Haiti, Chile e as lições de mais um tsunami de verão
Haiti, Chile e as lições de mais um tsunami de verão
O Brasil que hoje lidera quase 10 mil militares de 19 países no Haiti e enviou um helicóptero gigantesco de resgate para socorrer as vítimas do terremoto de fevereiro no Chile é o mesmo que enterrará nos próximos dias mais de 500 cidadãos cujos corpos foram arrastados por um verdadeiro tsunami de lama e escombros no Rio de Janeiro e em São Paulo, duas das principais metrópoles do mundo.
A tragédia brasileira tinha data e local para acontecer, ao contrário das ondas gigantes e do terremoto de 8,8 graus na Escala Richter que matou quase 500 chilenos há um ano. E, apesar da previsibilidade das enxurradas de verão, que todos os anos provocam prejuízos bilionários, nada é feito aqui para evitar que o modo brasileiro de prevenção e resposta às tragédias se assemelhe ao despreparo haitiano, que cobrou mais de 200 mil vidas num terremoto de magnitude “moderada”, de “apenas” 7 graus, em janeiro de 2010.
Do ponto de vista das vítimas, não existe diferença entre estas três tragédias. Mas, em cada um destes casos, as respostas dos governos e das sociedades variaram tremendamente. O Chile – habituado aos terremotos, erupções vulcânicas e maremotos – treina cada um dos estudantes do país, desde o jardim de infância, a adotar procedimentos de emergência em casos de tremores. Cidades chilenas que estão aos pés de vulcões ativos têm nas ruas semáforos que mudam de cor de acordo com as variações de ânimo da lava e balneários localizados em zonas suscetíveis a maremotos têm, além das placas comuns de trânsito, letreiros de segurança, que indicam as vias seguras de evacuação em caso de avanço da maré.
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O Haiti é o oposto disso. Mesmo em circunstâncias normais, o país mais pobre das Américas não tem condições de garantir a própria sobrevivência, embora as circunstâncias normais, nesse caso, signifiquem pobreza extrema, ação de gangues armadas, deposições, golpes de Estado, fome e epidemias.
Mas o Brasil é diferente. Mescla recursos estruturais, financeiros e humanos superiores aos do Chile com a precariedade, a irresponsabilidade e o planejamento miserável dos haitianos, com o agravante de que, aqui, a catástrofe se repete de forma mais ou menos semelhante todos os anos. É certo que algumas medidas poderiam ser adotadas aqui a partir deste verão: leis de zoneamento urbano mais conseqüentes, adoção de mecanismos eficientes de alerta em casos de catástrofes que possam ser previstas pelos serviços meteorológicos, determinação das rotas de evacuação em zonas de risco, fortalecimento da capacidade de resposta dos serviços de Defesa Civil e dos corpos de bombeiro, criação de mecanismos eficientes de amparo às vítimas e mutirões de assessoria jurídica às famílias que cobrem reparação tanto de seguradoras privadas quanto do Estado.
Mas há uma idéia que aparece apenas de forma tímida em alguns círculos restritos: a criação de um serviço civil obrigatório, que sirva de alternativa aos jovens que por qualquer razão não possam ou não queiram prestar o serviço militar obrigatório aos 18 anos. A medida criaria uma força de emprego rápido, capaz de funcionar dentro dos protocolos específicos exigidos em emergências complexas como esta. De forma grosseira, seria algo não muito diferente da convocação que a Justiça Eleitoral faz a seus mesários em períodos eleitorais. Talvez, com debates assim, comecemos a caminhar do modelo haitiano para algo mais próximo do que há no Chile, onde, há duas semanas, um novo terremoto, de 7 graus na Escala Richter, sacudiu a Região da Araucania sem deixar nenhuma vítima.
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