Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A proliferação de armas nucleares e um possível desarmamento se encontram entre os principais temas da agenda política mundial apesar de as chamadas armas leves e portáteis (pistolas, rifles, metralhadoras leves, lança-granadas, morteiros, armas anti-tanques móveis e lança-foguetes, inclusive lança-mísseis anti-aéreos portáteis) serem as verdadeiras armas de destruição em massa. A Small Arms Survey realizou pesquisa em 2009 que confirma o crescimento contínuo do comércio global dessas armas. O valor do comércio mundial de atingiu 2,9 bilhões de dólares em 2006, um aumento de 28% desde 2000. Os Estados Unidos, aparecem como o maior exportador e o maior importador dessas armas que entre 2001 e de 2006 foram responsáveis pela morte de 450 mil pessoas.

O ano de 2010 se revela de particular importância na questão nuclear. O acordo firmado entre Rússia e os Estados Unidos sobre a redução da armas nucleares estratégicas, a publicação do relatório Nuclear Posture Review que identifica a capacidade nuclear que a administração Obama espera para os próximos quatro anos e a conferência de avaliação do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Curioso notar que os Estados que possuem armas nucleares (EUA, Rússia, França, Inglaterra e China – todos signatários do TNP – possuem 90% das armas nucleares sendo o restante distribuído entre Índia, Paquistão e Israel) são os que mais reivindicam um “mundo sem armas nucleares”.

A mídia saudou como um grande passo para a paz o encontro ( maio) entre o Nobel da Paz, Obama, e o recém admitido na “comunidade ocidental”, Medvedev, em que acordaram reduzir seus arsenais estratégicos em torno de 1550 ogivas para cada um. Especula-se que, atualmente, existam em torno de 23.000 armas nucleares, ou em outras palavras, 150 mil explosões nucleares como a de Hiroxima – não fique abismado, que é isso mesmo! Mas a “comunidade ocidental” procura tranquilizar-nos informando que são 40.000 menos que nos tempos críticos da Guerra Fria. Vamos traduzir em números, mais uma vez. O que eles nos dizem é: durante a guerra fria a capacidade nuclear existente poderia destruir o mundo centenas de vezes. Portanto, agora pode-se acalmar que os lideres mundiais, que são muito racionais, informam que fizeram um acordo e o mundo poderá ser destruído apenas algumas dezenas de vezes.

O governo Obama apresentou a sua reformulação da estratégia nuclear como algo completamente revolucionário. Agora, diferentemente da era Bush, ao invés de reservar a possibilidade de ataques nucleares, em resposta a um ataque nuclear, ou um ataque por outras formas de destruição em massa (como armas químicas e biológicas) os EUA declaram que o papel fundamental de seu arsenal é impedir eventuais ataques nucleares ao pais e seus aliados. A chamada revisão da estratégia declara que “os EUA não pode usar ou ameaçar usar armas contra os não-nucleares que fazem parte do tratado de não proliferação nuclear, ou seja Irã e Coreia do Norte ainda se constituem em um possível alvo.

Absurdo

Pergunto se agora algum lugar do mundo se sente seguro com esta nova declaração no caso de uma crise ou uma guerra com o envolvimento dos EUA. Você sabe realmente quando ou como um Estado nuclear poderá realmente usar o seu arsenal para proteger seus interesses? Você acha que é razoável correr esse risco?

Além disso, a decisão de excluir Estados com armas nucleares, não-signatários do TNP, parece contraproducente como bem assinalou o especialista Stephen Walt. Pois, se o Irã continua a ser um alvo nuclear, mesmo quando não tem suas próprias armas isso apenas poderá dar incentivos adicionais para perseguir uma opção das armas nucleares pelos mesmos argumentos que os EUA justificam em ter o seu próprio arsenal.

Se o governo dos EUA acredita que o papel fundamental das armas nucleares é impedir um ataque, e agora diz que ainda reserva a opção de usar armas nucleares contra o Irã, então não seria razoável concluir que o Irã ou qualquer outro país, da mesma forma, poderia usar um arsenal nuclear para sua segurança cujo papel fundamental seria o de impedir que os EUA façam isso? Creio que, nesse terreno, estamos mais próximos do Teatro do Absurdo do que propriamente da política internacional.



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*Reginaldo Nasser é professor de Relações Internacionais da PUC-SP. Artigo originalmente publicado pela Agência Carta Maior.

O Teatro Nuclear

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