Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Em mais uma escalada de sua guerra tarifária, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já enviou cartas abertas a 22 países, ameaçando a imposição de taxas sobre os produtos exportados ao país partir do dia 1º de agosto.

Desde que retomou o tarifaço, no começo da semana, Trump vem publicando a íntegra das cartas em suas redes sociais. Já foram alvos os seguintes países: África do Sul, Argélia, Bangladesh, Bósnia e Herzegovina, Brunei, Camboja, Cazaquistão, Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Iraque, Japão, Laos, Líbia, Malásia, Moldávia, Myanmar, Sérvia e Montenegro, Sri Lanka, Tailândia e Tunísia. E, agora, o Brasil.

As cartas, com exceção do Brasil, são idênticas e misturam o tom diplomático com ameaças diretas, reforçando a postura protecionista e a pressão da Casa Branca contra as nações que, afirmam os textos, “mantêm déficits comerciais prolongados com os Estados Unidos”.

Washington concede aos países-alvo um prazo adicional para negociar e condiciona a revisão das alíquotas à redução de barreiras comerciais contra produtos norte-americanos. Embora algumas tarifas tenham sido mantidas, como as divulgadas em abril, outras sofreram ajustes sem justificativa clara.

O texto

As cartas começam com um reconhecimento formal da relação comercial entre os Estados Unidos e o país-alvo, mas logo adota o tom crítico: Durante anos, sofremos com déficits persistentes gerados pelas tarifas e barreiras comerciais do seu país. Infelizmente, nossa relação tem sido pouco recíproca“.

As novas tarifas são justificadas pela Casa Branca para corrigirem o suposto “desequilíbrio histórico” nas trocas comerciais entre as nações. “A partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos [valor especificado]% sobre todos os produtos enviados aos EUA, além das tarifas setoriais existentes. Produtos reembarcados para evitar tarifas mais altas estarão sujeitos a taxas superiores. Observe que [o valor] % é muito menor do que o necessário para eliminar o déficit”, afirma.

Trump já enviou cartas abertas a 22 países com cobranças de novas taxas a partir de 1° de agosto
Reprodução X / @WhiteHouse

Os textos abrem a possibilidade de trégua, diz que os produtos fabricados nesses países, mas que sejam montados ou produzidos em solo norte-americano, estarão isentos das tarifas. “Não haverá tarifa se o [país] ou suas empresas produzirem nos EUA – agilizaremos aprovações em semanas, afirma o texto, em claro incentivo à relocalização de indústrias.

Na sequência, vem a ameaça de que se o país aumentar suas tarifas, o valor será somado à porcentagem cobrada. “Essas medidas corrigirão anos de políticas desleais que ameaçam nossa economia e segurança nacional”, diz o texto, que termina como um misto de ameaça e proposta de negociação: “se abrir seus mercados e eliminar barreiras, reconsideraremos estas tarifas”.

A exceção brasileira

No caso brasileiro, que detêm a maior cobrança entre os demais 21 países, as justificativas tributárias permanecem as mesmas, mas são acrescidas de uma notável interferência política, criticada por analistas.

O texto defende abertamente o ex-presidente Jair Bolsonaro: “conheci e tratei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.

Também faz referência direta à ação do Supremo Federal em relação à regulação das big techs, condenando o que qualifica como “ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro)”.

O documento ainda afirma que os EUA investigarão o Brasil: “além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas norte-americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.”

50%

O texto determina que, a partir de 1º de agosto de 2025, será cobrada “uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta”.

Na sequência, afirma que o texto poderá ter ajustes, dependendo do relacionamento do país com os Estados Unidos: “se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país”.

E finaliza: “o senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América”.

Confira a íntegra da resposta do presidente Lula ao ataque de Trump contra a soberania brasileira.