Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

Há 100 anos, em 3 de outubro de 1925, nascia a guerrilheira Simone Segouin. Com apenas 17 anos, ela se tornou uma combatente da Resistência Francesa, participando da luta contra as tropas nazistas na região de Chartres.

Integrante da FTP, uma organização paramilitar do Partido Comunista Francês, Simone atuou em diversas missões de sabotagem, emboscadas e enfrentamentos armados contra as tropas alemãs. Ela foi a única mulher a participar dos desfiles de libertação de Chartres e esteve presente na libertação de Paris.

Uma fotografia de Simone portando uma submetralhadora, publicada em uma matéria da revista Life, contribuiu para transformá-la em um dos rostos mais conhecidos da Resistência Francesa. Ela foi condecorada com a Croix de Guerre e com a Ordem Nacional da Legião de Honra.

A juventude de Simone e a Queda da França

Simone Segouin nasceu em Thivars, um pequeno vilarejo nos arredores de Chartres, no norte da França. Ela era a única menina entre os quatro filhos de Marie Cécile Chaboche e Robert Ségouin. Seu pai era um veterano condecorado da Primeira Guerra Mundial e um engajado militante do Partido Comunista Francês (PCF).

A família morava em uma pequena fazenda, mantendo-se com o cultivo de alimentos e a criação de animais. Simone estudou até os 14 anos, quando precisou deixar a escola para ajudar a família na lavoura. O pai a ensinou desde cedo a manusear armas e a instruiu em técnicas de autodefesa.

A vida pacífica de Simone mudou abruptamente em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu na Europa. A França capitulou diante das tropas nazistas já no ano seguinte e o país foi dividido em duas grandes regiões. O norte ficou sob ocupação militar alemã e o sul passou a ser administrado por um regime colaboracionista chamado “França de Vichy”, entregue ao marechal Philippe Pétain.

Com o Exército Francês rendido, coube aos civis a tarefa de lutar contra a ocupação nazista. Surgiu assim a Resistência Francesa, movimento que chegou a reunir mais de 400.000 membros — ditos “partisans” ou “maquis”. Os comunistas tiveram papel central na Resistência, liderando a organização das milícias e coordenando o trabalho de sabotagem, guerrilha e enfrentamento aberto.

Robert, o pai de Simone, juntou-se à Resistência e permitiu que os guerrilheiros usassem sua fazenda como um centro de operações. Era uma decisão arriscada. Os nazistas tinham ocupado todo o departamento de Eure-et-Loir e passaram a exigir que as moças desempregadas da região executassem serviços domésticos em suas bases militares.

O pai de Simone conseguiu impedir que a jovem fosse convocada, afirmando que ela já trabalhava como costureira. Mas os soldados alemães começaram então a frequentar a propriedade da família, levando uniformes que precisavam ser consertados e ajustados. Temendo que os alemães descobrissem a presença de membros da Resistência, Robert pediu para que a filha deixasse a fazenda.

Atuação na Resistência Francesa

Em 1943, então com 17 anos, Simone ingressou na Resistência Francesa, aderindo ao grupo “Francs-Tireurs et Partisans” (FTP), uma organização paramilitar criada pelo Partido Comunista. Ela foi recrutada por Roland Boursier, o “Tenente Germaine” — um ex-engenheiro naval que havia conseguido fugir de um campo de concentração alemão.

O convite para se juntar à Resistência ocorreu após Simone assegurar a Boursier que tinha “vontade de matar nazistas”. Ela recebeu uma carteira de identidade falsa, passando a usar o nome “Nicole Minet”. Criou também uma história de fachada, alegando ser originária de Dunquerque, uma cidade portuária que havia sido devastada durante a guerra — o que dificultaria qualquer tentativa dos alemães de averiguarem sua identidade.

Simone atuou inicialmente como mensageira, realizando a troca de correspondências e informações entre as várias células da Resistência. Depois, começou a acompanhar missões de reconhecimento e a ajudar no transporte de armas e munições. Decidida a participar dos combates, a jovem pediu para fazer o treinamento de guerrilha.

Como combatente ativa do FTP, Simone participou de escaramuças e emboscadas, atacando comboios e destacamentos inimigos. Ela também tomou parte de várias operações de sabotagem, ajudando a inutilizar linhas férreas e a obstruir pontes e estradas. Simone foi uma das guerrilheiras que realizou a sabotagem ferroviária de Amilly, interrompendo o uso de uma linha que levava suprimentos para o comando nazista em Paris.

A guerrilheira participou das operações de resgate dos prisioneiros do campo de concentração de Voves. Ela abrigou vários dos fugitivos na fazenda da sua família e ajudou a conduzir outro grupo para a propriedade rural de Pierre Paulmier, localizada em Chatillon en Dunois.

Em agosto de 1944, Simone participou da libertação de Chartres. A campanha envolveu combates urbanos e manobras táticas para desalojar os militares alemães, que haviam fortificado a cidade. Foi durante essa operação que Simone realizou sua maior façanha na guerra, ajudando Boursier a capturar um grupo de 24 soldados nazistas.

A guerrilheira ganhou notoriedade internacional ainda em 1944, após ser objeto de uma matéria publicada pela revista Life, intitulada “A partisan de Chartres”. Produzida por Jack Belden, a reportagem foi ilustrada por uma famosa fotografia de Robert Capa, em que Simone aparece empunhando uma submetralhadora alemã MP-40, confiscada dos soldados nazistas.

Simone Segouin foi a única mulher a participar dos desfiles de libertação de Chartres. Concluída a missão na cidade, ela se uniu à 2ª Divisão Blindada Francesa, comandada pelo general Philippe Leclerc, e marchou até Paris, testemunhando em primeira mão libertação da capital francesa em 25 de agosto de 1944.

 

Simone Segouin, fotografada em 1944
Arquivos Nacionais, Estados Unidos. Wikimedia Commons

O pós-guerra

Após o término do conflito, Simone foi homenageada por Charles Tillon, o líder da Resistência Francesa. Por seus feitos no campo de batalha, foi promovida ao posto de tenente e condecorada com a Croix de Guerre, uma das mais altas distinções militares francesas.

A ex-guerrilheira se uniu ao tenente Roland Boursier, o partisan que a recrutou para a Resistência. Eles nunca se casaram oficialmente, mas permaneceram juntos por toda a vida e tiveram seis filhos.

Simone se tornou enfermeira pediátrica e viveu em Chartres por várias décadas. Ela foi homenageada emprestando seu nome ao Centro Comunitário de Thivars e a uma rua em Courville-sur-Eure.

Em 2021, a vida de Simone foi retratada em um documentário produzido pela RMC Découverte. No mesmo ano, ela recebeu a Ordem Nacional da Legião de Honra, a condecoração máxima da França. Simone Segouin faleceu em 21 de fevereiro de 2023, aos 97 anos.