Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No próximo dia 29 de maio, a África do Sul realiza as eleições mais imprevisíveis da era pós-apartheid. Todas as disputas eleitorais desde 1994 foram vencidas pelo partido Congresso Nacional Africano (CNA), que conseguiu manter a maioria do parlamento. Mas o desemprego e o aumento da pobreza, principalmente entre a juventude, fomentam a dúvida sobre a continuidade do grupo no poder.

A situação ocorre no ano em que a África do Sul completa três décadas do Dia da Liberdade: 27 de abril de 1994 foi a data das primeiras eleições democráticas no país, em que pessoas de todas as raças tiveram direito a voto. 30 anos após a emblemática eleição de Nelson Mandela, a população negra luta para preservar a memória dessa conquista e enfrentar as forças neoliberais que mantêm a estrutura social do regime de apartheid intacta e o país como campeão mundial de desigualdade.

Esse é o pano de fundo do documentário O próximo passo: 30 anos da eleição de Mandela, lançado no final de abril pelo Brasil de Fato e disponível no YouTube. Depoimentos inéditos de lideranças políticas, de movimentos populares, historiadores, artistas e ex-prisioneiros políticos mostram como foi construída a luta popular que pôs fim ao apartheid, apontando os caminhos que levaram a realização das eleições em 1994. E qual a situação atual em que o país chega às vésperas da eleição deste ano.

Flickr/United Nations Photo
Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul em 27 de abril de 1994

“A classe trabalhadora está sendo explorada, as pessoas recebem uma miséria para trabalhar longas horas, e os serviços não são prestados aos pobres e marginalizados neste país. Essa é uma situação que acontece no mundo inteiro. Estamos vendo o capitalismo chegar até nós, e se nós não enfrentarmos o capitalismo, continuaremos a ser explorados”, denuncia em seu depoimento Thapelo Mohapi, secretário-geral do maior movimento sul-africano de moradores de favelas, o Abahlali baseMjondolo.

“As realidades econômicas materiais, onde seus avós moravam, se você é uma pessoa negra e pobre, é provavelmente onde você está morando hoje. E onde seus avós moravam, como uma pessoa branca e rica, é provavelmente onde você ainda mora hoje. E isso é, de muitas maneiras, a razão pela qual há uma visão de que 1994 foi um primeiro passo, e um passo importante. Mas o segundo passo ainda precisa ser dado. 74% dos jovens estão desempregados na África do Sul. E, de novo, porque não mudamos realmente a estrutura econômica do apartheid. Isso é um fenômeno racial”, finaliza o pesquisador Jonis Ghedi Alasow.

Com direção de Iolanda Depizzol e Pedro Stropasolas, a produção do Brasil de Fato também denuncia que o Dia da Liberdade e o fim do regime de segregação racial não significaram a conquista da igualdade entre a maioria negra e a minoria branca do país. É o que coloca em seu depoimento Irvin Jim, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (Numsa).

“Aprendemos rapidamente que o que garantimos através disso era poder político, sem poder econômico. E ficou muito claro que o que tivemos foi um acordo negociado, onde basicamente a classe dominante na sociedade, que é a classe capitalista, que detém o complexo mineral, energético e financeiro, que constitui a economia da África do Sul, não estava preparada para, basicamente, retificar a propriedade de negros e africanos que são economicamente marginalizados, sem-terra e despossuídos”, pontua o líder da maior entidade de classe do país.