Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Corte de Apelação do Tribunal de Bolonha, na Itália, autorizou na segunda-feira (10/07) a extradição do padre ítalo-argentino Franco Reverberi Boschi para Argentina. Apesar da decisão, ainda cabe recurso. 

Desde maio de 2011, Dom Franco mora em Sorbolo e reza missa todos os dias na igreja matriz da cidade. Ele nasceu lá, mas, aos 11 anos, foi com a família para San Rafael, cidade localizada no sul da região de Mendoza, na Argentina.

Na época da ditadura do general Jorge Videla (1976 e 1981), Dom Franco era capelão militar e trabalhava na Casa Departamental, um centro clandestino de detenção. Segundo relatos de testemunhas, ele assistia sessões de tortura com a Bíblia nas mãos induzindo os prisioneiros políticos a colaborarem com seus torturadores.

Após a redemocratização na Argentina, e com o avanço das investigações contra os responsáveis por crimes cometidos durante a sangrenta ditadura de Videla, Dom Franco foi para a Itália durante o processo do Ministério Público de Mendoza, em 2010. O nome do padre entrou para a lista de procurados da Interpol em 2012. 

O argentino sempre negou ter ciência de que pessoas contrárias à ditadura argentina fossem torturadas em San Rafael. No entanto, cinco testemunhas descreveram com detalhes as torturas sofridas na prisão clandestina, confirmando a presença do padre. Um deles, Roberto Flores, disse que o sacerdote não participou da violência diretamente, mas impassivelmente, com a Bíblia na mão.

Já Mário Bracamonte disse tê-lo visto quatro vezes: “lembro-me de que em uma tarde fomos submetidos a uma surra particularmente violenta. O chão da sala estava vermelho de sangue. Dom Franco ordenou que limpássemos com nossos corpos. Era inverno, a temperatura era de 10 graus abaixo de zero”.

Durante regime de Videla, o ítalo-argentino Franco Reverberi Boschi assistia sessões de tortura com a Bíblia na mão; ainda cabe recurso em última instância

Janaina Cesar

Dom Franco, em 2015, durante missa na cidade de Sorbolo, na Itália

Ainda de acordo com a testemunha, uma noite, Bracamonte foi torturado por quatro horas. Em um determinado momento, viu Franco, que lhe disse: “o que você está olhando? Cão!”.

A Corte de Apelação de Bolonha agora tem 15 dias para publicar a motivação da sentença. Após essa etapa, a defesa de Dom Franco pode recorrer à Corte de Cassação, que é a terceira e última instância da Justiça italiana. 

Em 2015, Opera Mundi esteve em Sorbolo para tentar falar com Dom Franco. A repórter Janaina Cesar foi hostilizada pelos frequentadores da igreja e pelo próprio padre, que da casa paroquial gritou que chamaria a polícia. Ainda um parente argentino, que estava visitando o sacerdote, ameaçou a jornalista. 

Segundo pedido de extradição

Esse é o segundo pedido de extradição do padre realizado pela Argentina. Por diversos motivos, a Justiça da Itália negou em 2013 o primeiro pedido: Dom Franco é italiano e o crime de tortura só foi introduzido no código penal italiano em 2017.

O atual pedido foi enviado em outubro de 2021 pelo procurador argentino Dante Vega, que juntou novas provas contra o padre, acusando-o também pelo assassinato do ativista político José Guillermo Berón. 

A defesa de Dom Franco interpelou a Justiça italiana dizendo que o padre tinha problemas de saúde para enfrentar o voo, caso a extradição fosse concedida. No final de abril, um médico, a pedido da Corte de Apelação de Bolonha, emitiu um parecer dizendo que as “condições atuais de saúde do Padre Franco são compatíveis com a transferência para a Argentina”.