Déficits, sobretaxas e mais: com 'cartas abertas', Trump já ameaçou 22 países
Justificativas tributárias são iguais, mas, no caso brasileiro, são acrescidas de uma notável interferência política
Em mais uma escalada de sua guerra tarifária, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já enviou cartas abertas a 22 países, ameaçando a imposição de taxas sobre os produtos exportados ao país partir do dia 1º de agosto.
Desde que retomou o tarifaço, no começo da semana, Trump vem publicando a íntegra das cartas em suas redes sociais. Já foram alvos os seguintes países: África do Sul, Argélia, Bangladesh, Bósnia e Herzegovina, Brunei, Camboja, Cazaquistão, Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Iraque, Japão, Laos, Líbia, Malásia, Moldávia, Myanmar, Sérvia e Montenegro, Sri Lanka, Tailândia e Tunísia. E, agora, o Brasil.
As cartas, com exceção do Brasil, são idênticas e misturam o tom diplomático com ameaças diretas, reforçando a postura protecionista e a pressão da Casa Branca contra as nações que, afirmam os textos, “mantêm déficits comerciais prolongados com os Estados Unidos”.
Washington concede aos países-alvo um prazo adicional para negociar e condiciona a revisão das alíquotas à redução de barreiras comerciais contra produtos norte-americanos. Embora algumas tarifas tenham sido mantidas, como as divulgadas em abril, outras sofreram ajustes sem justificativa clara.
O texto
As cartas começam com um reconhecimento formal da relação comercial entre os Estados Unidos e o país-alvo, mas logo adota o tom crítico: “Durante anos, sofremos com déficits persistentes gerados pelas tarifas e barreiras comerciais do seu país. Infelizmente, nossa relação tem sido pouco recíproca“.
As novas tarifas são justificadas pela Casa Branca para corrigirem o suposto “desequilíbrio histórico” nas trocas comerciais entre as nações. “A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos [valor especificado]% sobre todos os produtos enviados aos EUA, além das tarifas setoriais existentes. Produtos reembarcados para evitar tarifas mais altas estarão sujeitos a taxas superiores. Observe que [o valor] % é muito menor do que o necessário para eliminar o déficit”, afirma.

Trump já enviou cartas abertas a 22 países com cobranças de novas taxas a partir de 1° de agosto
Reprodução X / @WhiteHouse
Os textos abrem a possibilidade de trégua, diz que os produtos fabricados nesses países, mas que sejam montados ou produzidos em solo norte-americano, estarão isentos das tarifas. “Não haverá tarifa se o [país] ou suas empresas produzirem nos EUA – agilizaremos aprovações em semanas“, afirma o texto, em claro incentivo à relocalização de indústrias.
Na sequência, vem a ameaça de que se o país aumentar suas tarifas, o valor será somado à porcentagem cobrada. “Essas medidas corrigirão anos de políticas desleais que ameaçam nossa economia e segurança nacional”, diz o texto, que termina como um misto de ameaça e proposta de negociação: “se abrir seus mercados e eliminar barreiras, reconsideraremos estas tarifas”.
A exceção brasileira
No caso brasileiro, que detêm a maior cobrança entre os demais 21 países, as justificativas tributárias permanecem as mesmas, mas são acrescidas de uma notável interferência política, criticada por analistas.
O texto defende abertamente o ex-presidente Jair Bolsonaro: “conheci e tratei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.
Também faz referência direta à ação do Supremo Federal em relação à regulação das big techs, condenando o que qualifica como “ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro)”.
O documento ainda afirma que os EUA investigarão o Brasil: “além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas norte-americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.”
50%
O texto determina que, a partir de 1º de agosto de 2025, será cobrada “uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta”.
Na sequência, afirma que o texto poderá ter ajustes, dependendo do relacionamento do país com os Estados Unidos: “se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país”.
E finaliza: “o senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América”.
Confira a íntegra da resposta do presidente Lula ao ataque de Trump contra a soberania brasileira.























