Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Depois de mais de uma semana de confrontos sangrentos entre grupos drusos e facções beduínas em Sweida, no sul da Síria, um cessar-fogo entrou em vigor neste domingo (20/07). No mesmo dia, um primeiro comboio de ajuda humanitária conseguiu entrar na cidade devastada, onde a situação humanitária é crítica.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 128 mil pessoas já foram deslocadas por causa dos combates. O OSDH também informou que 336 combatentes drusos, 298 civis drusos e 342 membros das forças de segurança morreram. Entre os mortos, 194 civis drusos teriam sido executados sumariamente por membros dos ministérios da Defesa e do Interior.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de mil pessoas morreram nos últimos dias, entre elas civis e combatentes. Os confrontos, iniciados em 13 de julho, envolveram milícias drusas e grupos beduínos sunitas — comunidades historicamente em tensão — e se agravaram com a intervenção de forças de segurança e combatentes tribais de outras regiões, que tomaram partido dos beduínos, de acordo com testemunhas e organizações não governamentais.

No terreno, jornalistas relataram uma manhã sem tiros neste domingo. O Crescente Vermelho sírio informou que o comboio de ajuda é composto por 32 veículos carregados com alimentos, material médico, combustível e sacos mortuários. A cidade, com cerca de 150 mil habitantes, está sem eletricidade nem água potável, e os mantimentos começam a acabar. A situação é tão grave que a morgue do hospital público de Sweida está lotada, com corpos espalhados no chão do lado de fora.

No sábado (19/07), combatentes tribais invadiram a zona oeste da cidade. Um correspondente da agência AFP relatou dezenas de casas e veículos queimados, além de lojas saqueadas e incendiadas. Em algumas paredes, os agressores deixaram mensagens como “Porcos drusos” e “Viemos cortar suas gargantas”.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de mil pessoas morreram nos últimos dias, entre elas civis e combatentes

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), mais de mil pessoas morreram nos últimos dias, entre elas civis e combatentes
Tasnim News Agency

Medo constante

Em Damasco, o medo se espalhou entre a comunidade drusa. Amar, um jovem que deixou a cidade de Sahnaya há dois dias com a mãe, tenta sair do país. “Vamos deixar a Síria. Não temos outra escolha. Temos parentes no Líbano, é a melhor saída. Eu preferia ficar aqui, mas com essa guerra sectária, esses massacres… não dá mais”, contou à RFI.

Outros drusos também relatam viver sob constante ameaça. Samer, natural de Sweida e funcionário de um hotel em Mazzeh, passou a dormir no trabalho, temendo ser detido ou atacado ao voltar para casa. “As pessoas estão morrendo agora mesmo. Estão trancadas, sem comida, quase sem água. Não tenho notícias da minha família em Sweida”, disse. Para ele, só uma intervenção internacional pode evitar o pior: “Precisamos de ajuda urgente. Os nossos estão morrendo de fome”.

Cessar-fogo e tensões regionais

As autoridades sírias anunciaram o fim dos combates na madrugada de sábado (19/07) para domingo (20/07), após a retirada dos combatentes tribais da cidade. Um porta-voz do Conselho Sírio de Tribos e Clãs confirmou a decisão como resultado de um acordo mediado pela presidência.

No mesmo dia, estava previsto um intercâmbio de prisioneiros entre drusos e beduínos em um vilarejo da província. Tom Barrack, enviado especial dos Estados Unidos para a Síria, afirmou que a troca completa de reféns está sendo organizada como próximo passo para uma “desescalada duradoura”.

A trégua em Sweida também ocorre após um acordo entre Washington e Damasco para interromper os combates entre forças sírias e israelenses. Israel, que abriga uma minoria drusa e afirma proteger essa comunidade, bombardeou posições do governo sírio em Sweida e em Damasco durante a semana, pressionando pela retirada das tropas da região.

Crise prolongada

O conflito intercomunitário ocorre num momento em que o governo islâmico de Ahmad al-Chareh enfrenta crescentes dificuldades para manter a estabilidade e cumprir sua promessa de proteger as minorias, após quase 14 anos de guerra civil.

A tensão aumentou desde março, quando mais de 1.700 pessoas, majoritariamente alauítas — comunidade à qual pertencia o ex-presidente Bashar al-Assad — foram mortas em massacres no litoral sírio.

Neste domingo (20/07), a presidência anunciou ter recebido o relatório final da comissão que investigou esses massacres, sem divulgar seu conteúdo.

Antes da guerra civil, a comunidade drusa síria era estimada em cerca de 700 mil pessoas. Além da Síria, a minoria também está presente no Líbano e em Israel.