Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, pediu uma sentença de 20 anos e meio de prisão para o ex-militar espanhol David Morales, acusado de comandar uma operação de espionagem contra o jornalista durante sua estadia na embaixada do Equador em Londres entre 2012 e 2019 e por entregar a terceiros, supostamente à Agência Central de Inteligência (CIA, acrônimo em inglês), as gravações de suas reuniões com seus advogados.

No final de setembro, o Tribunal Nacional da Espanha encerrou uma investigação de seis anos e concluiu que há indícios suficientes de que Morales tenha cometido crimes de descoberta e divulgação de segredos, suborno, falsificação de documentos e posse ilegal de armas. Agora, o órgão levará o ex-militar a julgamento. Já o Ministério Público ainda não apresentou sua acusação.

De acordo com o jornal El País, o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, foi também uma das vítimas espionadas pelos trabalhadores da empresa de segurança de Morales, a UC Global S.L. 

A empresa de Morales, com sede em Jerez de la Frontera, na Espanha, foi contratada pelo Serviço de Inteligência do Equador (Senain) para fornecer segurança à embaixada entre 2015 e 2018. No entanto, de acordo com a investigação, o ex-fuzileiro naval desviou essa função para orquestrar uma operação de espionagem em larga escala.

Segundo detalha o juiz Pedraz em um despacho, entre junho e julho de 2017, Morales ordenou a instalação de novas câmeras com áudio e microfones na sede diplomática para que gravassem conversas de Assange com advogados, médicos, jornalistas e visitantes. O material era armazenado em um servidor central da empresa. Além disso, o acusado chegou a criar uma unidade especial de funcionários dedicados exclusivamente à espionagem.

Assange afirma que, durante os anos em que esteve na embaixada equatoriana, seus direitos foram “gravemente violados pelas atividades criminosas” da empresa espanhol. Ainda segundo o jornalista australiano, a UC GLOBAL armazenou “informações confidenciais e privilegiadas” que foram “fornecidas a terceiros, incluindo autoridades norte-americanas”.

Já a defesa do jornalista australiano aponta que a empresa realizou “ações de natureza nitidamente ilícita”. “[As ações] chegarem ao ponto de implementar uma genuína operação de espionagem que violou gravemente os direitos do meu cliente, de seus advogados visitantes, médicos, jornalistas e outros colaboradores próximos, e dos diplomatas equatorianos”, diz a defesa.

De acordo com El País, a investigação buscou determinar se a CIA foi um dos destinatários das informações coletadas de forma ilegal. Porém, o juiz John G. Koeltl rejeitou a ação em Nova York movida contra Mike Pompeo, ex-diretor da agência de inteligência, por “colocar em risco a segurança” dos Estados Unidos caso a operação fosse revelada.

Julian Assange pede prisão de 20 anos a ex-militar espanhol David Morales, acusado de espionagem e concessão de informações à Agência de Inteligência dos EUA
@WikiLeaks via Fotos Publicas

Perseguição

Assange se tornou alvo dos EUA por divulgar documentos que provavam crimes cometidos por militares do país em suas campanhas no Iraque e no Afeganistão, na chamada “guerra contra o terror”. O australiano foi acusado de divulgar, a partir de 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre as atividades militares e diplomáticas dos Estados Unidos. Com 18 acusações baseadas na Lei de Espionagem dos EUA, caso condenado, o jornalista podia pegar até 175 anos de prisão.

Após 14 anos de saga jurídica, incluindo intensa negociação com as autoridades norte-americanas, que teriam desistido de sua extradição ao país após mobilizações globais, Assange foi libertado da prisão no Reino Unido em 24 de junho de 2024.

Dois dias depois, em 26 de junho, o fundador do WikiLeaks desembarcou na Austrália, seu país natal, após firmar um acordo com a Justiça dos Estados Unidos que formalizou sua liberdade. Na capital Camberra, o australiano foi recebido por sua esposa Stella e seu pai, diante da presença da imprensa.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva comemorou a liberdade do ativista.

“O mundo está um pouco melhor e menos injusto hoje. Julian Assange está livre depois de 1.901 dias preso. Sua libertação e retorno para casa, ainda que tardiamente, representam uma vitória democrática e da luta pela liberdade de imprensa”, disse o petista. A celebração também foi acompanhada por outros líderes da América Latina, como o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e o então mandatário mexicano Andrés Manuel López Obrador.