Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Não se trata de uma praga nem é irremediável. É possível controlá-los por meio da educação e da atenção médica. O suicídio e a depressão precisam deixar de ser tabus, como foram as doenças venéreas, a homossexualidade, os preservativos, a masturbação, as uniões estáveis, as relações pré-conjugais, os novos tipos de família, o direito a uma morte digna e à interrupção de uma gravidez indesejada ou perigosa.
A OMS recomenda “fomentar um tratamento responsável do tema nos meios de comunicação e formar os profissionais dos cuidados primários”. A entidade estuda a prevenção do suicídio em culturas diferentes, já que os fatores culturais, religiosos, históricos, filosóficos e tradicionais influem na decisão.
No entanto, alguns afirmam que escrever sobre o tema pode induzir a imitá-lo. Pois então que não escrevam sobre mortes nas estradas, alcoolismo, assassinatos, estupros, maus-tratos, prostituição, e que retirem da TV os filmes e relatos violentos.
Mais que a morte, a maioria dos que tentam o suicídio tenta chamar a atenção em um grito desesperado. Só uma pequena fração de suicídios ocorre sem aviso, e por isso as ameaças de autoflagelo devem ser levadas a sério. Como sinais, a OMS aponta rupturas afetivas e/ou econômicas; falta de comunicação ou indiferença familiar; vício em jogo, álcool e drogas; marginalização social e isolamento por opção ou forçado; doenças terminais e ameaças intensivas à dignidade pessoal; abuso sexual, maus-tratos físicos, verbais ou psicológicos; privação da liberdade; impossibilidade de substituir o objeto perdido (morte de um familiar, aposentadoria, desastre econômico); percepção da decadência geral do organismo e recusa da velhice.
O ato suicida tem “lógica” para o indivíduo e se torna a única saída, o refúgio final, para que ele pare de sofrer. Quando a ideia de culpa é angustiante, a expiação necessária se traduz em suicídio.
 “Nosso modo de vida tem algo a ver com o aumento de doentes depressivos?”, questiona o doutor C. Sisto no artigo “O Suicídio”. Ou é uma doença que agora se diagnostica mais que antes? Todo psiquiatra com longos anos de prática observa que há mais deprimidos do que antes; e é sensato supor que as condições atuais da “tarefa” de viver tornam necessárias uma exigência, competitividade, aceleração dos tempos que antes eram desconhecidas.
Há cada vez mais fatores estressantes e menos atenção médica. Isto aumenta os casos de suicídio. Falta-nos tempo para tudo: para ganhar nosso sustento, para a relação com a família, para o descanso. O sujeito se adapta, mas alguns fazem isso pagando o lento preço de um estresse cumulativo, que pode dar lugar a reações de esgotamento, ou de protesto interior, ou de um naufrágio na adaptação do ‘eu’.
Talvez a forma mais frequente desta estafa seja a depressão, vivência sombria da experiência vital. Como diz Kalina, “o tempo na sociedade atual está  contaminado”. Contaminado de urgência, de complicações, de atritos. O viver, antes tranquilo, é agora conflituoso, inseguro. Alguns sujeitos resistem e até transformam esta circunstância em fortaleza; outros claudicam. E então a depressão é a saída.  
Se a este quadro soma-se a frequente exortação à “vontade”, à obrigação de “ter energia e ânimo”, agrega-se um novo conflito a este indivíduo que carece justamente de força de vontade.
É preciso romper a crença de que a depressão é uma mera questão de atitude, pois ela confunde o doente, que tenta travar uma batalha solitária. “Falta educação e é preciso romper o preconceito contra a psiquiatria”, diz o doutor J. Molina. Contudo, desde os anos 1950, contamos com um arsenal farmacológico efetivo, e novos medicamentos indicam novos progressos. 
“Se tivessem recebido atenção psiquiátrica a tempo, muitas dessas pessoas talvez tivessem sido salvas e levassem vidas normais e tranquilas. Mas não tiveram atenção porque nem sabiam que estavam doentes.” A depressão é uma doença e tem tratamento. O problema é encontrar a ajuda, pois existe muito pouca educação a respeito.
Muita gente pensa que ir ao psiquiatra é coisa para loucos. Além disso, um estigma ronda as pessoas com depressão. Ignora-se que a depressão é uma das doenças mais comuns do mundo. É a quarta doença que mais incapacita no mundo. A depressão afeta quase todas as principais funções do sistema nervoso. Com ela, a pessoa vai perdendo a esperança e acaba incapacitada inclusive de se tratar.
“Faz sentido mostrar a cara, não mostrar o espelho”, dizia Quevedo. Estamos falando de fatos comprovados e avalizados pela OMS, não de meras opiniões.
*Professor emérito da Universidade Complutense de Madri (UCM) e diretor do Centro de Colaborações Solidárias (CCS), na Espanha.

OMS prevê 1,5 milhão de suicídios no mundo até 2020

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