Sábado, 20 de dezembro de 2025
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Entender os “novos movimentos sociais” desse início de século XXI não é tarefa simples. Eles nascem de uma “certa espontaneidade”; portanto, não há uma aparente “direção política” e carregam um considerável grau de despolitização, se considerarmos a necessidade da crítica (localizada nas contradições de um modelo econômico e social hegemônico internacionalmente), vir acompanhada da apresentação de alternativa. Podemos, inclusive, dizer que em alguns momentos eles se esvaziam pela ingenuidade, pela não formulação do passo seguinte. Mas tudo isso é uma reflexão inicial de acontecimentos que são novos e que deixam no ar um sentimento de algo em gestação e que esta em constante construção.

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Uma certeza é possível ter: os movimentos sociais estão nas periferias dos centros urbanos, nos conflitos por terras, nas lutas das minorias políticas, nas organizações sindicais, nos movimentos religiosos, entre tantas outras manifestações. Mas tem algo novo se construindo, liderado pela geração que se sociabilizou pelas redes sociais; foi informada e formada, construiu sua identidade, navegando  pela rede mundial de computadores.

Essa geração, principalmente, nos EUA, Europa, Ásia e Oriente Médio, se depara com um mundo em profunda transformação. A maior delas é sem dúvida o estrangulamento, a falência de um modelo econômico de produção e distribuição de riquezas que tem dado visibilidade às fragilidades de modelos de Estado que se distanciam da sociedade civil nas mais diversas regiões do mundo. A crise econômica e seus desdobramentos, perda de direitos adquiridos, desemprego, empobrecimento, falta de perspectiva, tornaram-se o fermento para descontentamentos até então adormecidos, oprimidos e reprimidos.

É nesse cenário que vale muito ser lida a manifestação de Naomi Klein na Folha de S. Paulo de domingo, 16/10. Em síntese ela mostra que o “Ocupe Wall Street” é diferente de outros movimentos que surgiram internacionalmente na década de 90 e que questionavam a globalização da economia. Ela mostra, fundamentalmente, que as condições objetivas para as mobilizações de agora são muito diferentes das manifestações internacionais da década de 90. No final do século XX a lógica do neoliberalismo estava em franco desenvolvimento, mesmo que de forma artificial, a economia crescia e gerava Estado de bem estar social em todos os países ricos do planeta, impedindo a reflexão social e a existência de uma mobilização que pudesse enfrentar a desastrosa lógica desregulamentadora da época.

O cenário internacional hoje é outro. O centro do capitalismo internacional entrou em uma crise sem precedentes históricos; tudo que era sólido se desmanchou no ar, parafraseando Marx. Os valores do pensamento hegemônico ruíram deixando um vácuo a ser ocupado. Nesse contexto o “Ocupe Wall Street” tem que ser olhado com muito cuidado e muita atenção política tem que ser dada a ele. Não podemos atribuir-lhe um papel histórico que ainda não tem, mas não podemos desprezá-lo e minimizar a sua importância. Mesmo sem uma formulação explicita, ele questiona de forma enfática o modelo de geração de riqueza e sua distribuição. As mobilizações direcionam, como o próprio nome explica, as energias questionando a concentração da riqueza no planeta. Também  é importante a bandeira da busca da sustentabilidade presente nas manifestações.

No Oriente Médio, além das “bandeiras econômicas”, a democracia, como um valor central, mobilizou milhões de jovens.

Alguns podem dizer que no Brasil as manifestações não tiveram força e não mobilizaram. Isso é verdade. Precisamos voltar à análise de Naomi Klein. Ela afirma que o fundamental para que as manifestações tivessem a força que tiveram até agora são as condições objetivas. No Brasil elas, as condições objetivas, não existem. Graças aos Governos Lula e Dilma, a nossa economia resiste à crise econômica internacional, crescemos distribuindo renda e combatendo a exclusão social; em Copenhague lideramos o mundo no combate ao aquecimento global e mostramos que é possível gerar riqueza buscando a sustentabilidade. Portanto, hoje, nos tornamos paradigma para o mundo diante da crise econômica internacional e na busca por novos valores na formulação de um modelo de desenvolvimento alternativo.

Mesmo que não haja no Brasil ambiente para mobilizações como “Ocupe Wall Street”, não podemos negar a importância de mobilizações que tomam conta dos principais países do mundo e questionam o atual modelo capitalista de geração de riqueza, que anseia por novos valores econômicos e sociais,  buscando um novo modelo de organização das relações econômicas.

*Edinho Silva é deputado estadual e presidente do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores em São Paulo

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Uma reflexão sobre o Ocupe Wall Street

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