Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No debate em torno do aborto e do direito das mulheres sobre seus corpos, o termo “aborto masculino” é utilizado para descrever os casos de homens que não assumem a paternidade dos seus filhos, e que dificilmente sofrem a mesma criminalização imposta às gestantes que desejam interromper sua gravidez.

Na Argentina, porém, esse comportamento masculino poderia se tornar legal, caso a candidata a deputada Lilia Lemoine, do partido de extrema direita A Liberdade Avança, seja eleita e cumpra a sua principal promessa: um projeto para facilitar a “renúncia à paternidade” por parte dos homens.

“Se as mulheres têm o privilégio de poder matar os seus filhos e desistir de serem mães, porque os homens devem ser obrigados por lei a sustentar uma criança?”, questionou a candidata, em entrevista a um podcast local.

Ao dar detalhes sobre o projeto, Lemoine explicou que este estabelecerá que uma mulher, ao descobrir que está grávida, terá 15 dias para avisar o pai, que poderá decidir se assumirá ou não sua responsabilidade”.

Aliada de Milei

Vale ressaltar que Lemoine é militante do partido criado pelo ultraliberal Javier Milei, líder na maioria das pesquisas sobre a corrida presidencial.

Lilia Lemoine, do partido de extrema direita A Liberdade Avança, disse que, se eleita, apresentará projeto para facilitar ‘renúncia à paternidade’ por parte dos homens

Partido A Liberdade Avança

Lemoine é uma das candidatas à deputada na Argentina pelo partido de Javier Milei

Apesar de sua legenda se definir como “defensora da liberdade em todos os âmbitos”, boa parte dos seus representantes, assim como a própria Lemoine, são contrários à lei que legalizou o aborto na Argentina em 2020.

Em sua retórica, a candidata e os demais aliados de Milei relativizam a liberdade das mulheres sobre seus corpos e enfatizam a “liberdade do bebê que está por nascer”.

O próprio Milei já defendeu esse argumento diversas vezes, mas nunca se comprometeu com derrubar a lei do aborto, apenas disse que estudaria um possível plebiscito para decidir sobre sua manutenção ou não.

O governo argentino reagiu à proposta de Lemoine através de um comentário de Ayelén Mazzina, ministra da Mulher, Gênero e Diversidade.

“Nós temos registros de ao menos 1,6 milhão de mulheres na Argentina que são mães solteiras, cujos filhos não têm o nome do pai em seu registro. Todas elas juntas cuidam de 3 milhões de crianças. A institucionalidade deve atuar para amparar essas mulheres, mas também para tentar evitar essa situação, não para promovê-la”, afirmou a ministra.