Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Em 24 de junho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma trégua entre Israel e Irã, após quase duas semanas de escalada. Israel começou a guerra, lançando uma ofensiva de surpresa em 13 de junho, com ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas, instalações de mísseis e alto escalão de militares e cientistas, além de vários civis.

Em resposta, o Irã lançou uma onda de mísseis balísticos e drones em território israelense, acionando sirenes de ataque aéreo em Tel Aviv, Haifa e Bersheba e vários outros locais, causando destruição sem precedentes no país.

O que testemunhos foi uma encenação política — uma disputa cuidadosamente orquestrada entre dois parceiros que jogam dos dois lados de um jogo perigoso. O que começou como uma escalada bilateral, rapidamente se transformou em algo muito mais consequente: um confronto direto entre os Estados Unidos e o Irã.

Em 22 de junho, às Forças Aéreas e a Marinha dos Estados Unidos realizaram um ataque de larga escala em três instalações iranianas — Fordow, Natanz e Isfahan — em um ataque coordenado denominado Operação Martelo da Meia-Noite. Sete bombardeiros B-2 da 509ª Ala de Bombardeiro supostamente voaram sem escalas da Base Aérea de Whiteman, no Missouri, para realizar os ataques.

No dia seguinte, o Irã retaliou bombardeando a base militar norte-americana Al-Udeid, no Qatar, e disparando uma nova onda de mísseis contra alvos israelenses.

Isso marcou um ponto de virada. Pela primeira vez, Irã e Estados Unidos se enfrentaram no campo de batalha sem intermediários. E, pela primeira vez na história recente, a longa campanha de Israel para provocar uma guerra liderada pelos EUA contra o Irã foi bem sucedida.

Consequências estratégicas

Nos 12 dias de guerra, Israel alcançou duas de suas metas. Primeiro, colocou Washington diretamente no conflito com Teerã, estabelecendo um precedente perigoso para o futuro envolvimento dos EUA nas guerras regionais de Israel. Segundo, gerou capital político imediato em casa e no exterior, retratando o apoio militar dos EUA como uma “vitória” para Israel.

Entretanto, além desses ganhos de curto prazo, as rachaduras na estratégia de Israel já estão aparecendo.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não conseguiu uma mudança de regime em Teerã — o verdadeiro objetivo de sua campanha de anos. Em vez disso, enfrentou um Irã resiliente e unificado que revidou com precisão e disciplina. Pior ainda, ele pode ter despertado algo ainda mais ameaçador para as ambições israelenses: uma nova consciência regional.

O Irã, por sua vez, emerge desse confronto significativamente mais forte. Apesar dos esforços dos EUA e de Israel para paralisar seu programa nuclear, demonstrou que suas capacidades estratégicas permanecem intactas e altamente funcionais.

Teerã estabeleceu uma nova e poderosa equação de dissuasão, provando que pode atingir não apenas cidades israelenses, mas também bases norte-americanas em toda a região.

Ainda mais importante, o Irã travou essa luta de forma independente, sem depender do Hezbollah ou dos Houthis, nem mesmo mobilizar milícias iraquianas. Essa independência surpreendeu muitos observadores e forçou uma recalibração do peso regional do Irã.

Unidade iraniana

Talvez o acontecimento mais significativo de todos seja aquele que não pode ser medido em mísseis ou baixas: o aumento da unidade nacional dentro do Irã e o amplo apoio que recebeu em todo o mundo árabe e muçulmano.

Durante anos, Israel e seus aliados buscaram isolar o Irã, apresentando-o como um pária até mesmo entre os muçulmanos. No entanto, nos últimos dias, testemunhamos o oposto. De Bagdá a Beirute, até mesmo em capitais politicamente cautelosas como Amã e Cairo, o apoio ao Irã aumentou. Essa unidade, por si só, pode revelar o desafio mais formidável de Israel até o momento.

No Irã, a guerra apagou, pelo menos por enquanto, as profundas divisões entre reformistas e conservadores. Diante de uma ameaça existencial, o povo iraniano se uniu, não em torno de um único líder ou partido, em torno da defesa da sua Pátria.

Os descendentes de uma das civilizações mais antigas do mundo reagiram com uma dignidade e orgulho que nenhuma agressão estrangeira conseguiu extinguir.

Em 24 de junho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma trégua entre Israel e Irã, após quase duas semanas de escalada
Molly RileyCasa Branca

A questão nuclear

Apesar dos acontecimentos no campo de batalha, o resultado real desta guerra pode depender do que o Irã fizer em seguida com seu programa nuclear.

Se Teerã decidir se retirar do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) — mesmo que temporariamente — e sinalizar que seu programa continua funcional, as chamadas “conquistas” de Israel perderão o sentido.

No entanto, se o Irã não conseguir dar sequência a esse confronto militar com um reposicionamento político ousado, Netanyahu estará livre para alegar — falsamente ou não — que conseguiu conter as ambições nucleares do Irã. Os riscos são tão altos quanto sempre foram.

Uma farsa fabricada

Alguns meios de comunicação estão agora elogiando Trump por supostamente “ordenar” que Netanyahu suspendesse novos ataques ao Irã.

Essa narrativa é tão ofensiva quanto falsa. O que estamos testemunhando é uma encenação política — uma disputa cuidadosamente orquestrada entre dois parceiros que jogam os dois lados de um jogo perigoso.

A publicação de Trump na Truth Social “tragam seus pilotos para casa” não foi um apelo à paz. Foi uma ação calculada para recuperar a credibilidade após a rendição total à guerra de Netanyahu. Ela permite que Trump se apresente como moderado, distraia a atenção das perdas de Israel no campo de batalha e crie a ilusão de um governo americano controlando a agressão israelense.

Na verdade, esta sempre foi uma guerra conjunta entre EUA e Israel — planejada, executada e justificada sob o pretexto de defender os interesses ocidentais, ao mesmo tempo em que preparava o terreno para uma intervenção mais profunda e uma potencial invasão.

O retorno do povo

Em meio a todos os cálculos militares e teatro geopolítico, uma verdade se destaca: os verdadeiros vencedores são o povo iraniano.

Quando mais importava, eles permaneceram unidos. Compreenderam que resistir à agressão estrangeira era mais importante do que disputas internas. Lembraram ao mundo — e a si mesmos — que, em momentos de crise, as pessoas não são atores periféricos na história, são seus autores.

A mensagem de Teerã é inequívoca: estamos aqui. Estamos orgulhosos. E não seremos destruídos.

Essa é a mensagem que Israel e, talvez até Washington, não previu. E é a que poderá remodelar a região nos próximos anos.