Ozzy Osbourne, o menino da classe operária
Perdemos um dos quatro jovens que, na poeira industrial da Black Country inglesa, transformaram ruído, peso e melodia em música
Antes de o termo heavy metal se espalhar pelo Brasil, o som pesado tinha outro nome por aqui: rock pauleira. Era um rótulo elástico, que servia para abrigar bandas de estilos diferentes, como Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep, Grand Funk, Foghat, Slade e, no topo, uma banda inglesa que marcaria tudo: o Black Sabbath.
Lá fora, o termo heavy metal já circulava. Desde 1968, quando os californianos Iron Butterfly lançaram “In-A-Gadda-Da-Vida”, a expressão começou a ganhar terreno. Mas foi só no início dos anos 70 que o gênero ganhou corpo e identidade, com quatro jovens da industrial Birmingham: Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, que transformaram peso e densidade em música com o Black Sabbath.
Um quarteto inesquecível.
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Entre a molecada roqueira brasileira, o Sabbath era religião. “Changes”, a balada melancólica, tocava nas rádios na segunda metade dos anos 70, lado a lado com “Paranoid”, e embalançava bailinhos de lona improvisados em garagens de bairro. Mas era nos riffs de Iommi, nas viradas pesadas de Ward, no baixo trevoso de Butler e na voz torta de Ozzy que a gente encontrava abrigo. Não sei o que teria sido da minha adolescência sem os riffs de “Symptom of the Universe” e “War Pigs”.

Black Sabbath no Brasil, durante show em 2013. Osbourne inclina-se e agradece o público. Foto: Robson Batista/Wikicommons
De um jeito desajeitado, a molecada da ditadura também teve a sua formação sentimental.
O Sabbath abriu caminho para ramificações inteiras: doom, death, black, thrash metal. Tudo isso começa ali, na poeira industrial da Black Country inglesa, com quatro caras que transformaram ruído, peso e melodia em algo que o mundo inteiro ainda aprende a decifrar. Era o barulho que espantava mães e fazia a gente se sentir vivo.
Hoje (22/7), o quarteto e o mundo perderam Ozzy Osbourne. O menino da classe operária que, antes de entrar de sola, quase ingênuo, numa das bandas mais importantes da história, foi auxiliar de encanador, ladrilheiro e funcionário de matadouro. Vá em paz, Ozz. Você não desistiu e ensinou ao mundo que até os tortos, como muitos de nós, podem brilhar.
Never Say Die!























