Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Professores e estudantes das escolas de São Paulo estavam apreensivos com a volta às aulas no último dia 28 de julho. Isso porque tudo indicava que nesta data teríamos a presença de policiais nas mais de 100 unidades escolares que entraram no projeto fascista de militarização aprovado pelo governo. Entretanto, a pressão popular conquistou uma nova decisão judicial que suspendeu o edital de contratação dos policiais. Um alívio certamente, mas ainda não representa o fim dos problemas nas escolas: a educação pública está ameaçada por uma onda neoliberal que soma medidas de privatização, desmonte da carreira dos professores, reformulação dos modelos pedagógicos, implementação de plataformas digitais e autoritarismo com estudantes e funcionários.

Não faltam motivos para lutar por melhores condições de ensino e por isso milhares de estudantes brasileiros, reunidos no 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), que ocorreu em Goiânia nos dias 16 a 20 de julho, aprovaram a data nacional de lutas para o dia 11 de agosto.

São Paulo - Alunos de escolas técnicas estaduais protestam contra desvios de merenda escolar e contra os cortes nos Centros de Ensino Técnico, em abril de 2016. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

São Paulo – Alunos de escolas técnicas estaduais protestam contra desvios de merenda escolar e contra os cortes nos Centros de Ensino Técnico, em abril de 2016. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Autoritarismo nas escolas serve para reprimir os grêmios

A Lei do Grêmio Livre (Lei nº 7.398 de 1985) garante a organização dos estudantes secundaristas nas suas escolas e assegura a autonomia das suas entidades representativas. Entretanto, essa não é a realidade em todas as escolas brasileiras. De fato, existem grêmios estudantis em apenas 14% das escolas públicas, conforme levantamento da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. A consequência inevitável da baixa presença dos grêmios nas escolas é a dificuldade na organização estudantil que forma jovens conscientes para defender seus direitos nas salas de aula e na vida. Não há dúvidas de que esse dado está diretamente ligado ao aumento do autoritarismo.

Em São Paulo, representantes das entidades estudantis relatam abusos e repressão por parte das direções sob orientação da Secretaria Estadual de Educação. “Na campanha de conscientização sobre a privatização e a militarização do ensino, chegaram a chamar a polícia para nos impedir de passar nas salas de aula e fazer reuniões dentro da escola” relata Ana Leite, presidente da Associação Regional de Estudantes do ABC Paulista (ARES-ABC) e diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).

Por outro lado, se tornou comum que a própria direção da escola assuma o processo de organização dos grêmios, controlando a eleição do início ao fim e ferindo a autonomia dos estudantes. Para Ana, “a ajuda da escola não seria exatamente um problema, mas o que tem acontecido é que algumas direções impedem chapas consideradas ‘questionadoras’ de se inscreverem para participar da eleição, proíbem a passagem em sala e a distribuição de panfletos e chegam até mesmo a suspender alunos da diretoria do grêmio por ‘mal comportamento’. Em outros casos, a direção exerce uma tutela dos grêmios, transformando-os em meros zeladores da escola. Imagine como vai ser com um policial aqui dentro?”

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Esse contexto faz parte de um processo que precisa suprimir a organização estudantil e sindical para implementar sem questionamentos os projetos do governador e dos empresários na educação.

Plataformização atende aos interesses privados

Como tudo nessa vida tem explicação, professores e estudantes querem entender o motivo da pressa do governo em implementar uma enxurrada de novas plataformas digitais no ensino, sendo que muitas vezes ainda faltam recursos básicos, como papel higiênico e sabonete nos banheiros, nas salas há goteiras e aulas são canceladas pela falta de ventiladores. 

De fato, há uma grande insatisfação com a plataformização nas escolas: professores sentem-se pressionados a atender um ritmo de trabalho sobrehumano, que consiste em avaliações a partir do tempo de acesso às plataformas e metas de atividades por aluno/semana, além de terem a sua liberdade de cátedra tolhida pela adoção de aulas preparadas com inteligência artificial. Essas ferramentas privadas custam uma fortuna ao Estado e, apesar de aparentarem um avanço tecnológico necessário, na realidade têm rebaixado a qualidade do aprendizado dos nossos jovens. 

A coincidência por trás dessa grande inovação tecnológica é que Renato Feder, além de ser o atual Secretário Estadual de Educação de São Paulo, é também acionista da empresa Multilaser, que tem contratos com o governo paulista que fornecem os computadores para o setor de educação. 

No 11 de agosto a aula é na rua

Em resumo: a militarização não foi completamente enterrada, a plataformização do ensino é um aspecto da privatização e o governo tenta minar a organização estudantil com autoritarismo nas escolas. Tudo isso somado às péssimas condições estruturais das salas de aula e à falta de professores indicam que a crise da educação se agrava cada dia mais.  

No Dia do Estudantes, a juventude vai às ruas para exigir que sua voz seja ouvida e mostrar para a sociedade que a educação e o nosso futuro estão ameaçados pelas garras do fascista Tarcísio de Freitas.

(*) Isis Mustafa é dirigente do partido Unidade Popular pelo Socialismo.