Terror sionista: 79 anos do atentado contra o Hotel King David
Hotel abrigava diversos documentos que identificavam as milícias sionistas responsáveis por ataques na Palestina
Há 79 anos, em 22 de julho de 1946, um atentado terrorista destruía o Hotel King David, localizado em Jerusalém, na Palestina. O ataque foi conduzido pelo Irgun, uma organização paramilitar sionista, e deixou 91 mortos e dezenas de feridos.
O hotel abrigava os escritórios da administração do Mandato Britânico, onde estavam armazenados diversos documentos que identificavam as milícias sionistas responsáveis por ataques na Palestina. A explosão visava destruir documentos que pudessem comprometer a Agência Judaica.
A explosão no Hotel King David foi o pior ataque dirigido pelas milícias sionistas contra as autoridades britânicas na Palestina Mandatária. A maior parte das vítimas, entretanto, eram trabalhadores palestinos que estavam no interior do hotel no momento da explosão.
O ataque foi organizado por Menachem Begin, que posteriormente se tornaria primeiro-ministro de Israel. O atentado é até hoje retratado como um marco da insurgência sionista por autoridades israelenses.
O Mandato Britânico da Palestina
Após a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, as potências ocidentais dividiram entre si os territórios do sultanato localizados no Oriente Médio. Em 1920, a Conferência de San Remo cedeu o controle da Palestina para o Reino Unido.
O acordo de San Remo incorporava os termos da Declaração de Balfour, emitida três anos antes pelo Secretário de Assuntos Estrangeiros do Reino Unidos e direcionada ao Barão Rothschild. No documento, o governo britânico se comprometia a apoiar a criação de “um lar nacional para o povo judeu na Palestina”.
Desde o fim do século 19, o movimento sionista havia intensificado a campanha pela criação de um “Estado Judeu” nos territórios palestinos. A convergência de interesses econômicos e políticos garantiria o apoio das potências ocidentais a esse projeto.
Um Estado aliado na Palestina daria ao Ocidente um posto estratégico para controlar rotas comerciais, recursos naturais e reservas energéticas do Oriente Médio. Assim, a partir da década de 20, o movimento sionista iniciaria um processo de colonização em larga escala do território palestino.
Para garantir o sucesso da empreitada, os sionistas criaram diversas milícias e organizações paramilitares incumbidas de combater a resistência árabe, apoiar a colonização dos territórios palestinos e pavimentar o caminho para a futura instalação de um Estado judeu. Essas milícias foram responsáveis por conduzir uma série de ataques, atentados e massacres contra os palestinos, visando forçá-los a abandonarem suas terras.
A população local nunca foi consultada a respeito do projeto sionista. Temendo pela perda de suas terras e soberania, os palestinos deram início a uma série de insurreições contra a colonização sionista e a ocupação britânica. Entre 1936 e 1939, milhares de pessoas lutaram na Grande Revolta Palestina. O levante foi violentamente esmagado pelo governo britânico. Milhares de palestinos foram mortos pela repressão.
Em 1939, em uma tentativa de reduzir as tensões, o Reino Unido publicou o chamado “Livro Branco”. O documento limitava a imigração judaica a 75.000 pessoas nos próximos cinco anos e previa a criação de um Estado único na Palestina, a ser partilhado por árabes e judeus, dentro do prazo de dez anos.

O Hotel King David, destruído após o atentado de 1946. Fotografia publicada no Jerusalen Post. Wikimedia Commons
A insurgência sionista
A publicação do “Livro Branco” enfureceu as lideranças sionistas, que o consideraram uma traição à Declaração de Balfour e uma tentativa de enterrar o projeto de um Estado judeu.
Ainda em 1939, David Ben-Gurion, o chefe da Agência Judaica, conclamou os sionistas a ignorarem o Livro Branco e prosseguirem com o projeto de colonização da Palestina. Era a senha para acelerar a “Aliá Bet”, as operações de imigração ilegal.
Organizações paramilitares sionistas como o Haganá (e sua divisão de elite, o Palmach), o Irgun e o Lehi intensificaram suas ações armadas, passando agora a incluir os britânicos como alvos. Sob o patrocínio da Agência Judaica, as três organizações se uniriam em 1945 para formar o Movimento de Resistência Unida (MRU), uma aliança militar que pretendia expulsar os britânicos da Palestina, de modo a acelerar a instalação de um Estado judeu.
Fundado em 1931 como uma dissidência do Haganá, o Irgun era uma milícia perfilada à extrema-direita judaica, estruturada sob forte inspiração fascista. A organização seria responsável por perpetrar alguns dos piores massacres, chacinas e atentados ocorridos na Palestina Mandatária. O Irgun daria origem ao Lehi, uma dissidência ainda mais extremada, que também conduziria uma série de atrocidades ao longo dos anos 40.
Entre 1944 e 1947, Irgun e Lehi realizaram incontáveis atentados terroristas contra aeródromos, instalações ferroviárias, edifícios governamentais, delegacias e guarnições militares do Reino Unido, assassinando centenas de pessoas — incluindo importantes burocratas britânicos, tais como Walter Guinness, líder da Câmara dos Lordes e Ministro de Estado para o Oriente Médio.
Reagindo ao terror sionista, o governo britânico lançou a Operação Ágata em junho de 1946. Mais de 17.000 soldados foram mobilizados em operações de busca e apreensão na sede da Agência Judaica e em centros de articulação do movimento sionista espalhados por cidades como Jerusalém, Haifa e Tel Aviv. Cerca de 2.700 pessoas foram presas.
Os soldados confiscaram uma enorme quantidade de documentos secretos que comprovavam o envolvimento da Agência Judaica na articulação de ações terroristas e no planejamento de um golpe de Estado contra o Mandato Britânico. Esses documentos foram armazenados nos escritórios administrativos do governo britânico, localizados na ala sul do Hotel King David, em Jerusalém.
O atentado
Imediatamente após a concretização da Operação Ágata, as milícias sionistas começaram a planejar a explosão do Hotel King David. O objetivo era destruir os documentos que foram apreendidos, evitando que eles incriminassem a Agência Judaica ou expusessem lideranças sionistas envolvidas na campanha de terror.
Inaugurado em 1932, o Hotel King David foi o primeiro hotel de luxo de Jerusalém. Desde 1938, o edifício de sete andares sediava os escritórios centrais da administração do Mandato Britânico, bem como o quartel-general do exército. Além do uso governamental, o hotel disponibilizava espaços abertos ao público em geral, incluindo um café e uma boate.
A operação foi coordenada por Menachem Begin, o líder do Irgun. O planejamento ficou a cargo de Amichai Paglin, chefe de operações da milícia, e Yitzhak Sadeh, o comandante do Palmach. O atentado recebeu o aval de Moshe Sneh, o líder do Haganá.
O plano foi posto em prática na manhã de 22 de julho de 1946. Uma equipe de dez integrantes do Irgun, disfarçados como funcionários palestinos do hotel, ingressou no porão do edifício transportando 350 quilos de explosivos ocultos em latas de leite. As bombas foram posicionadas junto às colunas principais que sustentavam a ala sul do edifício.
Após deixarem o recinto, os terroristas detonaram um pequeno explosivo na entrada do hotel. A ação foi justificada como uma tentativa de “afastar os transeuntes”, mas o efeito foi oposto: assustadas com a explosão, as pessoas que estavam dentro do hotel se deslocaram para a área oposta, justamente onde as bombas estavam plantadas.
A explosão ocorreu às 12h37, causando o colapso de toda a ala sul do hotel. O impacto foi sentido a quilômetros de distância e quebrou as janelas dos edifícios posicionados no entorno.
O ataque matou 91 pessoas, incluindo 41 palestinos, 28 cidadãos britânicos, 17 judeus e 5 pessoas de outras nacionalidades. Dezenas de pessoas ficaram gravemente feridas. A maioria das vítimas eram trabalhadores do hotel e funcionários do governo britânico.
As operações de resgate se arrastaram por três dias. Seis sobreviventes foram removidos com vida dos escombros. Foram necessárias 2.000 viagens de caminhão para remover os entulhos da explosão.
Após o ataque
O atentado chocou a opinião pública no Reino Unido, mas foi tratado com relativa condescendência pelas autoridades britânicas. O ex-primeiro-ministro Winston Churchill, por exemplo, embora tenha condenado o ataque, se posicionou em favor das reivindicações dos sionistas, cobrando o fim das restrições à imigração judaica para a Palestina.
O premiê Clement Attlee ordenou uma grande operação militar para desarticular as ações das milícias sionistas. A ação resultou em centenas de prisões, mas não conseguiu conter a escalada dos ataques por muito tempo.
O Irgun assumiu a autoria do atentado, classificando-o como uma “ação legítima de combate contra um ocupante colonial”. Afirmou ainda que
“lamentava pelas vítimas judias”, mas não pelos britânicos mortos na ação. Os palestinos, que compunham a maioria das vítimas, sequer foram citados na declaração.
Os sionistas culparam os britânicos pelas mortes, alegando que as autoridades foram informadas sobre a explosão iminente, mas não tomaram providências para evacuar o prédio. O governo britânico afirma que o alerta jamais ocorreu.
O líder sionista Chaim Weizmann se emocionou ao ser indagado sobre o atentado e chegou a dizer que sentia “enorme orgulho dos nossos rapazes”, em referência aos terroristas do Irgun.
Menachem Begin, responsável por coordenar o atentado, afirmou que os britânicos optaram por não esvaziar o prédio para ter um motivo para “difamar a militância judaica”. Ele defendeu o atentado terrorista em sua obra “The Revolt”.
Filiado ao Likud, Begin assumiu o governo israelense em 1977. Ele ampliou a política de assentamentos ilegais na Cisjordânia e promoveu a ideologia expansionista da “Grande Israel”, defendendo a incorporação permanente dos territórios ocupados após a Guerra dos Seis Dias.
Begin também foi responsável por ordenar a invasão do Líbano em 1982. A operação causou milhares de mortes e atrocidades, como o Massacre de Sabra e Chatila. Já o Irgun, a exemplo das demais milícias envolvidas em ataques terroristas, foram plenamente integrados ao exército de Israel.
O ataque contra o Hotel King David segue até hoje sendo reivindicado por parte dos sionistas como um marco da “resistência israelense”. Em 1995, a Câmara Municipal de Jerusalém batizou uma avenida da cidade com o nome de Joshua “Gal” Goldschmidt, um dos responsáveis pelo atentado.
Em 2006, o governo de Israel realizou um ato para celebrar o 60º aniversário do ataque terrorista, ao qual compareceram Benjamin Netanyahu e vários ex-membros do Irgun. Na ocasião, uma placa comemorando o ataque foi posicionada na fachada do hotel. Ela segue no mesmo local até hoje.























