Segunda-feira, 22 de dezembro de 2025
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Em dezembro de 2011, a diretora do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, em visita oficial à Nigéria cobriu de elogios o modelo econômico adotado naquele país. As palavras de incentivo e reconhecimento da diretora do FMI foram amplamente reproduzidas, afinal, o país apresenta números importantes, a saber: o PIB (Produto Interno Bruto) apresentou um crescimento de 7% em 2011, a produção de petróleo é a maior da África e quando falamos em PIB per capita o valor ultrapassa os dois mil dólares.

Naturalmente, quando observamos o PIB per capita, devemos considerar que existem membros da elite local e internacional apropriando-se, individualmente, da quota-parte de pelo menos mil cidadãos pobres, gerando um quadro real de pobreza absoluta, ocupando o país africano o 158º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

Efe

A diretora-gerente do FMI, Cristine Lagarde, mostra sua bolsa no Fórum de Davos para pedir mais contribuições

Madame Lagarde conhece perfeitamente estes problemas e antes de visitar a Nigéria mandou publicar no site oficial do FMI: “Um novo projeto de processamento de petróleo e urânio está pronto para impulsionar o crescimento econômico da Nigéria no próximo ano (2012)”.

Mas qual seria este novo projeto? De modo concreto observou-se, três dias após a visita da diretora do FMI, um gigantesco derramamento da Shell, poluindo 120 quilômetros do litoral nigeriano. Fato em nada novo na história daquele país. O “novo projeto”, ao que parece, preservou a mesma fórmula de extração predatória, procurando o maior lucro negando-se as mínimas condições de segurança.

A preocupação de madame Lagarde certamente não está nas condições de vida do povo nigeriano. O FMI está de olho no crescimento da dívida externa do maior produtor de petróleo africano, cujo volume não para de crescer, ameaçando o fluxo de recursos para os bancos europeus e estadunidenses.

Para garantir o pagamento dos títulos aos bancos, o governo, dentre outras medidas, cortou o subsídio dos combustíveis, gerando um aumento absurdo nos preços dos alimentos e transportes.

A reação da população não poderia ser outra a não ser a convocação de uma greve geral, somada à revolta em diferentes pontos do país, obrigando a um tímido recuo do governo em seus atos antipopulares.

Lagarde no Brasil

A diretora do FMI esteve no Brasil no mesmo mês de dezembro de 2011 e seguiu rigorosamente o script. Elogiou o modelo econômico nacional e declarou que o país pode servir de exemplo para as potências em crise.

Obediente, o governo brasileiro não demorou em dar o exemplo. Somando-se aos cortes rotineiros à Educação e Saúde, o ministro Edison Lobão anunciou a decisão da presidente Dilma Rousseff que autoriza os novos leilões para o setor petrolífero neste ano de 2012.

A exploração predatória do petróleo no Brasil está em marcha e segue o modelo internacional no qual as normas de segurança tornam-se supérfluas, conforme prova o vazamento da Chevron, somado ao aumento de acidentes envolvendo os trabalhadores do setor.

Brasil, Nigéria e segurança energética

A política econômica do petróleo no Brasil segue os passos do entreguismo, sendo que o mesmo ocorre na Nigéria. Existem grandes diferenças entre os dois países, é evidente. Entretanto, igualam-se na abdicação do uso do poder econômico do petróleo em benefício do desenvolvimento nacional.

O Brasil garante com seu modelo de exploração petrolífera a compra dos títulos das empresas europeias e norte-americanas, tudo isso intermediado pelos bancos internacionais. Este é o exemplo que madame Lagarde aponta e de forma patrioteira a grande imprensa alardeia com todo apoio do governo. Neste momento não existe PIG?

Somados a esta questão, existe ainda a ameaça de uma guerra de proporções mundiais envolvendo as intenções dos Estados Unidos de controlar o petróleo do Irã, principal fornecedor de petróleo para o governo da China.

E o Brasil? Na hipótese, não muito remota, de uma crise de abastecimento em função do fechamento do Estreito de Ormuz e consequente elevação dos preços do petróleo, continuará de mãos amarradas, impedido de implantar uma política que atenda aos interesses nacionais?

Lembre-se: a atual política econômica do petróleo retirou da Petrobras o monopólio, existindo inúmeros entraves em função da abertura do mercado nacional e a fixação de preços desconsiderando-se o preço internacional. É exatamente isso que acontece na Nigéria.

* Wladmir Coelho é mestre em Direito, historiador e membro do Conselho Curador da Fundação Brasileira de Direito Econômico. Escreve no blog Politica Econômica do Petróleo. Texto publicado originalmente no site Correio da Cidadania.

Apesar dos elogios, preocupação do FMI não é o bem-estar dos povos, mas o crescimento da dívida do petróleo

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