'Ausência de Lula na China foi um equívoco', diz José Genoino
Ex-presidente do PT apontou simbolismo de eventos como o desfile militar em Pequim na afirmação de uma nova ordem mundial
O presidente Lula foi um dos líderes que não compareceu à cerimônia do 80º aniversário do Dia da Vitória da China contra o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. O desfile militar que reafirmou o poderio bélico e diplomático de Pequim contou com a presença de 26 chefes de Estados, entre eles o da Rússia, Vladimir Putin, e o da Coreia do Norte, Kim Jong Un.
Pelo lado brasileiro, estiveram presentes no desfile militar a ex-presidente Dilma Rousseff, atualmente à frente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS; e o embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República.
Na avaliação do ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genoíno a não participação de Lula no desfile e na Cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) foi um equívoco. “Não tenho conhecimento dos motivos que o levaram a não ir em ambas as agendas, mas considero um equívoco a ausência de Lula em ambos”.
“O presidente participou das comemorações dos 80 anos da vitória da Rússia sobre os nazistas e os fascistas, deveria ter ido à China, até porque o país é o principal alvo dos ataques estratégicos do imperialismo norte-americano”, afirmou.
Imperialismo é radical
Em sua avaliação, a política externa brasileira “tem que ser mais clara e mais contundente, inclusive neste momento, para enfrentar o tarifaço e as ameaças que pesam particularmente sobre a América Latina, com as provocações dos Estados Unidos contra a Venezuela”.
Genoíno destacou o que Donald Trump vem fazendo em relação à Lei Magnitsky. Ele “está criando uma quinta coluna aqui com a família Bolsonaro. Faz isso com parte da oposição na Venezuela,; com Noboa no Equador e Milei na Argentina”.
“Não dá para ter ilusão. Você não enfrenta o imperialismo com bons modos. Tem que dialogar com quem precisa, mas também fazer o enfrentamento político”, reiterou.

Para Genoino, presença de Lula teria impacto diante das ameaças dos EUA
Ricardo Stuckert / PR
Nova ordem mundial
Genoíno destacou a importância da reunião de cooperação em Xangai no último domingo (31/08). “Ali estavam as três principais forças do BRICS: China, Rússia e Índia. E o fato mais notável foi que a Índia restabeleceu suas relações com a China e vice-versa”, disse.
Em termos de governança global, o encontro foi “fundamental para enfrentar o imperialismo norte-americano”, já que uma “aliança com a Índia, China e Rússia é estratégica para atrair outros países e governos para uma governança global, com base em princípios como soberania, autodeterminação dos povos, direitos humanos e a questão da paz”.
“A China alcançou um grau de legitimidade política muito forte e a crise do império colocou o Putin no centro da agenda internacional. Essa reunião foi uma espécie de fecho de tudo isso”, afirmou.
Sobre o desfile militar em Pequim, o ex-presidente do PT, avaliou o evento como “uma demonstração de força. Do discurso do presidente chinês Xi Jinping, destacou a defesa de “uma nova ordem mundial democrática”.
“Ambos os eventos evidenciam que um outro mundo pode ser articulado e construído. Foi uma demonstração de força com uma simbologia muito forte neste momento de transição energética, crise ambiental no limite do ‘sem retorno’, crise migratória e social em meio à degradação dos direitos e da vida”.
Extrema direita
Para Genoino, há uma ascensão da extrema direita em todo o mundo, destacando a importância do julgamento em curso do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete envolvidos na tentativa de golpe de Estado no país.
Em sua avaliação, o julgamento “está trazendo muitas lições que vão contribuir para a politização da sociedade, espero que o inelegível seja condenado e sem anistia”. Ele classificou a movimentação em torno da anistia como “uma aposta da direita em uma crise institucional para tentar controlar a eleição em 2026”.
“O que eles querem é mudar o regime político aqui, como estão tentando fazer na Venezuela, como fizeram na Argentina e em outros países”, afirmou.























