Sábado, 6 de dezembro de 2025
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“O Brasil não é problema, o Brasil é solução”, reiterou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, nesta terça-feira (16/09), ao novamente destacar o superávit da balança comercial dos Estados Unidos com o Brasil enquanto a decisão unilateral do presidente Donald Trump de tarifar o país sul-americano.

O comentário do vice-presidente foi uma resposta à imprensa, que questionou sobre as mais recentes ameaças de Washington de impor sanções adicionais ao governo brasileiro em decorrência da decisão do Judiciário em condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Haverá uma resposta dos EUA a isso, e teremos alguns anúncios na próxima semana ou mais sobre quais passos adicionais pretendemos tomar”, assegurou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, no dia anterior.

A coletiva atendida por Alckmin ocorreu no Rio de Janeiro, no âmbito da celebração da assinatura do acordo de livre comércio do Mercosul – bloco sob a Presidência temporária do Brasil – com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) – bloco integrado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Durante a cerimônia de formalização, a autoridade afirmou que o tratado comercial “prova” que é possível fortalecer o multilateralismo e o livre comércio, em meio a um “mundo de incerteza”.

“O comércio aproxima os povos e o desenvolvimento promove a paz”, disse.

Quem abriu o discurso da assinatura foi o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira. Sem mencionar as provocações norte-americanas, o chanceler comentou que “mesmo em um mundo marcado por tensões comerciais e protecionismo”, o novo acordo possibilitará a garantia do direito à defesa da soberania de cada país integrante.

“Hoje, damos um sinal claro de que, mesmo em um mundo marcado por tensões comerciais e pelo aumento do protecionismo, seguimos defensores do comércio internacional fundado em regras como instrumento para elevar o crescimento econômico e a prosperidade de nossos povos”, disse. 

Uma novidade apresentada por Vieira é que, ainda sob a Presidência brasileiro no Mercosul, deverá ser fechado neste ano um acordo de livre comércio com os Emirados Árabes Unidos. Com relação ao tratado com a União Europeia, a expectativa é de que seja assinado ainda neste semestre.

De acordo com o Itamaraty, a assinatura desta terça-feira ocorreu após 14 rodadas de negociações. Como resultado, as trocas comerciais do lado brasileiro, amparadas em tratados internacionais, devem surtir em um salto de 10% a partir da ratificação do acordo com a EFTA, o que equivale a um incremento de US$ 7,2 bilhões. Além disso, prevê até o ano de 2044 impactos positivos de R$ 2,69 bilhões sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, aumento de R$ 660 milhões em investimentos e R$ 3,34 bilhões sobre as exportações totais.

Mercosul e EFTA firmam acordo de livre comércio no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro
Letícia Clemente/MRE

Das autoridades ministeriais que participaram do evento pelo lado do Mercosul, estavam os chanceleres da Argentina, Gerardo Werthein; da Bolívia, Celinda Sosa Lunda; do Paraguai, Patricia Frutos; do Uruguai, Mario Lubetkin. Os países latino-americanos destacaram, em seus discursos, a importância do fortalecimento da cooperação regional, agora, com a EFTA. Chamou, entretanto, a atenção das exposições boliviana e argentina.

A ministra Celinda Sosa, da Bolívia, abriu sua fala saudando o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Enfatizou, em seu discurso, o significado “estratégico” do acordo Mercosul-EFTA em meio a um período “de complexos desafios para a região” e um “contexto global marcado por medidas coercitivas e unilaterais, perigo na estabilidade do nosso continente do Sul”, sem citar as crises promovidas pelos EUA.

“Assim, devemos  buscar alternativas soberanas para o benefício comum. Este acordo é uma grande oportunidade para a América Latina. Diversificar exportações e fomentar transferência tecnológica. Vamos avançar para um futuro mais próspero”, disse a ministra.

A Argentina, que foi o segundo discurso do evento depois de Vieira, não fez referências aos EUA, seu aliado político. O chanceler argentino Werthein destacou que a assinatura do acordo desta terça-feira “representa uma enorme oportunidade para nossos países”, e direcionou a “honra” ao bloco EFTA, afirmando que a região sul-americana “precisa de investidores que aportam capital e conhecimento”.

Vale lembrar que a Argentina, sob a liderança de Javier Milei, já ameaçou deixar o Mercosul ao afirmar que pretendia negociar um acordo comercial com os EUA. O assunto vinha sendo levantado até março deste ano pelo presidente ultraliberal que, sem provas, denunciou que o bloco sul-americano apenas enriqueceu os grandes industriais brasileiros “às custas do empobrecimento dos argentinos”.