Presença dos EUA no Caribe tem mais a ver com comércio e ideologia que com drogas
Presença dos EUA no Caribe tem mais a ver com comércio e ideologia que com drogas
A iniciativa de Washington de ter acesso a pelo menos sete instalações militares colombianas tem sido criticada como uma extensão do polêmico Plano Colômbia e como uma violação de lealdade para com as repúblicas irmãs. A suspeita também trouxe à tona que o tratado das bases foi fundamentalmente um movimento contra a Venezuela de Hugo Chávez, e seria um obstáculo recorrente para o cumprimento das metas políticas norte-americanas na região. Duas das instalações, que logo estarão disponíveis para os Estados Unidos, estão localizadas na região do Caribe – o porto militar de Cartagena e a base aérea de Malambo – e irão atender às necessidades da Marinha norte-americana.
As novas instalações da costa do Caribe irão se juntar a um conjunto de estabelecimentos militares dos Estados Unidos existentes na região desde 1903.
Até agora, a razão oficial para a presença norte-americana no Caribe foi o combate ao tráfico de drogas. No entanto, a proliferação de ameaças à segurança, em especial contra os interesses da Venezuela de Chávez, levou alguns a argumentar que não importa o quanto as autoridades de Washington tentem negar, uma razão não dita para a implantação norte-americana na Colômbia é manter Chávez sob controle.
Com a decisão Washington-Bogotá, é necessário discutir a relação entre os esforços antinarcóticos mascarados pelas preocupações com a segurança e aspirações em toda a América Latina, especialmente na guerra comercial de commodities.
Bases no Caribe
Até a transferência do Canal do Panamá ao governo panamenho e a retirada do equipamento da Força Aérea norte-americana da Base Aérea Howard, em 1999, a estratégia de defesa dos Estados Unidos favorecia grandes instalações militares no exterior. A estratégia parece ter mudado nos últimos anos, com o Pentágono optando por pequenas instalações e um destacamento de pessoal mais modesto. Bases norte-americanas ativas na América Latina são conhecidas como FOL (Forward Operation Locations) ou CSL (Cooperative Secutiry Location).
A decisão do governo equatoriano de Rafael Correa de não renovar a concessão do complexo militar norte-americano de Manta forçou Washington a procurar alternativas. O Peru estava interessado em hospedar uma base, que seria uma aliada na luta contra os remanescentes do [grupo guerrilheiro] Sendero Luminoso e serviria como um reforço contra o inimigo tradicional, o Chile, que nos últimos anos vem articulando um reforço militar.
No final, Washington escolheu a Colômbia como principal base dos Estados Unidos para operações regionais na América do Norte e do Sul e no Caribe. O acesso às bases colombianas provavelmente irá significar novas implantações do contingente, acima das 300 tropas atuais, no país. No entanto, o número não deve ultrapassar 800 soldados (sendo 600 deles trabalhadores contratados), tal como acordado pelos dois países. As duas bases onde as tropas norte-americanas serão implantadas ao longo da costa caribenha da Colômbia são Malambo (Base Aérea Alberto Pouwels) e Cartagena (ARC Bolívar).
Curiosamente, apenas uma base sobre a costa do Pacífico da Colômbia será utilizada: em Buenaventura, no Valle del Cauca. As bases de Malambo e de Cartagena aumentarão significativamente a já expansiva presença militar de Washington no Caribe. Isto inclui:
• El Salvador – Segundo o escritório norte-americano de Políticas Nacionais de Controle de Narcotráfico, a Marinha dos Estados Unidos rotineiramente voa com MPA P-3 e E-2C AEW do Aeroporto Internacional de Comalapa. A base é utilizada para operações contra entorpecentes no Pacífico Oriental.
Um relatório de 2001 do Centro de Relações Internacionais explica que “não há limite no número de contingente norte-americano com acesso a todas as entradas, espaço aéreo e instalações do governo não especificadas que os Estados Unidos julgar pertinentes”. O projeto que aceita a implantação norte-americana em El Salvador foi aprovado em 2000, sob a presidência de Francisco Flores, em meio a protestos da FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional), movimento político criado por ex-rebeldes de esquerda que fez parte da guerra civil e agora está na presidência do país. As forças norte-americanas na região estão sob o comando das forças navais do Comando Sul, cujo gestor sênior é também o chefe da Quarta Frota. Ao mesmo tempo, a CSL Comalapa faz parte da JIATF (Joint Interagency Task Force South), baseada em Key West, na Flórida.
• Honduras – A base de Palmerola/Soto Cano é a casa da Força Tarefa Conjunta – Bravo. Cerca de 500 soldados norte-americanos estão lá, além de 600 civis contratados (tanto hondurenhos, quanto norte-americanos). O misto de tropas militares norte-americanas inclui o 612° esquadrão aéreo.
Nos últimos anos o governo de Honduras manifestou interesse em assumir Soto Cano e transformá-la em aeroporto civil (assim Tegucigalpa não teria de custear a construção de um novo empreendimento). Se isso viesse a acontecer, os militares norte-americanos, provavelmente, seriam obrigados a se deslocar para uma área reservada na floresta tropical de Honduras. Não está claro, com os acontecimentos em curso a respeito do presidente deposto, Manuel Zelaya, se o futuro de Palmerola será discutido em breve.
• Curaçao e Aruba – Essas ilhas do Caribe, que fazem parte do Reino dos Países Baixos, têm duas bases utilizadas para interditar as transferências de droga por via aérea e marítima.
Os militares norte-americanos nesses locais trabalham em parceria com a Guarda Costeira, que é assistida por unidades holandesas nas ilhas. Washington tem presença em Curaçao, uma vez que arrenda parte do aeroporto para operações antidroga. O destacamento norte-americano ali presente inclui o contingente militar, bem como agentes da DEA (Agência Antidrogas dos Estados Unidos). Aviões da Awac são utilizados para o monitoramento de suspeitas no tráfego aéreo e marítimo. Segundo um artigo no jornal holandês NRC Handelsblad, de novembro 2008, naquele ano, 214 toneladas de cocaína, 166 toneladas de heroína e cinco toneladas de maconha foram interceptadas por patrulhas norte-americanas que decolaram da base aérea em Curaçao.
• Cuba – É fácil esquecer que Guantánamo é uma instalação militar, dada a sua publicidade nos últimos anos como prisão para acusados de terrorismo. No entanto, a base é operada pelos Estados Unidos desde 1903, sem uma data para sair do local, pelo menos enquanto Washington continuar pagando o aluguel da área.
A base serve como centro de manutenção e reabastecimento de navios da Guarda Costeira e da Marinha. Esta parte de Guantánamo é controlada pela Estação da Marinha Norte dos Estados Unidos (refletindo a missão original da base), atualmente comandada pelo capitão da Marinha Steve Blaisdell. O outro componente de Guantánamo serve para acomodar detentos acusados de terrorismo, chamado de Força Tarefa Conjunta de Guantánamo. Hoje é liderado pelo contra-almirante Tom Copeman, junto com o brigadeiro general Rafael O'Ferrall e seu vice-comandante.
• Antígua – Os militares norte-americanos estabeleceram uma base em Antígua durante a Segunda Guerra Mundial, que foi nomeada Coolidge Airfield. A Antígua Air Station existente hoje foi parte da antiga Coolidge AFB. Um documento de 2007, feito pelo governo de Antígua e Barbuda, que os Estados Unidos arrendam terras do governo nas proximidades do Aeroporto Internacional VC Bird.
• Bahamas – O Centro de Testes Submersos Atlânticos e Evaluação (Autec) está localizado na Ilha de Andros, nas Bahamas. O centro é utilizado para testes de novos tipos de armamento.
O site da Autec explica que o centro está “associado ao programa Foracs [Forças Navais e de Precisão Bélica] da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e as oito nações que participam do órgão: Canadá, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Itália, Noruega, Reino Unido e os Estados Unidos”.
Os Estados Unidos também utilizam rotineiramente as instalações do maior porto do Panamá, o Vasco Núñez de Balboa, para estoque e reabastecimento.
Clique aqui e leia o artigo completo, em inglês.
Alex Sanchez é pesquisador do COHA (Council on Hemispheric Affairs – Conselho de Relações do Hemisfério)
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