Automotivas alertam para atraso na produção após Holanda interferir em fabricante chinesa de chips
Nissan, Toyota, Honda e Mazda alertam sobre atrasos na produção após Pequim proibir exportação de chips para subsidiária chinesa, como retaliação a intervenção europeia
Em meio à batalha entre Holanda e China pelo controle da fabricante de chips Nexperia, que produz elementos essenciais para as indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo, empresas automobilísticas da Europa e do Japão afirmaram nesta quinta-feira (23/10) que o impasse pode afetar sua produção.
A Associação de Fabricantes de Automóveis do Japão, que engloba Nissan, Toyota, Honda e Mazda, relatou ter recebido um alerta da Nexperia comunicando a possível falta de chips, o que pode atrasar a fabricação dos automóveis.
“Os chips fabricados pelos fabricantes afetados são peças importantes utilizadas em unidades de controle eletrônico, e reconhecemos que este incidente terá um sério impacto na produção global de nossas empresas associadas”, afirmou a associação, segundo o jornal britânico The Guardian.
O grupo japonês ainda disse esperar “que os países envolvidos cheguem a uma solução rápida e prática”.
Já a associação comercial automobilística alemã (VDA) disse que “a situação pode em breve levar a restrições significativas de produção – ou até mesmo à interrupção da produção”.
De acordo com a presidente da VDA, Hildegard Müller, a associação também recebeu um aviso da Nexperia, em 10 de outubro, “descrevendo uma sequência de eventos que levou a empresa a não conseguir mais garantir totalmente o fornecimento de seus chips para a cadeia de suprimentos automotiva”.
A situação levou a VDA a se reunir com o ministro da Economia da Alemanha, exigindo que o governo e a Comissão Europeia obtenham “soluções rápidas e pragmáticas”.
Contexto
O governo da Holanda anunciou em 12 de outubro uma “decisão altamente excepcional” para intervir na Nexperia, subsidiária da empresa chinesa Wingtech, alegando que a companhia “poderia representar um risco à segurança econômica holandesa e europeia”. Na prática, a medida foi interpretada por analistas como uma forma de confisco político disfarçado de proteção nacional.

Episódio ocorre em meio a disputa crescente entre Ocidente e China no campo tecnológico
NISSAN MOTOR CO., LTD./Flickr
A resposta da China foi imediata. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, declarou que o país “se opõe à ampliação indevida do conceito de segurança nacional e à adoção de ações discriminatórias contra empresas de determinados países”, pedindo aos governos envolvidos que respeitem os princípios de mercado e evitem politizar questões comerciais.
Em impasse, China e Holanda trataram do assunto nesta semana. O ministro holandês de Assuntos Econômicos, Vincent Karremans, conversou por telefone com o ministro do Comércio da China, Wang Wentao, para tentar solucionar a situação.
O contato foi realizado a pedido do país europeu, em meio às retaliações chinesas. Em resposta à intervenção do governo holandês, a China proibiu a exportação de chips para a Nexperia, subsidiária da chinesa Wingtech Technology, o que gerou alerta na indústria automobilística alemã.
Durante a conversa, Wang instou os Países Baixos a “resolver adequadamente” as questões relacionadas à Nexperia, proteger os direitos dos investidores chineses e “promover um ambiente de negócios justo, transparente e previsível”, segundo informou a mídia chinesa CCTV.
O ministro chinês afirmou que as medidas dos Países Baixos contra a Nexperia “impactaram severamente a estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais” e pediu que os Países Baixos atuem “a partir da perspectiva geral de manter a segurança e estabilidade das cadeias industriais e de suprimentos globais”.
O episódio ocorre em meio a uma disputa crescente entre o Ocidente e a China no campo tecnológico, especialmente no setor de semicondutores, considerado estratégico para a economia digital e a segurança nacional. Estados Unidos e aliados europeus vêm impondo sucessivas restrições ao acesso chinês a equipamentos e tecnologias avançadas.
Especialistas alertam que a fragmentação da cadeia global de suprimentos de semicondutores pode ter efeitos negativos em toda a economia mundial, comprometendo a produção de eletrônicos, veículos e sistemas de comunicação.
A China, por sua vez, tem intensificado investimentos para fortalecer sua autossuficiência tecnológica e reduzir a dependência de componentes estrangeiros, reafirmando seu compromisso com um sistema comercial aberto, justo e cooperativo.
(*) Com Brasil de Fato























