Nacional (UN), de centro-direita, pela qual já concorreu três vezes como candidato presidencial, em 2005, 2009 e 2014.
Todas as suas tentativas de chegar à Presidência da Bolívia foram derrotadas por Evo Morales. Em 2005 e 2009, Doria Medina ficou em terceiro lugar. Em 2014, obteve sua melhor votação, com 24,2% dos votos, ficando com o segundo lugar, enquanto o líder indígena foi eleito já no primeiro turno, com 61,4%.
Nas últimas eleições presidenciais bolivianas, em 2020, o empresário aceitou ser candidato a vice na chapa liderada pela então ditadora Jeanine Áñez, que foi imposta no poder pelas Forças Armadas após o golpe que derrubou Evo Morales em novembro de 2019. Porém, Áñez desistiu da candidatura meses antes da realização do primeiro turno.
Na pesquisa mais recente, realizada pela consultora Spie e publicada no dia 16 de julho, Doria Medina aparece em primeiro lugar, com 21,76% das intenções de voto.
Seu companheiro de chapa é o economista de direita José Luis Lupo.
Jorge Quiroga
Vice-presidente durante quatro anos do mandato democrático de Banzer, entre 1997 e 2001, Jorge “Tuto” Quiroga se tornou figura pública de maior relevância ao assumir a administração do país no último ano daquele governo, entre 2001 e 2002 – na Bolívia, os mandatos duram cinco anos.
Concorreu duas vezes a Presidência como líder do Partido Democrata Cristão (PDC). Em 2005, ficou em segundo lugar; já em 2014, foi terceiro colocado – ambas as derrotas contra Evo Morales.
Em 2020, Quiroga chegou a apresentar sua candidatura presidencial, liderando seu novo partido, o Liberdade e Democracia (Libre, por sua sigla em espanhol), mas acabou desistindo semanas antes do pleito, assim como a chapa Áñez-Doria Medina.
Este ano, voltou a apresentar sua candidatura, tendo como companheiro de fórmula o empresário Juan Pablo Velasco.
Na pesquisa da consultora Spie, publicada em 16 de julho, Quiroga aparece em segundo lugar, com 20,70% das intenções de voto.
Manfred Reyes Villa
O ex-militar e empresário Manfred Armando Reyes Villa foi prefeito da cidade de Cochabamba entre 1993 e 2000.
Desde então, vem tentando, sem sucesso, chegar à Presidência da Bolívia, sendo um dos principais rostos da extrema direita no país.
Nos Anos 90, Reyes Villa liderou o partido Ação Democrática Nacionalista (ADN). Já nos Anos 2000, ele encabeçou a Nova Frente Republicana (NFR), pela qual ficou em terceiro lugar nas eleições de 2002 – atrás do eleito Gonzalo Sánchez de Losada e do segundo colocado Evo Morales.
O extremista voltou a concorrer em 2009, ficando em segundo lugar, com 26,46% dos votos, contra 64,22% de Evo Morales, reeleito no primeiro turno – após sua primeira vitória eleitoral, em 2005.
Este ano, ele volta a concorrer, como líder do partido de extrema direita Autonomia para a Bolívia (APB), tendo como vice Juan Carlos Medrano, advogado e vereador da cidade de Santa Cruz de la Sierra.
Na pesquisa da consultora Spie, publicada em 16 de julho, Reyes Villa aparece em terceiro lugar, com 10,01% das intenções de voto.

Bolívia irá às urnas no dia 17 de agosto, para o primeiro turno das eleições presidenciais
Órgão Eleitoral Plurinacional (OEP)
Andrónico Rodríguez
Atual presidente do Senado boliviano, Andrónico Rodríguez apareceu como favorito nas pesquisas durante boa parte do primeiro semestre de 2025. Porém, a partir de maio, sua campanha começou a perder força, permitindo a ultrapassagem de três figuras da direita.
Outro fator importante a respeito da candidatura de Rodríguez é que ele deixou o Movimento ao Socialismo (MAS), partido para se filiar ao partido Movimento Terceiro Sistema (MTS), que é parte da a Aliança Popular da Bolívia, setor que pretende se levantar como uma alternativa progressista no país. Sua candidata a vice é a advogada Mariana Prado, que foi ministra do Planejamento nos últimos anos do governo de Evo Morales, entre janeiro de 2017 e novembro de 2019.
O atual presidente do Senado também tem utilizado sua campanha para tentar se distanciar do ex-presidente Morales e do atual mandatário, Luis Arce, mas esse movimento tem sido precedido de uma queda constante nas pesquisas, nos últimos meses.
Na pesquisa do instituto Panterra publicada no dia 30 de março, o atual presidente do Senado liderava com certa folga, com 25% das intenções de voto e uma vantagem acima da margem de erro sobre Doria Medina (16%), Quiroga (15%) e Reyes Villa (11%).
Quatro meses depois, na pesquisa da consultora Spie, publicada em 16 de julho, Rodríguez aparece em quarto lugar, com 8,26% das intenções de voto.
Eduardo del Castillo
Em maio deste ano, o presidente Luis Arce anunciou que não iria se candidatar à reeleição, deixando em aberto quem seria o representante do MAS, partido que venceu as últimas cinco eleições presidenciais na Bolívia.
Dias depois, a sigla anunciou o nome do ministro de Governo, Eduardo del Castillo, como seu presidenciável, em chapa na qual é acompanhado pelo sindicalista Milán Berna, da Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB), como candidato a vice.
Considerado um dos ministros mais leais a Arce, sua campanha nunca conseguiu passar dos 2% das intenções de voto, refletindo também a baixíssima popularidade do atual mandatário boliviano.
Na pesquisa da consultora Spie, publicada em 16 de julho, Del Castillo aparece em sétimo lugar, com 1,92% das intenções de voto.
Evo Morales
Apesar de sua saída do MAS (partido do qual é um dos fundadores), da criação de um novo partido (Evo Pueblo) e do movimento que realizou protestos significativos em todo o país, pedindo a aceitação de sua candidatura presidencial, Evo Morales não conseguiu derrubar a decisão do Tribunal Constitucional do país, que impede o registro de sua chapa.
Na última pesquisa em que seu nome apareceu entre os candidatos, realizada em fevereiro deste ano pela Universidade Autônoma de Santa Cruz de la Sierra, Evo aparecia com 14% das intenções de voto, ficando em segundo lugar, atrás apenas de Manfred Reyes Villa, com 15% – a mesma sondagem testou um cenário sem Evo, no qual Andrónico Rodríguez herdava boa parte dos votos de Evo, passando de 10% a 19% e ficando na liderança.
Vale lembrar que o ex-presidente ganhou as quatro últimas eleições em que participou, em 2005, 2009, 2014 e 1019. Também foi o principal apoiador da candidatura vitoriosa de Luis Arce em 2020, antes do rompimento entre os dois.
Até o momento, Evo não entregou seu apoio a nenhum dos candidatos que estão oficialmente inscritos.
Vale lembrar que o primeiro turno das eleições presidenciais da Bolívia acontecerá no dia 17 de agosto. Caso seja necessário um segundo turno, ele ocorrerá em 19 de outubro.























