Rapper Bad Bunny desafia Trump ao resgatar bandeira de Porto Rico, diz professora
Para Bruna Ramos da Fonte, artista incentiva porto-riquenhos a ‘valorizar suas raízes e se envolver com questões históricas’
No seu recente álbum Débi Tirar Más Fotos, o rapper porto-riquenho Bad Bunny reivindicou a bandeira pela luta da independência de Porto Rico, em movimento que causou insatisfação por parte do governo dos Estados Unidos.
Essa é a avaliação da professora Bruna Ramos da Fonte, da Faculdade Paulus de Comunicação e Tecnologia (FAPCOM), que destaca como a carreira do artista tem se tornado símbolo de resistência frente à dominação norte-americana sobre a ilha caribenha.
A Opera Mundi, a especialista em Relações Internacionais disse que o artista usa de sua fama global para denunciar e conscientizar sobre assuntos culturais, políticos e sociais em um formato moderno, trazendo visibilidade para a ilha.
“Bad Bunny se torna também um importante exemplo para a juventude, um ídolo capaz de influenciar toda uma geração que com ele se identifica. pois alimenta a autoestima do jovem porto-riquenho, oferecendo a ele um bom motivo para admirar e valorizar as suas raízes e fazendo um convite para que ele comece a pensar e a se envolver com as questões históricas, políticas, econômicas, culturais e sociais do seu lugar de origem”, disse.
Bad Bunny, como é conhecido o artista Benito Antonio Martínez Ocasio , tem denunciado as políticas trumpistas em relação a imigração. Nas últimas eleições presidenciais, em 2024, o rapper decidiu expressar seu apoio à candidatura de Kamala Harris como forma de repúdio a Donald Trump, que exibiu em um dos seus comícios de campanha uma declaração do comediante Tony Hinchcliffe no qual este se refere a Porto Rico como “uma ilha de lixo flutuante”.
Em sua nova turnê, o cantor escolheu não realizar seus shows em solo norte-americano dizendo que é “desnecessário”, sobretudo justificando preocupação pelas prisões que estão sendo realizadas pelo Serviço de Imigração Americano (ICE). Isso por que, a maioria dos seus fãs são imigrantes que residem nos Estados Unidos.
Na verdade, Bad Bunny tem apenas uma aprensentação programada nos Estados Unidos nos próximos meses, já que ele foi confirmado como a atração principal do show do intervalo do Super Bowl 2026. O evento acontece junto com a final do campeonato da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL, por sua sigla em inglês).
A escalação do rapper para o show do intervalo do Super Bowl 2026 recebeu diversas críticas de militantes da extrema direita, que reclamam pelo fato de que ele canta em idioma espanhol e não em inglês. Até mesmo o presidente Trump declarou sua indignação com a escolha do artista para o intervalo da final. “Nunca ouvi falar dele. Não sei quem ele é, não sei porque estão fazendo isso. É loucura. Eu acho ridículo”, afirmou.

Bad Bunny irá fazer seu primeiro show no Brasil em fevereiro de 2026
Divulgação
Identidade porto-riquenha
Apesar de sua riqueza cultural, Porto Rico é uma nação que enfrenta uma incerteza política. E isso decorre de uma história que perdura há mais de cinco séculos. A professora Da Fonte explica que a independência nunca foi conquistada pela nação desde a chegada da expedição de Cristóvão Colombo, que “deu início a um longo período marcado pela dominação espanhola”.
“[Posteriormente] a Espanha perderia o controle da ilha para os Estados Unidos após a Guerra Hispano-Americana em 1898. A partir de então, Porto Rico passou a ter o status de território não incorporado dos Estados Unidos. Portanto, ainda que tenha seu próprio governo e Constituição, Porto Rico não é independente, visto que as decisões fundamentais sobre o seu destino estão nas mãos dos Estados Unidos”, afirmou.
Por seu statos de “território não incorporado”, entende-se que o Porto Rico conquistaria sua autonomia e um governo local que pudesse tomar controle de seu próprio território, ainda atendendo às obrigações de um Estado maior, ou seja, os Estados Unidos. A nação apenas conseguiu esse título em 1952, quando, sob Luis Muñoz Marín, governador eleito sob permissão das leis federais norte-americanas, Washington reconheceu Porto Rico como um “Estado livre associado”.
Curioso é que, desde a transição do controle territorial, os cidadãos carregam passaportes norte-americanos, mas não podem desfrutar do direito ao voto em caso de eleições presidenciais realizadas nos Estados Unidos.
Segundo Da Fonte, apesar dos muitos anos de dominação estrangeira e violações aos direitos humanos, a ilha não perdeu sua identidade, que vem do resultado da “fusão das heranças dos povos taínos (indígenas pré -colombianos que habitam a região), dos colonizadores espanhóis e dos africanos escravizados”.
“A identidade cultural porto-riquenha se manifesta através da manutenção do idioma espanhol (ao invés do inglês) e do cultivo das tradições locais, como forma de resistência política e afirmação identitária”, disse a especialista.























