Dina Boluarte, um impeachment express no Peru
Quando Dina Boluarte é substituída por José Jerí, nada muda no Peru. O único que ocorreu foi uma limpeza profilática no mais puro estilo da máfia
Quando tudo parecia indicar o naufrágio do regime político administrado pela coalizão mafiosa (Legislativo + Executivo) no Peru, surgiu a figura do impeachment express aplicado a Dina Boluarte, presidente figurativa, para acalmar a ira popular expressa nas ruas durante dias e semanas antes da reação “saudável” do “Congresso de delinquentes” que governava o Peru e seguirá fazendo-o com seu novo esbirro, José Jerí Oré, que substituiu Boluarte.
Quem é o novo presidente do Peru? Como dizem nesse país, é uma “joia” que tem todo o perfil exigido pela máfia política que controla o Congresso e o Executivo, bem como todas as instituições tutelares do Estado.

Dina Boluarte, a recém-destituída presidente do Peru.
(Foto: Presidencia Perú)
Jerí é um amante dissipado e obsceno de diversões “proibidas” que nem mesmo as restrições em tempos de COVID conseguiram deter. Em fevereiro de 2022, ou seja, em plena terceira onda da pandemia, ele foi fotografado no bar Elephant, em Miraflores, acompanhado por uma funcionária de seu gabinete que, mais tarde, diria que o fazia para não “contrariar” seu chefe. Em janeiro de 2025, ele foi denunciado por violação sexual na Casa Club Santa Rosa de Quives e recebeu a “condenação” de “tratamento psicológico” por “comportamento sexual patológico”. Seu partido, Somos Perú, suspendeu sua filiação, mas ele não cumpriu a ordem judicial e a Procuradoria da Nação o acusou do crime de desobediência à autoridade.
Além disso, em consonância com o acima exposto, ele é um entusiasta do enriquecimento ilícito, pois em poucos anos seu patrimônio pessoal aumentou mais de 1000%: de quase 100 mil soles de “fortuna pessoal” que possuía no final de 2021, passou a ter mais de um milhão de soles em 2024.
E a saga continua em linha com os comportamentos anteriormente narrados. Jerí, de acordo com evidências públicas da época, teria recebido um suborno de 150 mil soles da empresária Blanca Ríos em novembro de 2023, favorecida com recursos para projetos em Cajamarca, em momentos em que Jerí presidia a Comissão de Orçamento no Congresso da República.
Ou seja, uma joia autêntica. Por isso, quando o “Congresso de criminosos” substitui Dina Boluarte por José Jerí, na verdade, nada muda. O único que ocorreu foi uma limpeza profilática no mais puro estilo da máfia. Não houve uma mudança a favor do Peru, o que houve foi um cálculo político desastrado, uma divisão grosseira do poder e desespero para evitar que todo o barco afunde, pelo menos até julho de 2026.
Em toda essa precipitação, prevalece o espetáculo que beira o morboso, com o cinismo e os interesses criminosos que os motivam. Se Jerí permanecer no cargo presidencial, virão, sem dúvida, mais isenções fiscais para a elite econômica e financeira, patrocínio a universidades de baixa qualidade que destruíram a qualidade da educação, se continuará favorecendo o monopólio no comércio de fármacos e medicamentos, os setores populares continuarão abandonados e marginalizados do “milagre peruano”, o Tribunal Constitucional e a Defensoria continuarão sendo corredores da máfia política, etc.
Esse panorama sombrio, no entanto, não abalou o espírito de luta do povo peruano. Ele continuará nas ruas pedindo a renúncia de Jerí e a formação de um Governo Transitório que garanta um processo de transferência do poder político em condições de transparência e justiça nas eleições de 2026. Nunca como agora se torna tão válido e amplificado o ditado “somente o povo salvará o povo”. Daí os slogans que começam a encher as ruas e praças: “enquanto os corruptos e mafiosos continuarem no poder, a luta continua”, “que todos se mandem”, “nem perdão nem esquecimento para Dina e seus cúmplices do Congresso” e que seja formado um “Governo Transitório de emergência”.























