Atrocidades do sionismo: 72 anos do Massacre de Qibya
O vilarejo palestino, localizado na Cisjordânia, era alvo de um ataque devastador conduzido pelas tropas israelenses
Há 72 anos, em 14 de outubro de 1953, o vilarejo palestino de Qibya, localizado na Cisjordânia, era alvo de um ataque devastador conduzido pelas tropas israelenses. A operação consistia em uma expedição punitiva ordenada pelo próprio David Ben-Gurion, o primeiro-ministro de Israel.
O Massacre de Qibya foi chefiado por Ariel Sharon, então um major do exército israelense e comandante da infame Unidade 101. Após bombardearem o vilarejo com morteiros, os soldados israelenses dinamitaram 45 casas com os moradores dentro.
Ao menos 69 pessoas morreram durante o massacre — dois terços das quais eram mulheres e crianças. A matança causou indignação internacional e foi condenada por uma resolução da ONU, mas nenhum agente israelense foi punido. Sharon, o comandante do massacre, se tornaria posteriormente o premiê de Israel.
A Nakba e a Guerra Árabe-Israelense
A proclamação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948 foi seguida pela instauração de um violento processo de limpeza étnica conhecido como “Nakba” (“catástrofe” em árabe). Milícias sionistas atacaram centenas de cidades e vilarejos palestinos, forçando o deslocamento em massa da população nativa.
Quase 800.000 palestinos foram expulsos de suas terras e cerca de 600 vilarejos e aldeias foram destruídos. Estima-se que ao menos 15.000 palestinos foram assassinados em uma sequência interminável de massacres e chacinas perpetrados pelas forças sionistas em locais como Deir Yassin, Lida, Ramla, Tantura, Safsaf, Al-Dawayima, Saliha, etc.
Rejeitando a partilha determinada pela ONU e objetivando proclamar o Estado Unido da Palestina, os países da Liga Árabe (Egito, Síria, Líbano, Iraque e Jordânia) declararam guerra a Israel. A Guerra Árabe-Israelense se estendeu até 1949 e terminou com a derrota das nações árabes.
A guerra deu a Israel o pretexto para expandir seu território muito além dos limites previstos pela Resolução 181 da ONU, ocupando mais de 70% da Palestina Mandatária. Os armistícios assinados com as nações árabes em 1949 reduziram o território dos palestinos a dois bolsões — a Cisjordânia (administrada pela Jordânia) e a Faixa de Gaza (administrada pelo Egito).
Os conflitos na Linha Verde
A fronteira separando os bolsões palestinos dos territórios militarmente ocupados por Israel era designada como “Linha Verde”. As áreas no entorno da linha permaneceram como focos ativos de conflito e eram marcadas por infiltrações constantes.
Refugiados palestinos frequentemente cruzavam a Linha Verde tentando voltar para suas antigas casas ou procurando por familiares de quem haviam se separado. Outros partiam em busca de seus pertences e mercadorias ou tentavam cuidar das lavouras que foram forçados a abandonar. Havia ainda eventuais incursões lideradas por grupos da Resistência Palestina, que seguiam tentando articular a guerrilha contra a ocupação israelense.
As infiltrações oriundas de Israel também eram constantes. Além dos colonos israelenses que ultrapassavam a Linha Verde em busca de terras para novos assentamentos, milícias sionistas e tropas regulares do exército de Israel realizavam incursões de forma rotineira. As ações de guerrilheiros palestinos eram usadas como justificativa para invasões e campanhas de bombardeios.
Os atritos e enfrentamentos ao longo da Linha Verde eram constantes. Entre 1950 e 1953, a Comissão Mista de Armistício emitiu 44 declarações condenando ataques israelenses contra alvos civis da Cisjordânia. O governo jordaniano relatou que 629 palestinos foram assassinados ou feridos na Linha Verde pelas forças israelenses entre 1949 e 1953.
Israel, por sua vez, alegou que 57 de seus civis foram mortos em decorrência das infiltrações palestinas. Esses ataques ensejaram uma série de expedições punitivas das tropas israelenses, sempre empregando força desproporcional. Cidades como Latrun, Falameh e Calquília foram bombardeadas, causando a morte de muitos civis.
O evento que desencadearia a ofensiva israelense contra Qibya foi um ataque ocorrido no vilarejo de Yehud em 12 de outubro de 1953. A explosão de uma granada causou a morte de três civis israelenses — uma mãe e seus dois filhos. Israel imediatamente afirmou que o ataque fora realizado por infiltradores palestinos oriundos da região de Qibya, na Cisjordânia, mas não apresentou quaisquer evidências.
A acusação israelense foi questionada pelo governo da Jordânia. Uma investigação independente realizada por observadores da ONU não encontrou evidências que ligassem os palestinos ao atentado.
Os israelenses, no entanto, já tinham se decidido em favor de uma resposta militar. A ordem partiu do próprio gabinete do primeiro-ministro, David Ben-Gurion. Defensor convicto do belicismo israelense, o premiê argumentava que o uso da força era instrumento basilar para a consolidação do projeto político sionista.

Moradores de Qibya retornam ao vilarejo após o ataque de Israel
Wikimedia Commons
O massacre
Ben-Gurion incumbiu seu Ministro da Defesa, Pinhas Lavon, de coordenar a ofensiva retaliatória. A campanha, batizada de “Operação Shoshana”, teria como alvo o vilarejo palestino de Qibya, uma pequena aldeia situada a 30 quilômetros de distância de Ramallah.
O ataque foi liderado pessoalmente por Ariel Sharon, então major do exército israelense e comandante da Unidade 101, um grupamento militar dedicado a operações especiais. Veterano da Guerra Árabe-Israelense, Sharon era conhecido por sua agressividade e pelo desprezo direcionado aos povos árabes. Ele comandaria inúmeras operações ao longo de sua carreira militar — sempre deixando saldos de dezenas de mortos.
A operação teve início na noite de 14 de outubro de 1953, por volta das 21 horas. Foram mobilizados mais de 600 soldados, incluindo homens da Unidade 101 e do 890º Batalhão de Paraquedistas. Após cruzarem a Linha Verde, os militares israelenses usaram torpedos de bangalore para romper as cercas de arame farpado que protegiam a aldeia. Minas terrestres foram instaladas nas estradas, visando impedir a aproximação das forças jordanianas.
O pequeno grupo de guardas que fazia a segurança da cidade foi rapidamente eliminado. A aldeia foi então submetida a um intenso bombardeio com morteiros, que se estendeu ao vilarejo vizinho de Budrus. Em seguida, os militares israelenses iniciaram a invasão a Qibya por três flancos simultâneos. Eles varreram o vilarejo casa a casa, disparando contra os moradores e atacando as residências com granadas.
Ariel Sharon ordenou aos soldados que dinamitassem as residências do povoado. Mais de 600 quilos de explosivos foram utilizados no Massacre de Qibya. Quarenta e cinco casas foram dinamitadas com os moradores dentro. Uma mesquita, uma escola primária e um reservatório de água também foram destruídos. Os civis que tentavam fugir da matança eram alvejados indiscriminadamente pelos soldados.
A operação se estendeu por quatro horas, terminando na madrugada de 15 de outubro. O massacre deixou ao menos 69 pessoas mortas, a maioria dos quais eram mulheres e crianças. Dezenas de pessoas ficaram feridas.
Reações
O Massacre de Qibya causou indignação e comoção internacional. A Comissão Mista de Armistício condenou publicamente Israel pela matança. Em novembro de 1953, o Conselho de Segurança de ONU aprovou a Resolução 101, expressando “a mais forte censura” às ações israelenses e à violação do armistício de 1949. Constrangido, o governo dos Estados Unidos anunciou a suspensão temporária da ajuda financeira concedida a Israel e exigiu a punição dos responsáveis.
Ben-Gurion, o premiê israelense que ordenou a operação retaliatória, tentou negar a responsabilidade do exército de Israel, alegando que a matança fora perpetrada por colonos judeus. A mentira, no entanto, não convenceu ninguém.
Sharon afirmou posteriormente que acreditava que “as casas estavam vazias” quando ordenou a detonação. Essa afirmação foi desmentida após a publicação de um diário de Sharon, onde o ex-major havia registrado que a operação visava “causar o máximo de mortes e danos às propriedades”.
Apesar da pressão internacional, nenhum burocrata, agente público ou militar israelense foi punido pelo Massacre de Qibya. Ao contrário: Ariel Sharon, comandante da chacina, se consolidaria como um dos principais líderes políticos de Israel. Ele chefiou diversos ministérios, assumiu a liderança do Likud e se tornou primeiro-ministro em 2001.
Sharon ficou conhecido pela brutalidade durante os conflitos com as nações árabes. Ele foi o principal arquiteto do Massacre de Sabra e Chatila, quando milícias cristãs maronitas aliadas de Israel assassinaram milhares de refugiados palestinos no Líbano. Como premiê, ele impulsionou a expansão dos assentamentos israelenses ilegais e foi responsável por graves violações de direitos humanos contra as comunidades palestinas na Cisjordânia.























