Pela primeira vez na história recente, a maioria das vozes do movimento pelas mudanças sociais, incluindo os sindicatos de inclinação progressista, faz um esforço extraordinário para transformar a derrota eleitoral generalizada em vitória. Será que também desta vez aprenderemos finalmente as lições certas?
Considerando as limitações de nosso sistema bipartidário e as diferenças entre os partidos nas questões que envolvem os trabalhadores, faz sentido os sindicatos endossarem os democratas e os membros dos sindicatos apoiarem o partido nas eleições. Mas os líderes sindicais permaneceram muito tempo amarrados ao Partido Democrata em questões fundamentais de estratégia. Ironicamente, quando os democratas conquistam a Casa Branca, o problema é exacerbado, pois os sindicatos frequentemente confundem acesso com poder. Os líderes do Partido Democrata não acordam de manhã pensando em como estender os benefícios sociais aos trabalhadores ou aos pobres. E eles certamente não acordam pensando em como tornar os sindicatos mais fortes.
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À medida que o complexo consultor-industrial ligado ao Partido Democrata dominou a maioria dos sindicatos nacionais, os sindicatos substituíram a organização pela mensagem eletrônica, enquanto os organizadores de verdade praticamente desapareceram. Para derrotar as mentiras despejadas 24 horas por dia nos lares norte-americanos pela Fox News, é indispensável atrair os trabalhadores em pessoa, e não bombardeá-los com e-mails pré-aprovados pelo público. É necessária uma discussão de duas vias para ajudar os trabalhadores a superar o medo e a frustração e apoiar a ação coletiva a fim de tratar dos problemas em suas vidas. Aviso aos sindicatos: Twitter e Facebook não significam engajamento.
Segurança organizacional
Em vez de se concentrar na segurança econômica imediata da classe trabalhadora (e, neste país altamente desigual, isto inclui a classe média), os sindicatos têm se preocupado com sua própria segurança organizacional. Encorajados por pesquisadores e consultores do Partido Democrata, os líderes sindicais decidiram apostar todas as fichas na Lei de Livre Escolha do Empregado (EFCA, na sigla em inglês). Com a crise econômica devastando a nação, esta era a “tarefa” número um do novo governo que os sindicatos lutaram tanto (e pagaram tanto) para eleger. É bom lembrar que os sindicatos tentam inutilmente obter reformas trabalhistas significativas desde os anos 1940 – quando eram muito mais fortes. A Câmara de Comércio e seus aliados contrários aos sindicatos sem dúvida não gostaram de ver os Democratas discutindo a reforma das leis trabalhistas, mas o lobby das grandes companhias certamente ficou feliz com uma estratégia concebida pelos sindicatos que a Câmara poderia resumir à frase “os sindicatos querem derrubar o direito de um trabalhador de optar, por voto secreto, pela formação de um sindicato”. Os líderes sindicais passaram o primeiro ano do governo Obama trabalhando “nos bastidores” para aprovar essa prioridade. Não surpreende que tenham fracassado.
O que os sindicatos poderiam fazer, e o que deveriam fazer para mudar a equação em 2012 e também em futuras eleições sindicais? Criar uma verdadeira luta em torno do estado das classes trabalhadora e média tratando de questões nas quais os sindicatos possam fazer uma diferença imediata na vida das pessoas. A capacidade dos sindicatos de expandir suas fileiras não está na reforma da lei trabalhista; está no potencial de grandes números de norte-americanos enxergarem os sindicatos como algo relevante. Com pouco mais de 7% da força de trabalho do setor privado participando de sindicatos, não é difícil perceber por que os líderes sindicais estão preocupados com sua própria sobrevivência. No entanto, depois de 70 anos de tentativas fracassadas de expandir os sindicatos com abordagens tecnocráticas legislativas, legais e regulatórias, é hora de experimentar o sindicalismo como um movimento social de massa.
Negociações
Os trabalhadores não podem pagar o aluguel, pagar a hipoteca, ter um cartão de crédito, arrumar emprego, comprar roupas ou livros de escola para os filhos ou se aposentar. Eles enfrentam índices de divórcio crescentes à medida que as tensões familiares aumentam, e perderam o senso de dignidade. Eles não ligam para a reforma da lei trabalhista e não ligam para os sindicatos (pelo menos na forma atual). Eles estão desesperados, e o desespero ignorado logo se transforma em alimento para os alarmistas ou desculpa para não comparecer às urnas. As duas decisões são um desastre que tende a ser repetido a não ser que os sindicatos se recomponham rápido.
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Em vez de postar links para os sites das associações habitacionas, que tal iniciar conversações diretas entre trabalhadores sobre a ocupação das sedes de companhias de hipoteca em todo o país, até que os bancos parem de executar as hipotecas de suas casas? Em vez de conclamar repentinamente os membros a fazer piquetes diante de bancos ou realizar ações militantes aparentemente aleatórias, que tal sentar-se com os sindicalizados e conversar sobre quais ações todos podem adotar para forçar soluções para a crise da habitação – soluções como obrigar os bancos a recalcular as hipotecas de acordo com o verdadeiro valor das residências e criar linhas de crédito para que os trabalhadores possam se mudar para lugares onde é possível arranjar um emprego?
Os sindicatos precisam se conectar com os trabalhadores cara a cara em eventos especiais, locais de trabalho e visitas domiciliares, para perguntar o que lhes tira o sono. Então deveriam planejar ações diretas com trabalhadores que respondessem a seus problemas. Que tal tomar os escritórios das grandes agências de classificação de crédito e ocupá-los 24 horas por dia, sete dias por semana, até que elas concordem em eliminar todo o crédito ruim amontoado sobre qualquer pessoa que tenha feito um pagamento de hipoteca atrasado porque perdeu o emprego ou teve o horário de trabalho reduzido? A crise habitacional está diretamente ligada à crise salarial, que está diretamente ligada à crise do emprego. As pessoas deste país imploram por uma luta, mas os únicos que oferecem uma são da ala direita. Todas essas questões estão diante dos olhos dos sindicatos há vários anos. Por que nenhum sindicato transformou a crise dos trabalhadores em uma crise do capital e da elite política?
Fracasso
Há duas razões principais para este fracasso, e os membros dos sindicatos precisam deflagrar um movimento interno, um mini-MoveOn, para confrontá-las. Em primeiro lugar, até hoje, quando indagados sobre a crise habitacional, muitos sindicatos dizem, em resumo: “Isso não é problema nosso. Nós apenas tratamos de questões dos trabalhadores no local de trabalho.” Dada a crise em todos os aspectos da vida dos trabalhadores, essa resposta é ainda mais retrógrada e míope do que a segunda razão pela qual os sindicatos não fazem o que deveriam: as disputas por influência. Alguns dos melhores organizadores ensinam os trabalhadores a brigar entre si em vez de lhes mostrar como brigar com os patrões, e muito menos como realizar ações coletivas contra a elite política de um modo mais amplo.
Não é tarde demais. A crise habitacional ainda assoma no horizonte, e o futuro ataque à Seguridade Social e outros programas de subvenção oferecerá espaço de sobra para que os sindicatos mobilizem sua base e organizem os desorganizados. Mas esses esforços deveriam apontar para algo diferente da formação de um sindicato.
Os organizadores dos sindicatos – funcionários remunerados e membros comuns – deveriam bater às portas e começar a se reunir com centenas de milhares de trabalhadores a fim de galvanizar um movimento para exigir justiça econômica. Se os sindicatos fizerem isso com os trabalhadores desorganizados e, juntos, eles vencerem campanhas, será mais provável estes mesmos trabalhadores considerarem a sindicalização uma boa opção em suas vidas. A uma razão de um organizador para 1.000 conversações organizadoras em bairros no país todo, apenas 2.000 organizadores de sindicatos poderiam engajar 2 mihões de pessoas – e isso é o bastante para criar uma crise que a elite terá inevitavelmente de enfrentar.
Fortalecimento
Ironicamente, a única questão de segurança organizacional que deveria ser tratada urgentemente pelo movimento trabalhista produziu mais uma situação de autoflagelação: a campanha de ódio cuidadosamente lançada contra os sindicatos do setor público. O ataque virulento lançado contra os “sindicatos governamentais” a partir do coração de Estados democratas como New Jersey é uma jihad tripla contra tudo o que a direita mais odeia: a ideia de redistribuir qualquer recurso para os pobres; os afro-americanos e pessoas de cor, mal representados no funcionalismo público; e os sindicatos em geral (o maior bloco de norte-americanos sindicalizados trabalha para o governo). Podem apostar que esse terceiro objetivo tem prioridade nos papéis pregados nas paredes dos gabinetes de guerra conservadores. Assistir aos sindicatos do setor privado abandonarem essa luta e oferecerem de bom grado os sindicatos governamentais para a destruição mostra como é fácil dividir e conquistar. Quanto mais permitirmos que a direita chame o setor público de outra coisa que não um componente essencial da economia, mais permitiremos que a direita destrua a única base real dos sindicatos e a única fonte real de bons empregos ao alcance de muitas pessoas de cor e mulheres.
É hora de fortalecer as pessoas para que entrem em ação. Sabemos que as pessoas aprendem melhor agindo – não se trata de nenhuma ciência complexa, nem de algo a ser comprovado por pesquisas. Há anos sabemos que as melhores questões são aquelas ampla e profundamente sentidas e para as quais podemos elaborar soluções razoáveis. Os sindicatos perceberiam que essas questões estão debaixo de seu nariz se escutassem os trabalhadores, e não os pesquisadores.
*Texto originalmente publicado no The Nations
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