Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Frente Negra Brasileira (FNB) foi uma organização negra fundada em 1931 que atuou até 1937, com o golpe de Getúlio Vargas e a instauração da ditadura do Estado Novo no Brasil. Uma de suas principais bandeiras de luta era pela instrução da população negra através da educação. De acordo com o professor Petrônio Domingues:

“O maior e mais importante departamento da FNB foi o de Instrução, também chamado de Departamento de Cultura ou Intelectual. Era o responsável pela área educacional da FNB. Um de seus motes propagandísticos conclamava: ‘Eduquemos mais e mais os nossos filhos, dando-lhe uma educação e uma instrução de acordo com as suas aspirações’ (A Voz da Raça, 28 out. 1933, p. 2). O conceito de educação articulado pela entidade era amplo, compreendendo tanto o ensino pedagógico formal quanto a formação cultural e moral do indivíduo. A palavra educação era usada frequentemente com esses dois sentidos. Já a palavra instrução tinha um sentido mais específico: de alfabetização ou escolarização.”[1]

Seus membros acreditavam na educação como principal arma na “cruzada” contra o “preconceito de cor”, capaz de proporcionar a inserção da população negra na sociedade e garantir a cidadania plena. A instituição trazia a educação com frequência na veiculação de um dos mais importantes jornais da imprensa negra da época, o A Voz da Raça. Para Domingues:

“A instrução foi uma das questões mais pautadas da FNB: ‘A instrução bem disseminada na raça será a maior e a mais importante conquista desta entidade’ (A Voz da Raça, set. 1936, p. 4). Em quase todas as edições do jornal da FNB encontra-se alusão ao quadro de carência educacional da população negra e à necessidade de ela instruir-se.”[2]

A perspectiva da organização autônoma de entidades negras por educação é de crucial importância para pensarmos a modernidade. A invisibilização e a negação históricas impostas à história da população negra no Brasil resultaram em experiências de resistência que possibilitaram agências políticas, como no caso da aprovação da lei 10.639 de 2003, que obriga o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas. Acreditamos, em diálogo com Nilma Lino Gomes[3], no Movimento Negro enquanto educador, produtor e sistematizador de saberes emergentes da experiência e da agência da população negra[4].

(Foto: Rawpixel)

Os novos desafios do mundo moderno envolvem uma educação para as relações étnico-raciais que se contraponha ao movimento atual da exclusão das contribuições negras no mundo digital: o algoritmo. 

A Frente Negra online é um coletivo idealizado por Ruth Lopes e formado por criadores de conteúdo de páginas pretas e personalidades relevantes para a temática racial. Seu principal objetivo é se contrapor às limitações impostas pelo algoritmo, que invisibiliza as produções de criadores de conteúdo a lógicas pouco transparentes que perpetuam as desigualdades sociais no Brasil e no mundo, em especial o racismo. O algoritmo é criado e programado por pessoas brancas, funcionários das grandes big-techs, as empresas de tecnologia donas das grandes redes sociais, e dessa maneira está fadado a reproduzir em suas programações as visões de mundo dessas pessoas. 

O movimento Frente Negra Online agora reúne cerca de 190 criadores que juntos somam mais de 60 milhões de seguidores e mais de 200 milhões de pessoas alcançadas com suas publicações. A representação cobre os 26 Estados da Federação e o grupo conta com profissionais liberais, jornalistas, professores, artistas, atletas e outros, que diariamente produzem conteúdo para as redes sociais. Se falamos da educação como tema principal da Frente Negra histórica e reafirmarmos o saber de que “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, podemos renovar as afirmativas para a luta atual da Frente Negra Online e afirmar que “é preciso um Quilombo inteiro para reeducar a sociedade brasileira e lutar contra o racismo algorítmico”.

Você pode conhecer mais sobre o movimento no Instagram @frentenegraonline_oficial e @opiniaodapreta e consumindo o conteúdo de páginas de criadores e criadoras de conteúdo pretos nas redes sociais. 

Notas:
[1] DOMINGUES, Petrônio. Um ‘templo de luz’: Frente Negra Brasileira (1931-1937) e a questão da educação. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 39 set./dez. 2008. p. 522.
[2]  Idem. p. 523.
[3]  Pedagoga/UFMG, mestra em Educação/UFMG, doutora em Antropologia Social/USP e pós-doutora em Sociologia/Universidade de Coimbra. Integra o corpo docente da pós-graduação em educação Conhecimento e Inclusão Social -FAE/UFMG. Foi Coordenadora Geral do Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão Ações Afirmativas na UFMG (2002 a 2013) e, atualmente, integra a equipe de pesquisadores desse Programa. Integrou a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (gestão 2010 a 2014). Foi reitora Pró-Tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB (2013-2014). Foi Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial -SEPPIR – (2015) e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos (2015-2016) do governo da presidenta legitimamente eleita, Dilma Rousseff. Fonte: http://lattes.cnpq.br/7444449891704854 – último acesso em 10/02/2019
[4]  GOMES, Nilma Lino. Movimento negro, saberes e a tensão regulação-emancipação do corpo e da corporeidade negra. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 2, 2011. p. 46.