Ivan Sereda: cozinheiro, caçador de nazistas e herói da Segunda Guerra
Soviético foi responsável pela cozinha do Exército Vermelho e aprisionar sozinho uma tripulação de soldados alemães
Se você tivesse que apostar em quem venceria um embate entre um tanque de guerra, cheio de soldados armados, e um cozinheiro com apenas um machado, dificilmente optaria pelo segundo. Mas saiba que, se o cozinheiro em questão fosse o soviético Ivan Sereda, teria feito um mau negócio.
Recrutado para atuar como cozinheiro do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, Ivan foi responsável por inutilizar um tanque de guerra e capturar sozinho toda a tripulação de soldados alemães, usando apenas um machado, um rifle e uma lona. Posteriormente, ele enfrentou e matou 12 soldados nazistas, novamente sem ajuda de ninguém.
Soviético atuou como chefe de cozinha do Exército Vermelho, foi responsável por arruinar um tanque de guerra e aprisionar sozinho a tripulação de soldados alemães
As façanhas valeram a Ivan Sereda múltiplas condecorações. Ele recebeu a Ordem de Lênin, a Medalha da Estrela de Ouro e o título de Herói da União Soviética.
Um cozinheiro na guerra
Ivan Pavlovich Sereda nasceu em 1º de julho de 1919, no vilarejo de Oleksandrivka, nos arredores de Kramatorsk, no leste da Ucrânia. Oriundo de uma família de camponeses, ele cresceu em um período bastante tumultuado, em uma região que serviu de palco a algumas das batalhas mais intensas da Guerra de Independência da Ucrânia e da Guerra Civil Russa.
Ainda pequeno, Sereda se mudou com seus pais para Galitsynovka, uma aldeia rural no distrito de Marinka. Ali, conciliou os estudos com o trabalho na lavoura. Na juventude, matriculou-se na Escola Profissionalizante de Culinária de Donetsk, onde se graduou como cozinheiro.
Sereda sonhava em trabalhar como chefe de cozinha nos restaurantes famosos de Kiev, Leningrado e Moscou, mas a eclosão da Segunda Guerra Mundial o obrigaria a alterar as expectativas sobre o público-alvo.
Em junho de 1941, as tropas da Alemanha nazista invadiram a União Soviética durante a Operação Barbarossa — a maior campanha militar da história. A ofensiva abriu uma frente de batalha com quase 3.000 quilômetros de extensão, mobilizando cerca de quatro milhões de soldados, 600 mil veículos, 3.300 tanques e 2.500 aeronaves.
Os efeitos foram devastadores. Mais de 5.000 cidades e vilarejos soviéticos foram completamente destruídos. Milhões de civis morreram em função dos massacres, bombardeios, crises famélicas e doenças. A operação se converteu em uma verdadeira guerra de extermínio.
Sereda foi um dos milhões de jovens soviéticos recrutados para servir nas Forças Armadas após o início da guerra. Sua missão, no entanto, não era participar do combate direto na linha de frente. Ele foi designado como cozinheiro. Era responsável por preparar as refeições no 91º Regimento da 46ª Divisão de Veículos Blindados do Exército Vermelho.
Derrotando um tanque com um machado
Ainda no início da Operação Barbarossa, a unidade em que Sereda servia foi incumbida de uma missão nas florestas da Letônia. A ofensiva alemã havia sobrecarregado as defesas soviéticas, permitindo que as tropas do Eixo dominassem quase toda a região. A cidade de Dvinsk (atual Dunaburgo) havia caído nas mãos dos nazistas e os soviéticos lutavam para tentar conter o avanço da Divisão Panzer comandada por Manstein.
Foi nesse cenário que Sereda realizou a façanha que o transformou em herói. Em uma manhã de agosto de 1941, o cozinheiro estava sozinho em um acampamento militar montado em uma clareira nos arredores de Dvinsk. Os soldados estavam treinando manobras e o deixaram preparando a refeição na cozinha do campo.
Sereda viu que três tanques estavam se aproximando do acampamento e imaginou que teria de preparar mais comida para os visitantes inesperados. Foi quando ele notou que os tanques não eram soviéticos — eram veículos alemães.
O cozinheiro rapidamente se escondeu na cozinha do acampamento, enquanto um dos blindados parava ao lado das tendas. Quatro soldados nazistas desceram então do tanque para inspecionar o local.
Quando os alemães começaram a caminhar em direção ao seu esconderijo, Sereda decidiu que era melhor partir para o “tudo ou nada”. Agarrou um machado que estava por perto e saiu correndo, berrando como um maníaco e indo para cima dos nazistas.
Assustados — e talvez cogitando que estivessem em menor número — os alemães correram de volta para o tanque, com Sereda em seu encalço, brandindo o machado. Eles fecharam a escotilha e começaram a disparar através da metralhadora coaxial.
O cozinheiro, no entanto, pensou rápido. Ele usou uma lona e o seu próprio avental para cobrir os visores do veículo, deixando os alemães às cegas. Depois escalou o tanque e começou a atacar os canos das armas com machadadas.
Sereda passou a golpear incessantemente a escotilha do tanque, enquanto berrava para que os seus colegas trouxessem granadas para jogá-las dentro do blindado. A bem da verdade, ele estava sozinho — mas os alemães não sabiam disso e, receosos, resolveram se render.
Armado com seu rifle, Sereda obrigou os soldados nazistas a saírem do tanque vagarosamente, desarmados e com as mãos atadas. Quando os soviéticos voltaram ao acampamento, encontraram o cozinheiro com o rifle em punho ao lado do tanque e uma fila de soldados nazistas rendidos e amarrados.

Ivan Sereda.
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Herói da URSS
Sereda parece ter gostado da experiência de combater blindados. Semanas depois, quando sua divisão fugia da perseguição de um destacamento nazista, um tanque alemão parou do lado de uma moita onde ele estava escondido.
Quando a escotilha se abriu para que os soldados alemães saíssem para uma inspeção, ele jogou uma granada que matou parte dos ocupantes do veículo. Em seguida, ele subiu no tanque com seu fuzil e atirou nos que tinham sobrevivido, eliminando mais 12 soldados nazistas.
Por sua demonstração de coragem e pela “execução exemplar de missões contra os invasores nazistas”, Sereda foi condecorado com a Ordem de Lênin, com a Medalha da Estrela de Ouro e com o título oficial de Herói da União Soviética.
Sereda foi matriculado nos cursos de treinamento avançado para oficiais e chegou à patente de tenente sênior. Ele comandou seu próprio pelotão e participou da defesa de Leningrado e da Batalha de Moscou. Em 1944, cursou a Escola de Cavalaria de Novocherkassk e foi nomeado Chefe Adjunto de Alimentação e Suprimentos do 8º Regimento de Cavalaria.
Após a guerra, Sereda exerceu o cargo de presidente do conselho da aldeia de Oleksandrivka. Ferido gravemente em quatro ocasiões durante o conflito, ele ficou com a saúde muito debilitada. Faleceu precocemente em 18 de novembro de 1950, aos 31 anos.
Ivan Sereda foi postumamente homenageado com um obelisco erguido em Donetsk, além de uma placa memorial em sua cidade natal. Sua façanha foi retratada no curta-metragem “O Cozinheiro”, lançado pela Artel Film Production em 2020.























