Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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Sadomasoquismo é o tema. Namoradinha da América (do norte), a jovem Rihanna adere ao copyleft tipo “nada se cria, tudo se copia” e apanha as arestas mais pontudas de Madonna e Lady Gaga para elaborar a estética de seu novo videoclipe, S&M. “Agora a dor é o meu prazer”, avisa a letra, tão explícita quanto possível para que não se corra o perigo de chocar demais e/ou restringir o acesso de Rihanna ao hipermercado de massa ao qual ela pertence.

A garota nascida em Barbados e tornada mundial principalmente após o hit dance-meloso Umbrella (2007) mostra ter aprendido muito com o sucesso estrondoso da colega Lady Gaga nos últimos anos. A estética é sadomasoquista, mas vem toda forrada de cores pop-gritantes, estilo desenho animado, tática exacerbada principalmente a partir do clipe Telephone, de Gaga. Madonna, por sua vez, transparece no cenário rosa-berrante em S&M, deslavadamente semelhante ao fundo da capa do álbum pop-S&M Hard Candy (2008).


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“Paus e pedras podem quebrar meus ossos/ mas correntes e chicotes me excitam”, canta Rihanna, em versos que soam incômodos se o ouvinte se lembra da agressão cometida contra a popstar em 2009, pelo então namorado Chris Brown, ele também cantor e famoso. As referências ao sexo violento, no entanto, vêm tingidas de cores pop, pipocas cor-de-rosa, figurino de vinil-camisinha cor da pele, fantasia de coelhinha e outras “fofuras” para mascar. A mensagem “hard” se mistura com o açúcar “candy”; tal qual sua pátria de adoção, Rihanna é dominatrix, mas nem por isso deixa de ser menina boa e comportada.

As bolas S&M enfiadas nas bocas dos figurantes também são multicoloridas, num efeito estranho ao imaginário sadomasoquista real, todo fundada em sombras, tachinhas e negror. Na contramão, o modo como a estrela come morangos, sorvetes e (obviamente) uma banana é sexy-sugestivo, mas resulta brochante no confronto com a legião de bailarinos de ambos os sexos vestidos de óculos e ternos negros, solenes, sadomaso, ultracapitalistas.

Lá pelas tantas, Rihanna aparece toda amarrada, mas caracterizada como garotinha colegial, de maria-chiquinha e minissaia de bolinhas amarelinhas. De novo, a dureza e a doçura se embaralham, em sugestões de fetiche pedófilo que não a distanciam muito de nossa Kelly Key (“agora que eu cresci você quer me namorar/ baba, baby”). Chapeuzinho Vermelho parece ser o modelo, e, à parte o monte de lobos e lobas ao redor, não há inocência na menininha crescidinha “É tão bom ser má”, “posso ser má, mas sou boa nisso”, ela desafia.

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Há um detalhe nos lobos-de-quepe que assediam a Chapeuzinho: eles estão caracterizados, também, como jornalistas e paparazzi sedentos por fotografar, descrever e noticiar a dona da bola. Afora o decalque copie-e-cole com o imaginário de Lady Gaga, o modo obsessivo como o primeiro time do showbizz norte-americano atual retrata e (reclama d)a mídia é autofágico, mutuamente dependente. É desconcertante perceber como o pop estadunidense de massa destes anos, todo governado por mulheres, trata a agressividade sadomasoquista como se fosse brinquedo fofinho, e/ou vice-versa. Nessa estão Gaga, Christina Aguilera, Britney Spears, Amy Winehouse, Lily Allen, M.I.A…

Seja nos palcos do mainstream pop ou nas arenas políticas da nação mais pontuda do mundo, os abutres precisam da carniça bubble-gum para vender revistas e jornais, assim como a carne fresca se derrete toda diante de flashs de fotógrafos e maledicências da imprensa fofoqueira. Já até perdemos de vista se quem nasceu primeiro foi o ovo ou a tartaruga centenária.

*Pedro Alexandre Sanches é jornalista e crítico musical. Escreve no Opera Mundi e no seu blog pessoal.

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Rihanna: sadomasoquismo é o tema

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