Quarta-feira, 24 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

 

Nas próximas horas, o Senado do Paraguai irá votar o impedimento do presidente Fernando Lugo. Trata-se de um processo sumário, a toque de caixa, comandado pelas forças conservadoras que detêm maioria parlamentar. Lembra muito o episódio hondurenho. Nos dois casos, as oligarquias aproveitaram-se de seu controle sobre instituições de Estado para uma intentona contra a democracia com um verniz de legalidade.
 
Por pouco, em 2005, o Brasil não viveu situação semelhante. A oposição, porém, mesmo encorajada pela mídia tradicional, não teve peito para enfrentar o presidente Lula e correr o risco da resistência nas ruas. Mas a direita paraguaia, particularmente encarnada no velho Partido Colorado do falecido ditador Alfredo Stroessner, está apostando em uma empreitada da qual fugiram seus congêneres tupiniquins.

Deter o golpe institucional no Paraguai é a prova de fogo da Unasul

NULL

NULL

 

Há reação popular nas ruas de Assunção. Mas esse esforço de resistência pode não ser suficiente para deter o golpe em curso. Uma cartada fundamental será jogada desde o exterior, a partir das ações e inações da União de Nações da América do Sul, a Unasul. Uma delegação de chanceleres foi despachada à capital paraguaia para protestar contra o levante antidemocrático.
 
Se falar grosso e colocar os golpistas em seu devido lugar, a Unasul terá sucesso em seu batismo diplomático. Caso mie como um gatinho, adotando um discurso pasteurizado e anódino, vai passar vergonha e envelhecerá antes da hora. Trata-se, afinal, de demonstrar que é antípoda da Organização dos Estados Americanos, a OEA, o ministério da colonização a serviço da Casa Branca, como certa vez foi qualificada por Fidel Castro. Aliás, alguém quer apostar qual será o comportamento dos EUA e seus afilhados continentais?
 
Por enquanto, o bom exemplo veio do presidente boliviano Evo Morales, que deu nome aos bois e denunciou a ação em curso como um golpe institucional. O mau passo foi dado pelo Itamaraty, que publicamente não manifestou mais que sua “apreensão” pelos acontecimentos, em uma linguagem empolada e hesitante. Rapidinha em ceder às pressões fundamentalistas do Vaticano contra os direitos das mulheres, a diplomacia brasileira parece cheia de cuidados quando é o momento de matar a cobra do golpismo.
 
Não há tempo a perder. Os diplomatas, se necessários, devem ser atropelados pelos dirigentes políticos e pelos estadistas. O recado tem que ser curto e grosso: se o presidente Lugo for derrubado, seus eventuais e ilegitimos sucessores serão tratados como párias, condenados ao mais duro isolamento e caçados como inimigos da democracia.