Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Há 80 anos, em 2 de maio de 1945, Yevgeny Khaldei produzia a icônica fotografia da bandeira soviética sendo hasteada sobre o Reichstag, a sede do Parlamento alemão. A imagem se tornaria um dos símbolos mais poderosos da vitória da União Soviética sobre o regime nazista.

A fotografia foi tirada no mesmo dia em que Helmuth Weidling, o comandante das tropas alemãs em Berlim, ordenou a cessação imediata da resistência, capitulando diante do Exército Vermelho.

A rendição encerrou a Batalha de Berlim, o último grande confronto da Segunda Guerra Mundial na Europa. A batalha mobilizou mais de 2,5 milhões de soldados soviéticos e esmagou as últimas defesas do Terceiro Reich. Seis dias depois, as tropas nazistas remanescentes também se renderiam, consagrando a vitória das forças Aliadas.

A Batalha de Berlim

O combate em Berlim foi o capítulo derradeiro da avassaladora contraofensiva do Exército Vermelho, impulsionada após a épica vitória soviética na Batalha de Stalingrado. Em meados de 1944, os soviéticos lançaram a Operação Bagration. A ofensiva resultou na maior derrota militar já sofrida pelo Exército alemão. Os soviéticos eliminaram 28 das 34 divisões do Grupo de Exércitos Centro — a elite da Wehrmacht — matando 500 mil soldados nazistas e capturando outros 300 mil.

Em janeiro de 1945, o Exército Vermelho deu início à Ofensiva do Vístula–Oder, que resultaria na aniquilação do Grupo de Exércitos A e na libertação da Polônia. Nos dois meses seguintes, os soviéticos forçaram a capitulação da Hungria e a secessão da Áustria do Terceiro Reich.

Três meses depois, em abril de 1945, o Exército Vermelho começou a preparar a tomada de Berlim. O próprio Josef Stalin auxiliou no planejamento da ação, conduzida pelos marechais Georgy Júkov e Ivan Konev. A ofensiva mobilizou um contingente de mais de 2,5 milhões de soldados, apoiados por 6.250 tanques, 7.500 aviões e 41.600 peças de artilharia.

A Batalha de Berlim teve início em 16 de abril, com um ataque vigoroso às defesas nazistas nas colinas de Seelow, a 60 quilômetros de distância da capital alemã. O embate se estendeu por três dias. Assegurado o domínio das colinas, os soviéticos iniciaram o cerco a Berlim.

Liderada por Júkov, a Primeira Frente Bielorrussa avançou pelo leste, enquanto Konev marchava com a Primeira Frente Ucraniana pelo sul. Tentando conter o ataque do Exército Vermelho, o alto comando alemão lançou a Operação Clausewitz, concentrando todos os esforços militares na defesa de Berlim.

A cidade foi dividida em setores fortificados, repletos de bunkers de concreto e fossas antitanque. Centenas de milhares de combatentes da Wehrmacht, SS e Volkssturm foram despachados para defender o último reduto do regime nazista.

A morte de Hitler e o colapso do Reich

A batalha em Berlim logo se transformou em um encarniçado combate urbano, mas os soviéticos, em vantagem numérica e apoiados por uma potente artilharia, conseguiram garantir o controle dos subúrbios — combatendo rua a rua, quadra a quadra, as tropas alemãs.

No dia 20 de abril, o Exército Vermelho começou a bombardear o centro de Berlim. A mensagem era direcionada ao aniversariante do dia, Adolf Hitler, advertindo-o de que o fim estava próximo. Na última semana de abril, as tropas de Konev foram orientadas a avançar para o sul, a fim de auxiliar na Ofensiva de Praga. Júkov e a Primeira Frente Bielorrussa partiram então para capturar o centro de Berlim.

Em 30 de abril, informado de que os soviéticos estavam a apenas 500 metros de seu bunker e que os militares nazistas ficariam sem munição em questão de horas, Hitler se suicidou.

Hans Krebs, chefe do Estado-Maior do Exército alemão, contatou o comando soviético pedindo negociações de cessar-fogo. O pedido foi peremptoriamente negado — o Exército Vermelho somente aceitaria a rendição incondicional. Os combates prosseguiram e os soviéticos partiram para tomar os edifícios públicos do Terceiro Reich.

bandeira da URSS parlamento alemão em 1945

Erguendo a bandeira da vitória sobre o Reichstag; fotografia de Yevgeny Khaldei, tirada em 2 de maio de 1945
TASS / Wikimedia Commons

A tomada do Reichstag e a rendição de Berlim

Os soldados soviéticos foram orientados a priorizar a tomada do Palácio do Reichstag, a antiga sede do Parlamento alemão. A conquista do prédio público mais representativo da Alemanha seria um ato de grande simbolismo e um poderoso emblema da derrota do Terceiro Reich.

Doze anos antes, em fevereiro de 1933, o incêndio do Reichstag, em uma operação de bandeira falsa perpetrada para criminalizar os comunistas, serviu de justificativa para que Hitler suspendesse as garantias constitucionais e consolidasse a ditadura nazista.

Os alemães tinham plena ciência da importância simbólica do Reichstag, motivo pelo qual o edifício foi fortificado e protegido por grandes contingentes de membros das SS. A primeira tentativa de tomar ocorreu ainda em 30 de abril, mas foi frustrada pela reação dos militares nazistas, que atacaram os soviéticos com granadas e rajadas de metralhadora. A batalha pelo edifício se estendeu ao longo de todo o dia 1º de maio.

Os sargentos Mikhail Egorov e Meliton Kantariya chegaram a instalar o Estandarte da Vitória no edifício, mas os alemães conseguiram retomar o prédio no mesmo dia. A defesa aguerrida dos guardiões nazistas do Reichstag, entretanto, não refletia o estado de espírito de seus compatriotas no resto da cidade. Os soviéticos já haviam tomado quase todas as posições alemãs no centro de Berlim, bem como as linhas ferroviárias e os prédios públicos.

Exaustos e incrédulos quanto à possibilidade de reverter a situação, militares da Wehrmacht e burocratas do regime nazista se rendiam aos montes. Outros tantos cometeram suicídio — como o ex-ministro da propaganda Joseph Goebbels, nomeado chanceler logo após a morte de Hitler.

Na madrugada do dia 2 de maio, o general Helmuth Weidling, chefe das tropas alemãs em Berlim, ofereceu sua rendição e ordenou aos seus comandados que cessassem a resistência. A rendição incondicional da Alemanha ocorreria seis dias depois.

Erguendo a bandeira da vitória

A queda de Berlim proporcionou a Yevgeny Khaldei, fotógrafo oficial do Exército Vermelho, a oportunidade de produzir uma imagem que simbolizasse a vitória soviética sobre o regime nazista.

Após registrar a celebração dos soldados em frente ao Reichstag, Khaldei subiu no telhado do edifício munido de uma grande bandeira soviética. O estandarte fora costurado por seu tio, usando três toalhas de mesa.

O fotógrafo pediu aos combatentes soviéticos que o ajudassem a produzir a foto. O soldado que aparece desfraldando a bandeira soviética sobre Berlim em ruínas é Aleksey Kovalev, um jovem de 18 anos oriundo de Kiev. Os outros dois militares que acompanham são Abdulkhakim Ismailov, do Daguestão, e Leonid Gorychev, da Bielorrússia.

A fotografia de Khaldei, intitulada como “Erguendo a Bandeira da Vitória sobre o Reichstag”, foi publicada pela primeira vez em 13 de maio de 1945 na revista Ogonyok, recebendo inúmeros elogios pela composição simbólica e dramática. A foto logo se converteria em um marco iconográfico da Segunda Guerra — um registro visual de um dos momentos mais cruciais da história, simbolizando a destruição da máquina de guerra nazista pelas mãos dos comunistas e o triunfo da humanidade sobre a barbárie.

O custo humano do conflito

A Batalha de Berlim teve um custo elevado para o Exército Vermelho — mais de 78 mil soldados morreram na operação e outros 274 mil ficaram feridos. O montante, entretanto, representa apenas uma pequena fração do flagelo imposto à União Soviética ao longo da guerra. O país é, de longe, o que mais sofreu perdas humanas durante a Segunda Guerra. Mais de 27 milhões de cidadãos soviéticos foram mortos, quase 14% da população do país.

De origem judaica, a família do fotógrafo Yevgeny Khaldei está entre as que foram vítimas das atrocidades do Terceiro Reich. Seu pai e três de suas quatro irmãs foram assassinados pelos nazistas. “Eu perdoo os alemães, mas jamais esquecerei”, declarou pouco tempo antes de seu falecimento em 1997.

A União Soviética também foi o país que mais contribuiu na luta contra o nazismo. Entre 1941 e 1945, o Exército Vermelho destruiu ou neutralizou 607 divisões do Eixo. Para efeitos de comparação, Estados Unidos e Reino Unido, juntos, enfrentaram 176 divisões.

Mais de 75% das baixas totais da Alemanha nazista (10 milhões, entre 13,4 milhões de soldados) foram provocadas pelo Exército Vermelho. A União Soviética mobilizou 2,6 vezes mais combatentes no conflito do que todas as outras 25 nações aliadas somadas.