Sábado, 6 de dezembro de 2025
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No meio das chantagens comerciais promovidas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, um alvo inesperado: o PIX. O sistema que milhões de brasileiros usam todos os dias (gratuito, rápido e acessível) passou a ser tratado como ameaça pelos Estados Unidos.

Pode parecer exagero, mas não é.

Até julho de 2025, o PIX movimentou mais de R$ 63 trilhões, o equivalente a cerca de US$ 11,3 trilhões, pela cotação média do período. Uma revolução financeira silenciosa: derrubou tarifas, desbancou cartões de crédito, encurtou distâncias bancárias e reduziu o espaço das gigantes estrangeiras da tecnologia.

E por que isso incomoda?

Porque o PIX foi desenvolvido por um banco central público. Funciona sem depender das big techs e das bandeiras de cartão. É estatal, gratuito, eficiente e soberano. Mostrou que um país do Sul Global pode criar soluções de ponta, acessíveis e populares, sem seguir a cartilha da intermediação privada. E isso afronta interesses bilionários.

A reação não tardou.

Pressionado por lobbies como Meta, Visa, Mastercard e Apple, Trump reativou a Seção 301, uma lei da década de 1970 usada para justificar sanções comerciais unilaterais. A acusação formal? “Práticas comerciais injustas.” A motivação real? O incômodo com um sistema que funciona fora do eixo do lucro privado norte-americano.

O que há por trás da retórica?

Depois de atacar o STF, Donald Trump decidiu que o PIX também é inimigo dos EUA

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O PIX virou símbolo

Interesse econômico puro. As empresas querem reocupar espaço no mercado brasileiro. Querem que o dinheiro das nossas transações continue girando sob sua supervisão, com taxas, com intermediação, com lucro. Querem barrar um modelo que inspira outros países a seguir caminhos parecidos. E fazem isso atacando seu valor simbólico e político.

Não é só o mecanismo. É uma política pública digital robusta, bem-sucedida, que rompeu com a dependência do setor privado para garantir acesso financeiro. Que imprimiu alguma autonomia às transações no mercado brasileiro. Por isso virou alvo.

E a ofensiva não se dá só no plano externo. Aqui dentro, ganha reforço com narrativas conspiratórias que tentam desacreditar o sistema, sem qualquer base técnica. Ao espalhar desconfiança, abrem espaço para a privatização indireta do que é público. Só o velho vira-latismo encara isso como natural: aceitar que algo criado no Brasil, com inteligência institucional e resultado concreto, só tem valor se for tutelado de fora.

O mais importante

Atacar o PIX é atacar o princípio de que o interesse coletivo pode, e deve, prevalecer sobre os monopólios privados. E que soberania digital, assim como soberania econômica e cultural, também faz parte da democracia.