Os excelentíssimos regentes
Pressão popular, inércia governamental e a coreografia do poder na conjuntura brasileira
A praia de Copacabana estava lotada no dia 21 de setembro de 2025, um domingo. Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan e Gilberto Gil, entre outros nomes da MPB, comandavam um show-protesto contra a chamada PEC da Blindagem, que havia sido aprovada na Câmara dos Deputados, em Brasília, pouco tempo antes. O fato causou impacto tão profundo que foi capaz de unir a militância tradicional de esquerda e setores liberais, inclusive camadas médias pouco ativas politicamente. A Globo transmitia os atos pelo Brasil, notoriamente cheios, em especial nas capitais, comprovando que aquela pauta foi enterrada pelo peso das massas nas ruas.
Esse fato novo, uma pressão popular relativamente orgânica com protagonismo dos setores progressistas, alterou a curto prazo a correlação de forças: a PEC da Blindagem foi posteriormente derrotada por unanimidade em uma comissão do Senado, além de ter aberto espaço para o projeto do governo de isenção do imposto de renda até R$ 5 mil ser aprovado na Câmara dos Deputados também por unanimidade.

Sessão plenária do STF – 23/10/2025.
(Foto: Bruno Moura/STF)
O governo, apostando na tática de jogar “parado”, acabou ganhando um presente da conjuntura que o permitiu avançar em promessas de campanha, seja pelas questões internas, seja pela pressão externa exercida pela administração de Donald Trump. Porém, existem cenários ainda incertos até as eleições de 2026: o fim da escala 6×1 e a Reforma Administrativa ainda pairam no horizonte como pontos de tensão a serem resolvidos.
Enquanto isso, uma oposição acuada busca se reorganizar, e parece ter conquistado pequenos avanços, ainda que de forma tutelada: em setembro, o projeto de anistia parecia uma insanidade; hoje, já parece possível. O STF possui maioria em rejeitar a anistia. Entretanto, seu rebrading em anistia light parece quebrar essa maioria, e a corte já acenou nesse sentido. A própria indicação de Paulinho da Força para a relatoria do projeto de lei parece ter partido, com perdão do trocadilho, do interior do Tribunal. O Supremo, portanto, parece ter um interesse na “pacificação” do país para além do juridiquês, com o Gilmarpalooza garantindo o lobby empresarial anual nas principais matérias regulatórias.
O regente é aquele que rege. Não comanda, mas controla, orienta. A palavra pode aparecer em contextos diferentes. No Brasil, tivemos o Príncipe Regente, que é aquele que exerce o poder de monarca sem necessariamente possuir o título majestoso. Também pode ser sinônimo de maestro, aquele que rege uma orquestra. A depender do nível de ensaio, o regente tem um papel mais performático no momento da sinfonia. Quando ele pisa no palco, todos os músicos já sabem quais notas tocarão, os instrumentos já estão posicionados e o movimento de batutas é apenas um teatro. Ainda assim, deve estar presente para que a orquestra toque. Resta saber se o governo se contentará em ocupar o papel de violinista solo na República. Quem parece ser o maestro?
(*) Leonardo L. tem formação jurídica e em teoria do Estado. Hoje trabalha com tecnologia. Flamenguista e comunista.
(**) Bernardo Candal é flamenguista e comunista. Bacharel em direito pela UERJ, Técnico Administrativo em Educação (TAE) do Colégio Pedro II e militante sindical no Sindscope/RJ























