Matando a esperança: por que Israel ataca o esporte na Faixa de Gaza?
Pela segunda vez em três anos a infraestrutura de um estádio desportivo foi bombardeada por mísseis e destruída
Vamos começar com um fato. Nesta sexta-feira (16/11), a Força Aérea israelense bombardeou o Estádio da Palestina de 10 mil lugares e o deixou em ruínas*. O estádio também sediava o centro de programas de esportes para jovens em toda a Faixa de Gaza. Esta é a segunda vez que Israel destruiu o estabelecimento. A primeira foi em 2006 e as pessoas de Gaza passaram os últimos seis anos reconstruindo os campos, arquibancadas e escritórios para manter a equipe nacional de futebol, bem como o clube desportivo vivos na região.
Ismael Fadel

Palestinos observam Estádio da Palestina, com mais de 10 mil assentos, destruído após bombardeio israelense
Tenho certeza de que a reação a este fato vai depender do lado que as pessoas tomam no conflito atual. O governo israelense e seus apoiadores prometeram “punição coletiva” após o lançamento de foguetes do Hamas e estão entregando “punição coletiva”. Matan Vilnai, vice-ministro da Defesa de Israel, no passado, ameaçou um “holocausto” e Gilad Sharon, filho do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, pediu que Gaza se torne a nova “Hiroshima”. Para eles, uma instalação desportiva deve parecer pouco mais do que a prática de alvo.
Para aqueles que frequentam diariamente manifestações contra a carnificina, esta notícia da destruição de um estádio também deve ser vista como irrelevante. Afinal, estima-se que pelo menos 110 palestinos, incluindo 50 civis, foram mortos em Gaza até o momento e 225 crianças estão entre os mais de 700 feridos. E estes números apenas estão subindo. Tropas terrestres israelenses estão se concentrando na fronteira e o presidente norte-americano Barack Obama só pode se manifestar para defender Israel sem críticas.
Acredito, no entanto, que todos nós devemos tirar um momento para nos perguntar: Por quê? Por que a infraestrutura esportiva palestina, para não mencionar os atletas palestinos, sempre foi um alvo dos militares israelenses? Por que a Liga de Futebol Nacional Palestina completou apenas sete temporadas, desde a sua fundação, em 1977? Por que os jogadores são, normalmente, sujeitos a assédio e violência, para não mencionar toques de recolher, postos de controle e todos os tipos de restrições legais a sua movimentação? Por que os jogadores da seleção Ayman Alkurd, Shadi Sbakhe e Wajeh Moshate foram mortos pelas Forças de Defesa de Israel durante a operação militar de 2009? Por que o jogador da equipe nacional Mahmoud Sarsak teve de fazer greve de fome, ganhar a solidariedade internacional da Anistia Internacional, e um protesto formal da FIFA e dos 50.000 jogadores da FIFpro para ganhar a sua liberdade depois de três anos atrás das grades?
A resposta é simples: o esporte é mais do que amado em Gaza (e ele é amado); é uma expressão da humanidade para aqueles que vivem sob a ocupação israelense. Não é só futebol e meninos, todo mundo joga. Handebol, vôlei e basquete estão junto com o futebol entre as escolhas mais populares. É um modo de vida ter a reunião de milhares de pessoas para assistir a um evento esportivo de meninas. É um evento da comunidade concebido não apenas para alegrar os do campo, mas também aqueles das arquibancadas. Como um palestino de Gaza me disse: “É a nossa hora de nos esquecermos onde estamos para nos lembrarmos de quem somos”.
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Bombardear a infraestrutura atlética é atacar a ideia de que esta alegria, esta normalidade ou esta humanidade pode fazer parte da vida de uma criança palestina. Esta é uma crítica a Israel tanto internacional quanto domesticamente. A única forma que o governo israelense e seus aliados podem continuar a agir com desrespeito descarado com a vida civil é convencer o mundo de que seus adversários são menos do que humanos. Os anúncios de metrô chamando os muçulmanos de “selvagens”, os cartoons islamofóbicos e vídeos que são apresentados como exemplos de liberdade de expressão fazem parte de uma colcha de retalhos que diz que algumas mortes não devem ser lamentadas.
Esperança
No nível nacional, atacar esportes não é nada menos do que matar a esperança. A guerra total de Israel, apoiada pelos Estados Unidos, é uma guerra não só contra o Hamas ou instalações militares, mas à ideia de que a vida pode ser tão despreocupada em Gaza que envolva o jogo. O objetivo é ouvir essas palavras de uma jovem que permanecia no lado de fora do Hospital Al Shifa neste domingo (18/11): “Para o mundo e as pessoas: Por que devemos ser mortos e por que não podemos ter uma infância normal? O que podemos fazer para enfrentar tudo isso?”.
Se você jogar, você pode sonhar. Se você sonha, você imagina um mundo melhor. Como a atleta olímpica Wilma Rudolph disse: “Nunca subestime o poder dos sonhos e da influência do espírito humano. O potencial de grandeza vive dentro de cada um de nós”. Nada marca tão bem o niilismo do projeto de Israel como este fato: eles não querem que o povo de Gaza sonhe. Aos olhos de Benjamin Netanyahu, os palestinos são apenas dignos de pesadelos.
*As Forças de Defesa de Israel, desde então, afirmam que os foguetes do Hamas eram disparados do campo de futebol. Isto é não verificado e eles continuam a única fonte a alegar isso.
** Artigo publicado, originalmente, no The Nation























