Domingo, 7 de dezembro de 2025
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Barack Obama e os democratas que ele liderou em uma vitória formidável há dois anos estão caindo diante de uma crise econômica que ele não ajudou a criar, mas tampouco conseguiu resolver. Isso é um pouco injusto, pois a principal responsabilidade é de seus antecessores, Bill Clinton e George W. Bush, que soltaram os touros de Wall Street nas ruas onde viviam as pessoas comuns. E houve apoio universal republicano no Congresso à desregulamentação radical da indústria financeira que produziu esse fiasco.

A questão central para a economia é o custo continuado da bolha imobiliária que só se tornou possível depois que a “segurança legal” – alardeada como uma necessidade por Lawrence Summers, secretário do Tesouro de Clinton – foi garantida a pacotes de derivativos compostos por hipotecas subprime e Alt-A. Foi a Lei de Modernização dos Mercados Futuros de Commodities, redigida pelo senador republicano Phil Gramm e sancionada por Clinton, que legalizou o tráfico de pacotes de hipotecas residenciais duvidosas. Em qualquer sociedade decente, a criação dessas hipotecas insustentáveis e a “securitização” do risco irracionalmente associado a elas teriam sido qualificadas de esquema criminoso. Mas tal julgamento não foi possível porque, graças ao poder de Wall Street nos governos de Clinton e Bush, os banqueiros reescreveram as leis para sancionar sua traição.

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A ameaça ao legado de Obama – para não mencionar o bem-estar econômico da nação – está em sua complacência com os financistas e sua relativa indiferença diante do sofrimento do cidadão comum. Houve mais de 300 mil registros de execuções hipotecárias para cada mês de presidência de Obama. E, como disse o jornal The New York Times em editorial, “infelizmente, não há sinais de que os esforços do governo Obama para tratar do problema das execuções hipotecárias terão algum resultado significativo”. O jornal observou que o principal programa do governo foi um fracasso: da verba alocada de 30 bilhões de dólares, apenas 321 milhões de dólares foram gastos para ajudar as pessoas a permanecer em suas casas.

A triste realidade de que apenas 398.198 hipotecas foram modificadas para tornar os pagamentos mais razoáveis pode ser explicada pelo fato de o programa ter se baseado na esperança de que os bancos fariam a coisa certa. Por um lado, Obama continuou a prática de Bush de distribuir dinheiro para salvar as instituições financeiras; por outro, ele não exigiu uma moratória das execuções hipotecárias e nem pediu o aumento do poder dos tribunais de falência para forçar os bancos, que criaram o problema, a ajudar os proprietários residenciais em apuros.

O assunto das execuções de hipotecas residenciais é naturalmente maçante – a não ser que você possua uma residência com a dívida executada, caso em que a vida de sua família terá virado do avesso. Mas poucos entre os bem pagos comentaristas da televisão estão nessa posição e, por isso, a tragédia que atingiu 4 milhões de famílias nos últimos dois anos passou quase despercebida.

Mas até mesmo esse grupo de comentaristas altamente privilegiados já deve saber que as execuções hipotecárias estão por trás da notícia, divulgada terça-feira, de que as vendas de casas nos EUA atingiram o nível mais baixo em 15 anos e uma recuperação econômica é improvável sem uma reviravolta dramática no mercado de imóveis residenciais. O mercado de ações despencou terça-feira em meio a notícias de que as vendas de casas nos EUA haviam diminuído 25,5% em um ano.

Ideia paralisante

Quando residências sofrem execução em um bairro, o patrimônio dos vizinhos que pagam pontualmente suas hipotecas é reduzido. E quando os bancos despejam novamente no mercado essas propriedades executadas, os preços caem ainda mais. No entanto, o governo ofereceu a mais tépida resposta para estancar o furioso sangramento do valor do patrimônio residencial. Míseros 4,1 bilhões de dólares foram alocados para que os Estados ajudem os desempregados e outros devedores em apuros a continuar em suas casas. Compare-se isso com os trilhões gastos para tornar a indústria financeira superlucrativa de novo.

Não há como Obama começar a reverter esse curso sem mudar a equipe econômica liderada pelos “especialistas” da era Clinton, como Summers e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que nos meteram nessa confusão. Eles são assombrados por uma ideia altamente paralisante – a de que não podemos incomodar os titãs das finanças, dos quais dependemos para investir. Mas quando se trata de manter as pessoas em suas casas, são justamente os grandes bancos que precisam ser incomodados para que façam a coisa certa.

Obama ganhou credibilidade ao demitir o general Stanley McChrystal por fazer comentários infelizes. Por que não demitir Summers e Geithner pelas políticas infelizes que têm causado tanta miséria à população?

*Robert Scheer é jornalista e professor, autor de The Great American Stickup: How Reagan Republicans and Clinton Democrats Enriched Wall Street While Mugging Main Street. Artigo originalmente publicado em TruthDig, em que o autor, editor-chefe, mantém uma coluna semanal. Tradução: Alexandre Moschella.





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Especuladores financeiros: ou eles, ou Obama

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